quinta-feira, 25 de março de 2010
Potencial para comover multidões
Paulínia (SP) - Assim que assumiu a direção do longa Chico Xavier, lágrimas involuntárias escorreram pelo rosto de Daniel Filho. Quinze anos atrás, o mesmo ocorreu com o jornalista Marcel Souto Maior, autor do livro As vidas de Chico Xavier, quando pediu ao médium permissão para publicar o livro. Essas e outras histórias foram contadas ontem, para a imprensa, em coletiva promovida no Teatro Municipal de Paulínia.
Na noite de terça-feira, uma avant-première reuniu cerca de 1.300 pessoas. Com potencial de comover multidões, Chico Xavier tem estreia nacional no dia 2 de abril, data em que o personagem completa 100 anos de nascimento. No elenco, Nelson Xavier, Tony Ramos, Christiane Torloni, Letícia Sabatela, Giulia Gam e Cássio Gabus Mendes.
Souto Maior, que também assina o livro de bastidores atualmente nas lojas, batizou a torrente lacrimal que acometeu a ele e ao veterano diretor de "fenômeno das lágrimas inexplicáveis". Apesar de se considerar ateu, Daniel Filho disse queXavier e Bezerra de Menezes, o "Kardec brasileiro", tentaram mais de uma vez fazer contato mediúnico durante a realização do longa.
Não que o filme tenha sido psicografado - todos negam uma obra espírita, mas sobre um homem incomum, cuja vida de abnegação, bondade e dedicação desperta curiosidade imediata. Abençoada pela conjugação de esforços da Globo Filmes, Sony Pictures e Downtown Filmes, se a produção de R$ 11 milhões fosse ditada por espíritos, de quem seriam os lucros? Apesar de Rodrigo Saturnino Braga, da Sony, ter dito que "a única preocupação é divulgar a mensagem de Chico Xavier", a única filantropia praticada será a fatia de 10% a ser revertida para a Casa da Prece de Uberaba (MG).
Polêmicas em torno do cristianismo estiveram na pauta. "O filme não foi feito para defender a bandeira do espiritismo, ele é mais voltado para os valores de amor e paz que Chico defendia. Quem seria contra isso?", pergunta Bruno Wainer, da Downtown. A resposta não tardou a vir à tona: a Igreja Católica, que negou a utilização de igrejas como locação, o que obrigou a equipe construir uma nos estúdios de Paulínia. "Meu produtor foi levado pelo braço pra fora da sacristia, quando souberam sobre quem o filme era", disse Filho.
Diretor de Se eu fosse você e Tempos de paz, Daniel Filho deu à história de Chico Xavier uma carga melodramática que ainda vai gerar muito choro por aí. Há algumas passagens cômicas, que aliviam a carga emocional de sua sofrida biografia e do oficio de realizar contato com os que já se foram ou, para utilizar um termo espírita, os desencarnados. Tendo como âncora um programa de entrevista em que concedeu a ele notoriedade nacional, Xavier é apresentado em três momentos de sua vida: infância, juventude e maturidade. Enquanto flashbacks do passado contam sua história de forma linear e didática, surge uma trama paralela, em que o diretor do programa (Ramos) e sua mulher (Torloni) sofrem com a perda prematura do filho.
É nesse ponto que o filme deve atingir direto o coração de todos os que perderam entesqueridos. "É a consolidação do Chico no imaginário dos brasileiros. Ele permite o retorno do filho que partiu. Isso mexe muito com as mães, que querem refazer o contato uterino", diz Marcos Bernstein, que roteirizou o livro para o cinema. "O Chico era movido por três sentidos raros e preciosos, o de missão, de doação e de aceitação das dores, as quais agradecia para crescer e voltar melhor. Isso transformou ele num ídolo, num mito", acredita Souto Maior.
Questões mais polêmicas como sua vida sexual, processos judiciais e a permanente desconfiança dos católicos e da mídia são tratados de forma sutil e com desfecho quase sempre favorável ao protagonista, interpretado com impressionante semelhança por um Nelson Xavier de peruca e óculos Ray Ban. "Foi uma das coisas mais arrebatadoras que já fiz na vida", diz o ator, que desde o princípio foi pensado para o papel. "Chico vai me acompanhar para sempre. Enquanto atuava, uma cachoeira de emoção foi tomando conta de mim. Foi algo que ultrapassa o trabalho profissional. Me considerava ateu e hoje não sei dizer. Descobri com Chico que precisamos prestar mais atenção no amor".
* o repórter viajou a convite da produção do filme
(Diario de Pernambuco, 25/03/2010)
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