quarta-feira, 24 de junho de 2009

Vitalino de barro e luz



No próximo 10 de julho, Mestre Vitalino completa cem anos de nascimento. Uma das comemorações já começou e se chama 100 Olhares de Vitalino, exposição fotográfica em cartaz em Caruaru, terra natal do ceramista. Os realizadores montaram uma estrutura que privilegia a imagem fotográfica e vai além ao reproduzir o ambiente das antigas moradias à base de taipa. Todo o barro usado pela exposição foi retirado do Ipojuca, rio onde Vitalino brincava quando criança e, anos depois, retirava a matéria-prima que deu forma à sua arte. A exposição segue até 10 de julho, na antiga Estação Ferroviária de Caruaru, hoje conhecida como Galpão das Artes.

Como o nome sugere, 100 Olhares de Vitalino apresenta uma centena de fotos produzidas por Helder Ferrer, dispostas nas fachadas de um casario cenográfico, como fossem portas e janelas iluminadas por trás (backlight). A força dessas imagens, literalmente sustentadas pelo barro, é amplificada por uma "instalação" formada por lamparinas e cercas de ripa. Tudo contribui para provocar uma experiência sensorial-afetiva incomum, até mesmo para os visitantes acostumados com esse tipo de paisagem. "As pessoas da região se encantam, e beliscam o barro para ver se é de verdade", diz a idealizadora Lina Rosa, da Aliança Comunicação e Cultura. Desde que foi inaugurada, a exposição promovida pela Prefeitura de Caruaru precisou refazer o acabamento algumas vezes.

Frente aos inúmeros registros existentes do trabalho de Vitalino, Hélder Ferrer optou por retratar não somente os bonecos internacionalmente famosos, mas o universo em que eles foram produzidos: fornos de queima de barro, bandas de pífano e outros artesãos na lida com o barro. Os bonecos fotografados são do acervo do Museu do Homem do Nordeste e da coleção particular do senador Jarbas Vasconcelos. "Em vez de retratar peças inteiras, busquei os detalhes. Levei as peças para o estúdio, onde usei luz 'dura' e alguns planos desfocados. Isso gerou sombras de expressão que me surpreenderam", explica Ferrer.

Rosa ainda explica que, para chegar ao conceito final, foi necessário fazer um levantamento da trajetória pessoal e profissional do mestre. "Queria fazer algo que não fosse baseado somente nas fotos, mas no diálogo com a arte de Vitalino, ou seja, entre o tradicional e o contemporâneo".

Por isso, além de trazer um texto sobre Vitalino assinado por Joaquim Cardozo, a exposição convidou o músico Ortinho (que também é de Caruaru) para compor uma trilha sonora baseada em sons de pífano e depoimentos de "herdeiros" do artista popular, como Manoel Eudócio, Luis Antonio da Silva, Zé Galego, Elias Francisco e os familiares Maria e Severino Vitalino.

Serviço
100 Olhares de Vitalino
Onde: Galpão das Artes - Antiga Estação
Ferroviária - Rua Frei Caneca, s/n, Centro, Caruaru
Quando: Hoje, 28 e 29/06 e 10/07, das 17h à 0h; nos demais dias, das 18h às 23h. Até 10 de julho
Quanto: Entrada franca

* publicado no Diario de Pernambuco

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