segunda-feira, 29 de março de 2010

Polytheama é aberto sem programação


Foto: Priscila Buhr

Goiana (PE) - Boas notícias primeiro: o Polytheama, uma das mais antigas salas de cinema do país voltou a abrir as portas para a população de Goiana. Por 28 anos, o histórico município da Zona da Mata pernambucana assistiu o sucateamento do centenário edifício da Rua Marechal Deodoro da Fonseca, conhecida como Rua Direita, que desde 1912 funcionava como sala de cinema, já havia mudado de nome para Nacar e Rex, e nos últimos dias funcionou como cinema pornô.

A reinauguração do Polytheama aconteceu na noite da última sexta-feira, com direito a festa com fogos de artifício, música da tradicional Sociedade Musical Curica e presença de representantes dos poderes públicos estadual e municipal, doravante responsáveis pela gestão do espaço. A restauração custou R$ 2,2 milhões aos cofres do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável da Zona da Mata de Pernambuco - Promata.

Em 1982 o Polytheama foi comprado pela prefeitura de Goiana, que somente agora, com a conjugação de esforços do governo estadual, conseguiu ressuscitar o local, que volta mais como espaço de múltiplas funções do que para exibição de filmes. Tanto que a primeira atividade do Polytheama, logo após o discursos das autoridades, foi receber o espetáculo A Chegada da prostituta no Céu. O programa elaborado pela coordenação de cinema da Fundarpe em parceria com a Federação de Cineclubes de Pernambuco ficou para o dia seguinte. A recuperação do Polytheama faz parte de um plano de resgate para antigas salas de cinema do estado. A próxima será o Cine Apollo, de Palmares.

O tom sentimental marcou os discursos das autoridades, que evocaram a memória afetiva dos que viveram os dias de ouro do Polytheama. "Este é um momento de restauração de nossa história", disse o prefeito de Goiana, Henrique Fenelon. "Este é um novo espaço para a democratização da cultura. Todas as rotas libertárias passam pela Zona da Mata", disse Carlos Carvalho, diretor de políticas culturais da Fundarpe, em referência direta à revolução de 1817, episódio cuja dramatização O nascimento da bandeira, de Ronaldo Correia de Brito, acontecera minutos antes na Igreja do Carmo. Também estiveram presentes Aloísio Costa, secretário executivo da Casa Civil, José Patriota, Secretário de Articulação Regional e Luciana Santos secretária de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente.

“Me lembro de ter assistido filmes de Rock Lane, Roy Rogers, O Fantasma e o seriado A Caveira do Terror, que passava todas as quarta-feiras”, disse Antônio Nelson, Secretário de Turismo e Desenvolvimento Artístico-Cultural de Goiana, disse que o Polytheama trazia peculiaridades como o apartheid social, que dividia a sala em duas. Do lado da frente, sentavam os que podiam pagar entrada inteira. Os demais, assistiam o filme do lado oposto, que contava com um narrador para traduzir as legendas projetadas ao contrário. Lembrou também de Zefa Deão, personagem constante nas sessões, que se vestia com calça e vestido, chapéu, paletó, usava um cajado e um cachimbo. “Ninguém sentava na primeira cadeira da esquerda, que era reservada para ela”.

Disfarçadamente, a história se repete. Na reinauguração do Polytheama, primeiro entraram as autoriadades; depois, os bem vestidos; para então, pouco antes da peça começar, os demais ocupassem as cadeiras vazias. Enquanto o público assistia a peça do lado de dentro, numa das paredes externas do Polytheama um grupo de jovens do Cineclube Iapoi projetava o curta Engenho Prado – guerra de baixa intensidade. “Nossa crítica não é à ausência de filmes na noite de sexta, pois eles foram exibidos no sábado e domingo, mas porque nem todos puderam ter acesso ao evento”, disse Caio Dornelas, do cineclube.

A reforma do Polytheama custou quase o dobro do que a do Cine São Luiz (R$ 1,2 milhão) porque o Polytheama estava em ruínas e precisou ser praticamente re-erguido, do piso ao teto. Instalações elétricas, hidro-sanitárias, sistema de combate a incêndio e de climatização não foram recuperados, mas substituidos por novas unidades. Para receber espetáculos, há equipamento de cenotecnia (sonorização, projeção e iluminação) e camarins. O complexo ainda conta com salão para exposições, anfiteatro, sala para reuniões e um telecentro com dez computadores, para oficinas e capacitações e um espaço de convivência na cobertura.

A má notícia é que ainda não há programação definida para ocupar o novo espaço, que assim como o Cine Guarany de Triunfo (inaugurado em 2008), fechará as portas logo após o Festival Pernambuco Nação Cultural. “A ideia é que ele tenha uma pauta frequente, definida em gestão compartilhada entre poder público e população”, diz Guilherme Almeida, da assessoria de comunicação da Fundarpe. O primeiro passo nesse sentido será dado em reunião marcada para 15 de abril.

O secretário Antônio Nelson diz que, diferente do suntuoso Cine Urubatã, o maior cinema do interior do estado (1500 lugares), o Polytheama escapou de virar templo ou supermercado. Agora, diz a Fundarpe, ele se torna “locus” da política pública de interiorização da cultura e atenderá a demanda de 19 municípios da região. Por enquanto, não há previsão para o início das atividades contínuas como, por exemplo, a exibição de filmes. Com 220 cadeiras, a sala de exibição conta com uma tela de 7 x 4 metros, projetor digital de 6500 ansi lumens e som estéreo. Há planos para instalação de equipamento de projeção com código Rain, o que permitirá interligar salas estaduais em rede.

(Diario de Pernambuco, 29/03/2010)
*com acréscimos

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