sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Entrevista // Luiz Carlos Barreto: "O cinema nacional precisa de autonomia"


Crédito da foto: Daniela Nader

Este não é um filme político. Este não é um filme político. Este não é um filme político. Ao longo do ano, a equipe de Lula - o filho do Brasil, repetiu esta frase como um mantra, enquanto a mídia nacional esquadrinhou cada milímetro da produção em busca de evidências. Agora que ele entra em cartaz, o assunto parece ter se esgotado e quem sabe o filme passe a ser avaliado por critérios intrínsecos, como atributos estéticos e poder de se comunicar com o público.

Em entrevista ao Diario, Luiz Carlos Barreto, 81 anos, produtor e idealizador do projeto, diz que o maior inimigo de Lula é não é a oposição política, mas Avatar, o blockbuster de James Cameron que domina o circuitão e impediu o plano original do filme de seu filho Fábio, entrar em cartaz em 500 salas - agora são "apenas" 354 cópias (para se ter uma ideia, o maior lançamento nacional de 2009, Se eu fosse você 2, entrou com 197 cópias). Leia mais a seguir.

Lula - o filho do Brasil entra em cartaz hoje em 354 salas. Qual é a expectativa?
É muito grande, sobretudo no Nordeste. O filme deve chegar a 3 milhões de espectadores, ou mais.

O plano original era de entrar em 500 ou 600 salas. Qual foi o impedimento?
Este é apenas o ponto de partida. Dependendo da performance vamos ampliar. Somos cautelosos pois estamos numa temporada de muitos filmes. Somente Avatar ocupa quase 600 salas. Enquanto não existir um parque de exibição maior, precisamos regulamentar a ocupação, que está sendo feita de forma irracional.

Em Pernambuco, terra natal do presidente, o filme entra em onze salas. Serão suficientes?
Em Pernambuco, a gente queria quatro salas no Shopping Recife, quatro no Guararapes e as duas de Garanhuns. Em Caruaru, uma das maiores cidades do interior nordestino, não tem cinema. Disse para os administradores de lá que poderíamos interferir para reabrir os cinemas que fecharam, mas eles não demonstrassem interesse.

Haverá estratégias de exibição alternativa?
Estou planejando um sistema de exibição volante para daqui a umas dez semanas. Estou vendo com Alfredo Bertini o que pode ser feito em Pernambuco, em cidades como Limoeiro e Pesqueira, que não têm cinema. A Índia tem milhares de cinemas desse tipo, itinerante.

Como está a recuperação de Fábio?
As notícias são boas. O perigo já passou e lá pelo fim de janeiro espera-se que ele tenha alta. Se haverá sequelas, é algo imprevisível. O Brasil é quase campeão deste tipo de acidente e pessoas em situação parecida se recuperaram. Essa tragédia está acontecendo num momento tão especial para ele. Vamos guardar as informações e repassar para ele assim que for possível.

Você estava com Lula na exibição em São Bernardo. O que ele achou do filme?
Primeiro ele ficou impactado, depois feliz. Ele não conseguia falar, foi muita emoção. É muito difícil assistir a própria vida na tela, é uma sessão de psicanálise pesada. Ele demonstrou surpresa e disse que não esperava que sua vida fosse dar um filme tão bom. Foi modéstia.

O projeto vai gerar outros produtos além do longa?
Pensamos numa minissérie para daqui a dois ou três anos.

O presidente Obama pediu uma sessão na Casa Branca?
Soube que havia uma intenção dele em ver o filme, mas não há nada oficial. Antes de vir ao Brasil, Jimmy Carter pediu para assistir Dona Flor e seus dois maridos (de Bruno Barreto) para conhecer melhor o país. Talvez Obama use a mesma estratégia.

No último Festival de Brasília você anunciou que iria se aposentar da carreira de produtor. E daqui pra frente, como será?
Vou me dedicar a política cultural, para que o cinema possa evoluir para a autossustentação, para geração de empregos. Para isso, só tendo um mercado forte. Não dá para ter um cinema subjugado pelo tacão do Estado. O cinema nacional precisa de autonomia artística e econômica.

(Diario de Pernambuco, 01/01/2010)

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