quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Embriagado de Blues



O guitarrista John Primer, de Chicago, se apresenta hoje, às 22h, no festival Oi Blues by Night. Ele é a principal atração do evento, que ainda conta com a abertura do grupo de jazz norte-americano Rodney Block & The Real Music Lovers, originária do Arkansas. Não é a primeira vez que um representante da cena de Chicago se apresenta no Recife. Especialmente nesta edição do Oi Blues, que em agosto trouxe Willie Big Eyes Smith e em novembro encerra as atividades com a dupla Billy Branch (gaita) e Carlos Johnson (guitarra).

Primer chega ao Recife após uma série de shows na Argentina, São Paulo e Minas Gerais. Daqui, ele segue para Natal e Fortaleza, dentro da itinerância do Oi Blues. Ele se apresenta com banda formada pelo argentino Adrian Flores (que produz a turnê sul-americana), do gaitista mineiro Luciano Boca e de músicos Uptown Band, que comemora 12 anos de existência. Aos 64 anos, este negro de sotaque carregado esculpido na região do Mississippi pode ser considerado um “filho” de Muddy Waters (1915 - 1983), com o qual tocou em sua banda, no fim da carreira.

Assim como outros bluseiros de Chicago, Primer não necessariamente canta as dores do abandono feminino e outras tragédias. Dentro em pouco, quando ele plugar sua Gibson Epiphone no amplificador, ele estará pronto para tocar o que ele define como “the real blues”. “Dizem que o blues vem do delta, dos escravos, mas não é verdade. O blues vem de todos os lugares. Não somente os negros, mas todos podem tocar o blues”, diz Primer, ao Diario.

John Primer nasceu em Camden, Mississipi. Começou a tocar guitarra aos oito anos de idade, observando parentes e pessoas que visitavam a casa de seu avô. O estilo era algo aproximado a John Lee Hooker. “Old stuff”, define o músico, que é filho único (sua irmã mais morreu ainda criança e seu pai morreu quando tinha seis anos) e aos 18 anos seguiu com a mãe para Chicago, onde vive desde 1963. Primer foi à meca do blues elétrico não para tocar e seguir carreira artística, mas sim para arrumar um emprego e pagar as contas. Trabalhou em hospital, lavador de carros, operário. “Havia muitos bluesman em Chicago, como Junior Wells e Howling Wolf, mas eu não os conhecia”.

O trabalho duro não o impediu de, em 1964, fundar a própria banda, o The Maintainers. Deixou o grupo logo após receber convite para liderar o grupo de rithm’n’blues The Brotherhood. Nos anos 70, teve oportunidade de tocar com Sammy Lawhorn, Junior Wells, Buddy Guy, Smokey Smothers e Lonnie Brooks, até que, em 1979, o baixista Willie Dixon o convocou para participar do The Chicago All Stars. Um ano depois, ele trocou o posto por um convite irrecusável: integrar a banda de Muddy Waters, que retomava sua carreira sob produção dos Rolling Stones.

“Quando tinha 14 anos, no Mississipi, sonhei que um dia tocaria com Muddy. Em 1980, o sonho se realizou”, conta Primer, que se manteve fiel ao mestre até sua morte, três anos depois.
Durante ensaio, realizado no Estúdio Toca na última segunda-feira à noite, Primer tocou diferentes estilos de Chicago, aquele em que a guitarra solo conversa com a gaita, a guitarra base cria o ambiente e o contrabaixo e bateria fazem uma “cozinha” pesada e visceral. “Quando eu toco, pessoas pensam que estou bêbado. Mas quando pego a guitarra, é o jeito que eu me sinto. Se eu tomo um copo de uísque, é um desastre”.

Sua voz tem timbre aveludado, algo próximo ao estilo Muddy Waters. “Minha mãe disse que quando nasci, eu não chorava, mas sim, fazia o ‘humming’ (tipo de canto com os lábios fechados e sem articular as palavras)”. Enquanto canta, ele brinca com ruídos, dá risadas e faz caretas que lembram Screamin’ Jay Hawkins. “Gosto do tipo de música que as pessoas podem rir. Quero manter as pessoas felizes a noite toda. Eu conto histórias, boas ou ruins, para deixar as pessoas alegres”. Era o recado que faltava para sair voando ao som do “real blues”.

Serviço
Oi Blues by Night
Quando: Hoje, às 22h
Onde: Spirit Music Hall, Rua Futuro, 821 - Graças, zona norte do Recife
Quanto: R$25 e R$20 (mulher)
Informações: 3241-9446

(Diario de Pernambuco, 16/09/09)

Um comentário:

jorginho da hora disse...

Minha única magoa é que esses caras passeiam mais pelo sul e suldeste do que no nordeste. Eu amo blues .