quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Fellini merecia mais
Nine (EUA, 2009) adapta musical da Broadway baseado no filme 8 e 1/2 (1963), de Federico Fellini. Assim se chama porque a trilha sonora, composta por Maury Yeston, valeria por mais meio filme.
A adaptação para o cinema é dirigida por Rob Marshall, que imprimiu sua marca com outro musical, o oscarizado Chicago (2002). Assim como o predecessor, Nine prende a atenção com imagens tão lindas quanto vazias.
Convidado pela Weinstein Company para fazer uma espécie de Chicago 2, Marshall dá continuidade à linguagem frenética e hiperproduzida que emprestou ao gênero. Para tanto, escalou as musas Marion Cotillard (Piaf, Inimigos públicos), Nicole Kidman e Penelope Cruz. E para o papel principal, o ator bissexto Daniel Day Lewis (Meu pé esquerdo, Sangue negro).
Todos emanam carisma, mas a produção se esvazia, nunca mergulha na essência de seu objeto. Resta ao filme lidar com as aparências ao redor de um artista em crise, perdido em memórias de infância e situações oníricas. Háoutra tentativa de legitimação (goela abaixo) via Sophia Loren, atriz de Fellini que permanece na ativa.
Após sequência inicial (alegoria que resume a história), o foco fecha em Guido Contini (Lewis), nome maior do cinema italiano. Seu novo filme, Itália, precisa ser rodado, mas ele ao menos conseguiu pensar em um roteiro. A mídia gera hype e expectativa, enquanto a angústia e o desespero dilaceram sua alma.
No novo filme, o diretor quer representar o que é ser italiano. Como bom Casanova, busca inspiração nas mulheres ao redor. Luisa (Cotillard, ótima), a esposa que abandonou carreira de atriz; Carla (Cruz), amante hospedada numa pensão barata; Claudia (Kidman, aérea), a grande estrela a la Cardinale; Stephanie (Kate Hudson), sedenta repórter da Vogue; Lili (Julie Dench), figurinista e suporte afetivo; e finalmente na mãe (Loren). Não poderia faltar o embate entre moral cristã (ele chega a pedir ajuda a um padre) e as tentações da carne, personificado na figura reminiscente da prostituta (Stacy Ferguson - a Fergie do Black Eyed Peas).
Como seu protagonista, Nine parece distante e perdido em impetuosas coreografias. Tematiza o cinema italiano dos anos 60, mas sequer chega perto de seu espírito. Diferente do cinema que homenageia, termina junto com a sessão, sem significado ou brechas a serem preenchidas. Ignora o fato de que, para um filme pernanecer na retina é preciso mais do que um espetáculo.
Em 8 e 1/2 Guido é vivido por Marcello Mastroiani
O mestre faz 90 anos
Se estivesse vivo, Federico Fellini (1920-1993) completaria 90 anos no último dia 20. Nascido na pequena comuna de Rimini, norte da Itália, ele introduziu sonho e fantasia no cinema moderno. O autobiográfico 8 e 1/2 é uma de suas obras mais celebradas. Foi assim batizado porque até aquele momento da carreira, o diretor italiano havia realizado dois curta-metragens, seis longas e co-dirigido outro longa (ou seja, meio filme). O filme marca o início da fase em que Fellini traz a psicanálise para sua obra, que não somente se volta para sua infância, como enxerga a cultura italiana através de arquétipos.
(Diario de Pernambuco, 28/01/2010)
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Um comentário:
crítica sagaz hein!
fiquei com vontade de ver o filme, mesmo assim....rs...
Rô
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