sábado, 30 de janeiro de 2010
Entrevista // Fábio Moon: "Ainda estamos buscando esse tal quadrinho nacional"
Os gêmeos Moon e Bá: autoretrato
Há 141 anos foi publicada a primeira história em quadrinhos produzida no Brasil: As aventuras de Nhô Quim ou impressões de uma viagem à corte, de Angelo Agostini.
Desde 1984, a data foi escolhida para marcar o Dia do Quadrinho Nacional, comemorada com eventos em todo o país.
Nos últimos anos, a produção de HQs brasileiras tem crescido em qualidade e quantidade. Um termômetro é o Blog dos Quadrinhos, do jornalista Paulo Ramos, que promove maratona de blogs e sites de artistas nacionais. Até o fechamento desta matéria, 130 blogs e sites de quadrinhos foram listados.
Artistas em ascensão contínua, os paulistas Fábio Moon e Gabriel Bá conquistaram reconhecimento internacional e abriram espaço no mercado para um trabalho autoral, coisa rara para brasileiros publicados nos EUA.
Hoje, além de produzir uma tira semanal Quase nada, para a Folha de São Paulo, eles produzem a minissérie Daytripper para o selo Vertigo, da DC Comics. Em entrevista ao Diario, Moon fala sobre carreira, mercado e conceitos em torno do "quadrinho nacional".
O rótulo "quadrinho nacional" é algo necessário para formação de uma identidade? Ou precisamos acabar com as fronteiras?
O quadrinho nacional não tem cara, não tem estilo, não tem escola, então, acho que ainda estamos buscando esse tal quadrinho nacional. Ainda estamos no esquema cada artista faz a sua coisa, que pouca gente vê, relaciona ou interage. A identidade do artista é individual, e nesse sentido vem a brasilidade, porque somos todos brasileiros. Quanto mais fiel à sua origem, mais nacional você será, e mais fronteiras atravessará.
Hoje temos mais festivais e salões de HQ, editoras, espaço na imprensa (na cobertura e na seção de cartuns e tirinhas). Finalmente temos mercado para o quadrinho nacional?
Ainda não temos um mercado ideal. Temos mais oportunidades e mais espaço, mas ainda pode melhorar. A qualidade pode melhorar, a estrutura das editoras pode melhorar e, se tudo melhorar, acho que o tamanho do público também melhorará.
Qual a diferença entre trabalhar com editoras gringas e nacionais?
Dependendo da editora gringa, é a mesma coisa. Mas lá fora existem editoras de quadrinhos com uma estrutura muito maior, que pode bancar a produção dos artistas antes de esperar o resultado do público. Então você pode viver somente do seu trabalho. Outra diferença é a relação com editores que conheçam o mercado em que trabalham e ajudem os autores enquanto eles produzem o trabalho. Aqui no Brasil a maioria dos editores tem que trabalhar com a criação pronta. Quase não existe relação entre autor e editor no Brasil.
O começo não deve ter sido fácil. Qual foi a estratégia?
Nós queremos contar histórias em quadrinhos. Faremos o que for necessário. Só depende de nós, então vamos levar a sério. Essa foi a estratégia.
Vocês trabalham juntos o tempo todo ou cada um mantém seu trabalho solo?
Gostamos de trabalhar juntos o máximo possível, mas temos participado de projetos no exterior, com outros autores, e nesses projetos podemos trabalhar separados, pois quase sempre só um de nós pode desenhar tal história, enquanto o outro vai desenhar outra coisa.
Como vocês dividem o trabalho a quatro mãos?
A gente escreve as histórias junto e decide qual desenho combina mais, ou qual dos dois tem mais tempo pra desenhar.
Vocês não perderam a marca autoral para se adaptar ao mercado norte-americano. Foi difícil resistir às imposições do Tio Sam?
Você precisa saber o que quer da vida. Se você quer desenhar o Super-homem, não está se curvando a nada quando você chega lá e desenha o Super-Homem. Se você quer ser autor, escrever e desenhar suas histórias, o caminho é outro. Nenhum caminho é fácil, aliás fazer histórias em quadrinhos é difícil pacas, mas saber o que você quer te dá tranquilidade.
(Diario de Pernambuco, 30/01/2010)
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