A edição 2008 do Oi Blues by night se despede em grande estilo, trazendo na noite de hoje, às 20h, no Teatro de Santa Isabel, dois shows de primeira categoria: Stanley Jordan e Magic Slim. Ao contrário do ano passado, é Jordan quem inicia a programação, com apresentação inédita baseada em seu novo álbum, o elogiado State of nature. No Brasil, ele está em plena turnê de lançamento - após o Recife, ele toca em mais oito cidades acompanhado de Dudu Lima (baixo) e Ivan "Mamão" Conti (bateria). Para amanhã, ele confirma sessão de autógrafos do CD, às 19h, na Livraria Cultura.
Se B.B. King é o rei, Magic Slim é o embaixador do blues: aos 71 anos, ele mantém uma agenda anual com pelo menos 220 shows pelo mundo. No Recife, ele toca acompanhado do grupo argentino Blues Special Band. De acordo com seu empresário, Michael Blackmore (sobrinho do gaitista Junior Wells), o repertório é completamente imprevisível, pois depende do "felling" do guitarrista e da respostada platéia que , em 2007, pegou fogo no Teatro da UFPE.
Na entrevista a seguir, Slim contou episódios de uma vida que começou nos campos de algodão do Mississipi, e que encontrou seu sentido no blues elétrico de Chicago. Apenas um aperitivo para o show de hoje à noite.
Entrevista // Magic Slim: "Blues é sentimento, ele precisa vir do coração"
Como foi seu começo como artista?
Sou de uma família de fazendeiros do Mississipi, onde vivi até os 18 anos, quando parti para Chicago. Quando cheguei lá, não tinha muito dinheiro, e fui trabalhar na construção civil. As pessoas diziam que eu não podia tocar, mas eu queria o blues, e assim continuei.
Como Morris Holt se tornou Magic Slim?
Eu e Magic Sam (grande guitarrista falecido precocemente em 1969) costumávamos ir à escola juntos, no Mississipi. Eu tocava contrabaixo com ele, e como eu era magro e alto, ele começou a me chamar de Magic "slim" (magro, em inglês). Antes de morrer, ele disse para eu manter esse nome, porque ele iria me tornar famoso. Isso faz muito tempo. Eu não sou famoso ainda, mas esse nome funciona bem!
Como se deu o acidente em que você perdeu o dedo mínimo?
Quando eu tinha 14 anos, trabalhava com um descaroçador de algodão no Mississipi, onde nasci. Prendi minha mão direita por acidente, e quase perdi a mão toda.
Como aprendeu a tocar blues?
Em casa. No quarto da minha mãe tinhaum violão no alto de uma parede. Eu pegava escondido, pois se ela me descobrisse com o instrumento, me batia. Foi assim que eu comecei a tocar.
Você aprendeu sozinho?
Sim. Eu não sei ler música, então, eu aprendi escutando. No começo, eu só tocava bluegrass (música tradicional derivada do country). Até eu ouvir pela primeira vez uma música de John Lee Hooker, Boogie Chillum. Foi o primeiro blues que aprendi a tocar num violão.
E quando você mudou pra guitarra elétrica?
Quando fui a primeira vez a Chicago, graças a um emprego em que lavava pratos com minha irmã, consegui comprar uma guitarra Sears Roebuck Silvertone. No começo achei um pouco difícil de tocar, pois o som era muito gritante. Hoje é meu instrumento preferido.
O que você acha do blues feito pelas novas gerações?
Eles tocam bem, mas eu digo: não coloquem tanto rock no blues. Não faz bem misturar.
O que o blues significa para você? O que te mantém tocando blues aos 71 anos?
(Pausa antes de falar) Blues é sentimento. Por isso, para tocar blues, ele precisa vir do coração. Eu me sinto bem quando toco o blues. Para mim, é como uma religião. Eu não saberia mais o que fazer hoje, a não ser tocar o blues.
(Diario de Pernambuco, 16/11/2008)
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