sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O verde e ouro de Eastwood


Mandela (Freeman) e Pienaar (Damon): green and gold

Cada líder mundial tem o cineasta que merece. Bush teve Stone; Lula, Barreto. Nelson Mandela tem o luxo de contar com Clint Eastwood, autor de obra cada vez mais respeitável.

Mesmo causando estranhamento inicial, Invictus (EUA, 2009) tem envergadura suficiente para estar entre os melhores do diretor de Menina de ouro (2004) e Gran Torino (2008). E não será surpresa se o longa ganhar bom número de indicações ao Oscar na semana que vem. Aos 79 anos, Eastwood está em alta nos EUA - na última terça-feira foi eleito o astro mais popular do país, desbancando Johnny Deep e Denzel Washington e, quem diria, o eterno cowboy John Wayne.

Mestre em mapear luzes e sombras da cultura norte-americana, Eastwood transfere o foco para a recente transição político-social vivida pela África do Sul com a posse de Nelson Mandela e o fim do apartheid. Mandela é Morgan Freeman, escolha óbvia e inquestionável. O ator sempre quis o papel e o filme nasceu do encontro dele e o jornalista John Carlin,que escreveu o livro agora adaptado pelo filme. A publicação narra a reunificação racial que marcou os anos Mandela (1994-1999). O pivô desse processo foi o investimento no Springbocks, time de rúgbi mais querido dos afrikaner (ingleses nascidos na África).

Com a tranquilidade e eficiência de quem teve tempo para planejar cada ato, Mandela convoca o capitão do time, François Pienaar (Matt Damon) e inicia ali a relação veterano-aprendiz presente em outros filmes de Eastwood. O que incomoda é a ausência de revezes ou escuridão, comum na obra do cineasta. Mandela brilha como um anjo triunfante enviado à Terra.

Os 20 minutos finais, em que os Bucks disputam a final da Copa do Mundo com a Nova Zelândia, é uma aula de como filmar um estádio lotado de forma sensacional e contagiante. O embate entre os jogadores (o rúgbi é violento pra valer), enganchados e grunindo como animais, gera um momento à parte. A turma de seguranças negros, obrigados a conviver com a guarda branca que antes os perseguiam também rende boassituações. Damon, que equilibra a visão conciliatória de Mandela e a resistência histórica dos brancos (no time e na própria família), conseguiu uma de suas melhores atuações.

E Eastwood, mesmo ensolarado e positivo, continua invicto.

(Diario de Pernambuco, 29/01/2010)

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