segunda-feira, 1 de junho de 2009

Orquestra do Coque ganha mais projeção



O Teatro da UFPE estava repleto de integrantes da sociedade pernambucana, reunida para a entrega do 5º Prêmio Odebrecht de Engenharia. Se as estrelas da noite foram os três futuros engenheiros agraciados com a comenda, a "cereja do bolo" foi um show promovido especialmente para a ocasião, em que a Orquestra Cidadã dos Meninos do Coque receberam três convidados de peso: Dominguinhos, Yamandú Costa e Silvério Pessoa. Imagens e sons do encontro foram documentados para gerar um CD/DVD com renda revertida para a manutenção do projeto.

O namoro entre a Orquestra Cidadã com uma das maiores empreiteiras do País começou na Bahia, quando o presidente Lula pediu ao presidente da empresa para apoiar o projeto. O primeiro compromisso é a construção de uma sede própria. "Sempre que abraçamos um projeto procuramos deixar algo de sustentabilidade", disse Érico Dantas, diretor de engenharia da Odebrecht e curador do evento. Ele disse à reportagem que conhece a realidade do Coque, pois há25 anos trabalhou no local para a construção do metrô. "Meu canteiro de obras era dentro do Coque". E que o "caso" da Orquestra deve ser transformado em "causa", e ser replicada como exemplo em outras comunidades pobres.

"Esse é um dos melhores projetos que já vi. Estão dando um caminho pra essa meninada que vem da favela. Eles estão lendo música como quem bebe água", disse Dominguinhos, pouco antes de subir ao palco com o guitarrista Sandro Haick, com quem tocou Princesinha no choro, Molambo (mais Yamandu Costa), Légua tirana e Tenho sede. O sanfoneiro também lembrou da própria trajetória, de origem humilde, e do papel determinante do "padrinho" Luiz Gonzaga para o grande artista que ele veio a se tornar. "A situação hoje é pior, porque antes o comando era da família", compara. Dominguinhos ainda disse que, de certa forma, a "mão de ferro" de Cussy assume a função atualmente tão rara de estabelecer disciplina.

Silvério, que já se apresentou com a Orquestra Sinfônica da Cidade do Recife e também do Rio de Janeiro, falou nos bastidores sobre o valor estético do diálogo entre popular e erudito. "É um tempero bem aceito pelo público", disse o compositor. Ele acredita que o valor do encontro ali promovido está não só no repertório e arranjos, mas no olhar particular de cada um dos artistas envolvidos. O maestro Cussy de Almeida vê como positiva a presença da música popular no repertório da Orquestra. "Ela ensina a dimensão rítmica maravilhosamente bem. É importante que eles, como futuros profissionais, tenham um leque aberto de opções de trabalho".

A Orquestra Cidadã nasceu sob auspícios do desembargador Nildo Nery e do Juiz de direito, João Targino, que convidaram Cussy de Almeida para assumir a direção artística. A primeira empresa a abraçar o projeto foi a Chesf. Depois vieram a Caixa, a Confederação Nacional das Indústrias, a Celpe, a Pamesa, a Unimed (através de planos de saúde gratuitos para os meninos), a Center Produções e agora, a Odebrecht. O grande objetivo é cobrir os custos da primeira etapa do curso, que custa cerca de R$ 1,5 milhão por ano (hoje são 130 alunos). "Dentro de dois ou três anos teremos 20 ou 30 músicos profissionais. Destes, pelo menos 10 deles terão condições de estudar fora do país", disse o maestro.

Antes da apresentação dos meninos, foi exibido uma espécie de vídeo institucional em que, entre outros momentos, uma garota se alimenta após ser aprovada no teste de admissão. "Agora ela tem a chance de ter um futuro", diz a voz do narrador; "são meninos que vêm do nada", diz um militar; "sinto emoção de ver um filho da favela crescendo", diz a mãe de um menino que vai se apresentar no programa do Faustão. Há também o encantamento do presidente Lula com a Orquestra. "Com o apoio de gente importante como Fausão e o presidente Lula, a Orquestra Cidadã está se tornando um marco da cultura pernambucana", diz a peça de divulgação, que convida o público a "adotar" um menino ao custo de R$ 1 mil por mês, valor menor do que os R$ 2,6 mil necessários para manter um bandido na cadeia. "A escolha é sua",completa a narração.

Uma matemática que pode não ser tão simples quanto parece, pois aqui não tratamos de números, mas de gente. Até porque, sem desmerecer o trabalho da Orquestra, deve haver mais opções na vida de um menino do Coque do que entrar para o projeto ou se tornar um bandido.

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