quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Presença pernambucana em território holandês



A ponte que liga pernambucanos e holandeses é cruzada novamente, desta vez pelo cinema. Recife frio e Avenida Brasília Formosa, dois títulos da recente cinematografia local, integram a seleção oficial do Festival de Roterdã. Belair (RJ), de Noa Bressane e Bruno Safadi, completa o rol de brasileiros em Roterdã, um dos cinco grandes festivais do mundo ao lado de Cannes, Berlim, Veneza e Sundance.

Recife frio (Cold tropics), curta de Kleber Mendonça Filho (Vinil verde), participa amanhã e sexta-feira da mostra Spectrum, um panorama mundial não-competitivo. Avenida Brasília Formosa (Defiant Brasília), de Gabriel Mascaro (KFZ 1348), será exibido pela primeira vez nos dias 2 e 3 da mostra Bright Future. Os dois filmes têm em comum uma abordagem da cidade sob pontos de vista pessoais e intransferíveis.

Inédito, Avenida Brasília Formosa se aproxima de quatro moradores do bairro de Brasília Teimosa, logo após a intervenção urbanística que removeu palafitas e estendeu o logradouro que evoca o novo conceito para a antiga comunidade de pescadores. O conflito entre identidade nova e antiga (sugerido já nos primeiros minutos quando o ônibus com o itinerário "Brasília Teimosa" desliza sobre o asfalto) é o foco no qual se desenvolve o filme. Desprovidos de palafitas, seus protagonistas agora desafiam não apenas a expansão imobiliária, mas a imagens pré-concebida sobre seu cotidiano.



Multipremiado no último Festival de Brasília e eleito melhor filme (júri oficial e popular) no 13º Festival de Santa Maria da Feira (Portugal), Recife frio será apresentado esta semana em dois festivais. Hoje, na Mostra de Cinema de Tiradentes (MG); amanhã e depois, em Roterdã. "Em Brasília, fizeram uma associação entre Recife frio e o passado holandês da cidade. Vou checar se isso procede", diz o realizador. Se depender da boa resposta de público e crítica até o momento, tudo indica que sim.

Com cenas antológicas como o esvaziamento dos arranha-céus de Boa Viagem, uma praia de pinguins no litoral sul, o Rio Capibaribe transformado em bloco de gelo e participação de Lia de Itamaracá, o curta também integra a retrospectiva que o 22º Festival de Cinema Latino-Americano de Toulouse (sul da França) fará ao diretor, em março.

Antes de ir para Roterdã com sua Brasília, Mascaro faz escala em Tiradentes, onde exibirá o longa anterior, Um lugar ao sol. Lado a lado, os documentários provocam interessante contraste entre depoimentos de ultra-ricos nas coberturas e o cotidiano quase invisível (como a câmera de Mascaro) dos habitantes de Avenida Brasília Formosa.

(Diario de Pernambuco, 27/01/2010)

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