quarta-feira, 23 de setembro de 2009

O outro lado da rua



Foram quatro décadas até John, Paul, George e Ringo chegarem ao outro lado da Abbey Road. Ao atravessar aquela então desconhecida faixa de pedestres, o máximo que eles conseguiram enxergar era o fim da linha para os Beatles. O que, de fato, ocorreria poucos meses depois do lançamento de Abbey Road, em 25 de setembro de 1969. A data completa 40 anos na próxima sexta e, ao contrário das comemorações convencionais, geralmente restritas ao produto em si, a data foi escolhida como "gancho" para lançamentos que atualizam os Beatles para a era digital. Era o que faltava para a famosa afirmação de John Lennon encontrar confirmação nos mecanismos de busca da internet: nas últimas semanas, o verbete "Beatles" superou "Jesus Cristo" na procura dos usuários do Google.

Das novidades, a mais ousada é o Beatles Rock Band, o game que chega esta semana no mercado brasileiro. Desenvolvido pela Apple Corps, MTV Games e Electronic Arts, com apoio e consultoria de Paul McCartney, Ringo Starr, Olivia Harrison eYoko Ono (viúvas de George Harrison e John Lennon), o produto tem versões para PlayStation 3, Wii e Xbox 360. Dhani Harrison e Giles Martin, respectivamente filhos de George Harrison e do produtor George Martin, estiveram mais perto da construção do game, que traz 45 músicas do repertório clássico, custa em média R$ 250 (somente o disco), mas pode chegar a R$ 2 mil, preço da edição limitada com réplica do baixo Höfner de McCartney e uma bateria com "bumbo" da Ludwig.

O produto tem sido celebrado mídia afora como a chegada dos Beatles ao século 21. Gustavo Montenegro, que mantém o site www.thebeatles.com.br, diz que o game possibilita a novas gerações conhecer a música do quarteto de Liverpool. "Ainda mais sabendo que o formato disco é uma mídia condenada. Pode apostar que teremos uma massa enorme de jovens cantando as músicas da banda por causa do jogo".

Não bastasse, outra porta digital será aberta no mundo beatle: o longa de animação Yellow submarine, de 1968, será completamente refeito em 3D, numa parceria entre os estúdios Disney e o diretor Robert Zemeckis. Mais uma prova de que, na esteira da indústria cultural, a melhor história é a que se repete como fetiche.



Beatles completo
Para os adeptos da old school, a EMI relança mundialmente o catálogo oficial dos Beatles em CD. São treze títulos, acrescidos das coletâneas Past masters. Eles ressurgem em embalagens digipack, com encarte repleto de novas informações. Cada disco está encartado a arte original e fotos raras. No Brasil, eles podem ser comprados de forma avulsa a R$ 30, e em duas caixas importadas: uma em estéreo (por R$ 800, com doze CDs) e outra em mono (a R$ 950, com dez álbuns).

Cada disco traz um pequeno documentário com arquivos que mostram, entre outras cenas inéditas, o processo de criação dos Beatles em estúdio. Os álbuns Help! e Rubber soul, ambos de 1965, trazem as mixagens originais nunca lançadas em CD e ganharam réplicas de minivinis, adesivos e design original.

Em 1987 o acervo beatle havia sido transposto para o formato CD. O resultado gerou certa polêmica. O próprio George Harrison criticava as limitações da nova tecnologia, que deixaria um "vácuo" entre os fonogramas. "Algo realmente precisava ser feito. Os álbunsforam apenas transferidos para digital, mas na verdade nunca haviam sido remasterizados para este formato. Foram feitos às pressas e de maneira equivocada. Agora sim temos CDs à altura do que os Beatles representam", diz Gustavo Montenegro, do site www.thebeatles.com.br.

O fim encontra o começo
Cientes do fim, os Beatles prepararam uma despedida e tanto. Deixaram as rusgas afetivas e financeiras de lado e criaram Abbey road, um dos mais emblemáticos discos de rock da história. O título alude não somente à rua, atravessada no imaginário coletivo graças à fotografia de Iain Macmillan, que ilustra a capa.

É também o nome do lendário estúdio da EMI, onde o grupo já havia gravado Beatles for sale e Rubber soul. De volta para casa, sob a batuta de George Martin, eles produziram alguns clássicos a mais: Come togheter, Here comes the sun, Something, I want you, Because.

A metade final, correspondente ao antigo lado B, foi concebida como uma suíte de 20 minutos. Músicas antigas ou subestimadas foram retiradas do armário e realinhadas de forma a representar uma viagem pela história da banda. Dez anos passados a limpo, do iê-iê-iê dos tempos do Cavern Club (Pollythene Pam e The end, que contém o único solo de bateria da carreira Ringo) à psicodelia (Sun King); da elaborada doçura de McCartney (You never give your money) à ironia combativa de Lennon (Mean Mr. Mustard).

Mas é na simplicidade que beira a perfeição de Because que reside o momento sublime em Abbey road. Cantada em três vozes divergentes, dobradas duas vezes, de forma a compor um coral de nove vozes, sua estrutura consiste na execução de Sonata ao luar, de Beethoven, tocada ao contrário, num sintetizador. Inebriante, a audição evoca a contemplação que faltava para "cair a ficha" dos fãs. Eles ainda teriam pela frente o póstumo Let it be (1970), gravado um ano antes, em meio a inúmeros conflitos. Mas é em Abbey road que o fim encontra o começo e, enfim, a história da música pop pode recomeçar.

Versões brasileiras
Três álbuns acabam de ser lançados com músicas da última fase dos Beatles, interpretadas por artistas nacionais. Produzida por Marcelo Fróes, a trilogia Beatles'69 (Discobertas, R$ 34,90 cada) reúne uma turma heterogênea e traz faixas antigas e gravadas especialmente para o projeto. De Pernambuco, participam o grupo Profiterolis e o pianista Vítor Araújo.

Fróes diz que a ideia foi cobrir todo o repertório composto ou gravado pelo grupo naquele ano. O primeiro volume faz uma releitura do álbum Get back, que nunca chegou a ser lançado e um ano depois foi reformulado para Let it be. Fagner, Wanderléa, Ultraje a Rigor, Capital Inicial, Jota Quest e Danni Carlos participam do CD. Duas faixas são inéditas: Suzy Parker e Paul's piano intro, esta última executada por Araújo.

No segundo disco, participam Mallu Magalhães, Kleiton e Kledir, Zé Ramalho e o violeiro Sérgio Reis. "São faixas do single intermediário The ballad of John and Yoko, Old brown shoe e canções que os Beatles nem gravaram". O terceiro disco reconstitui Abbey road com quatro faixas a mais. Em duas delas, surge a voz de Elis Regina, em dueto póstumo com Milton Nascimento.

(Diario de Pernambuco, 23/09/09), com alterações

Um comentário:

Leonardo Xavier disse...

Pow, eu realmente fiquei instigado ao ver o video do Rock Band dos Beatles!! Muito bem feito !

^^