segunda-feira, 22 de março de 2010

Cinema contra a intolerância


Paulette (Brigitte Fossey), a garota órfã de Brinquedo Proibido

O Cinema Apolo recebe a partir de hoje uma mostra de filmes especialmente escolhidos para promover o debate sobre a cultura da paz e tolerância às diferenças. A programação faz parte do Projeto Paralelos - Somos todos humanos, criado pelo ator Germano Haiut.

As sessões são gratuitas e incluem obras-primas do cinema como Brinquedo proibido (Jeux interdits, França, 1952), de René Clément e Noite e neblina (Nuit et Brouillard, França, 1955), em que Alain Resnais revisita os campos de concentração abandonados e inclui imagens de arquivo gravadas durante a atividade nazista.

A maior parte desta seleção remete aos horrores do nazi-fascismo e suas consequências, mas o foco maior é discutir o fenômeno da intolerância na sociedade contemporânea, tema que o projeto continuará investigando nas próximas edições. "Os filmes são atemporais, pois dizem respeito às minorias. Queremos lembrar a intolerância como uma constante na nossa história, pois hoje há o holocausto no Sudão, na Palestina, no Santo Amaro", diz Haiut.

Nesse sentido, contribui muito o filme Escritores da liberdade (Freedom Writers, EUA, 2007), de Richard LaGravenese. Nele, a atriz Hillary Swank faz o papel de uma professora idealista que ensina cidadania a alunos que enfrentam problemas raciais e a violência na periferia de Los Angeles, nos anos 1990. "Esse filme devia passar em todas as escolas para adolescentes", diz o idealizador do projeto.

A seleção foi feita por Haiut, em parceria com as produtoras Tatiana Braga e Sarah Hazin, "uma representando os judeus e outra os árabes", brinca Haiut, ele mesmo de família judaica - seu pai, Josef Haiut, vivia na Romania (atual Moldávia) e foi naturalizado brasileiro em 1935. "Os familiares que ficaram na Europa foram extintos na Segunda Guerra", conta Haiut. Além dos filmes acima citados, ele destaca Arquitetura da destruição, com narração do ator Bruno Ganz, que já interpretou Adolf Hitler no filme A queda, de 2003

A mostra de cinema inaugura a terceira fase do Projeto Paralelos,que começou em janeiro com a exposição Anne Frank - uma história para hoje, disponível na Galeria BNB/MinC Regional Nordeste (Rua do Bom Jesus, 237 - Recife Antigo) e antes circulou em diversos países. Outra exposição - esta, montada na Casa da Fundação Safra (Rua do Bom Jesus, 191) - é Desenhos das crianças de Terezín, com obras de crianças que viveram num campo de concentração da antiga Tchecoslováquia. As duas exposições foram vistas por cerca de 5 mil pessoas e contaram com a presença do presidente Lula, que visitou as exposições no Dia Internacional em Memória Às Vítimas do Holocausto.

"O holocausto não foi só na câmara de gás. Vivemos num país com um dos maiores índices de desigualdade do mundo. As políticas sociais existem, mas quando vamos para qualquer bairro menos privilegiado, dá pra sentir que ainda falta muito", afirma Haiut, que para provocar debates, convocou palestrantes que coordenarão as conversas com o público, além de representantes das polícias Civil e Militar, escolas públicas, universidades, Corpo de Bombeiros, ONGs e representantes ligados à defesa das minorias estão sendo especialmente convidados pela organização. Na semana que vem, o programa se repete, com novos debatedores.

As atividades do Projeto Paralelos seguem até o próximo dia 31, quando será lançado o livro Dossiê Ditadura - Mortos e desaparecidos políticos no Brasil - 1964 a 1985 (Imprensa Oficial, R$ 60), organizado por Criméia de Almeida, Janaina de Almeida Teles, Suzana K. Lisboa e Maria Amélia Teles.

Mostra de Cinema do Projeto Paralelos

Hoje
14h30 - O Diário de Anne Frank, de George Stevens (debate com Sandro Coza Sayão)
18h - Arquitetura da destruição, de Peter Cohen (debate com Jorge Zaverucha)

Amanhã
14h30 - Escritores da liberdade, de Richard La Gravenese (debate com Genilson Marinho)
18h - Noite e neblina, de Alain Resnais (debate com Jorge Benvenuto)

Quarta-feira
14h30 - O menino do pijama listrado, de Mark Herman (debate com José Mário Austregésilo)
18h - Brinquedo proibido, de René Clément (debate com Dr. José Paulo Cavalcanti Filho)

Segunda-feira (29 de março)
14h30 - O Diário de Anne Frank, de George Stevens (debate com Chico de Assis, Alberto Vinícius, Amparo Araújo e Marcelo Santa Cruz)
18h - Arquitetura da destruição, de Peter Cohen (debate com Geneton Moraes Neto - a confirmar)

Terça-feira (30 de março)
14h30 - Escritores da liberdade (debate com Ronidalva Melo)
18h - Noite e neblina, de Alain Resnais (debate com Frei Tito)

Quarta-feira (31 de março)
14h30 - O menino do pijama listrado, de Mark Herman (debate com WilfredGadelha)
18h - Brinquedo proibido, de René Clément (debate com Rodrigo Pelegrino)

(Diario de Pernambuco, 22/03/2010)

Nenhum comentário: