segunda-feira, 22 de junho de 2009

O dia em que Roberto Carlos foi pra berlinda


Araújo: "Brasileiro é analfabeto funcional, e Roberto Carlos faz parte desse grupo"

"O povo brasileiro não lê. É uma grande massa de analfabetos funcionais e o Roberto Carlos faz parte disso". A declaração, disparada durante uma das conferências de sábado do Porto Musical, é de Paulo César Araújo, autor da biografia literalmente não autorizada, Roberto Carlos em detalhes. Acompanhado de sua advogada, Déborah Sztanjberg, ele alega que o cantor ao menos chegou a ler o livro, antes de mover mundos e fundos para retirá-lo de circulação. "Ele só leu O pequeno príncipe e Eram os deuses astronautas?", disse o escritor que, de admirador, passou a vítima do famoso intérprete.

Horas depois, foi a vez do produtor André Midani colocar RC na berlinda: "infeliz do povo que tem um Roberto Carlos como rei". Coincidência ou não, Midani enfrenta processo judicial pelo conteúdo de sua autobiografia, Música, ídolos e poder, "porque estou dizendo que um ladrão é um ladrão e a filha desse ladrão não gostou".

Polêmicas à parte, o melhor momento do terceiro e último dia do evento foi partilhado entre Midani e a platéia lotada do Teatro Apolo. Aplaudido calorosamente, ele fez um pequeno histórico da indústria fonográfica, lembrou que a música prospera em momentos adversos e teceu conjecturas sobre em que mundo a música atuará daqui a duas décadas. "Será algo que o colonialismo europeu jamais engendrou. Estamos em pleno processo de enriquecimento dos países orientais, o que fará o Ocidente perder sua hegemonia cultural. O conceito de copyright é desconhecido na Índia e proibido no mundo muçulmano".

Aos 77 anos, o imigrante árabe (nascido em Damasco, Síria) que acumula mais de meio século de atuação na música admite não ter respostas ou soluções para o atual impasse do mercado. "Isso precisa ser resolvido não pelo establishment, mas por vocês, que têm 25 anos. É importante que os criadores tomem o poder outra vez. Se eu tivesse essa idade, gostaria muito de estar entre vocês", encerrou o mestre.

Um pouco antes, o historiador Paulo César de Araújo e sua advogada contaram em "detalhes" (para usar um termo caro ao incidente), a incrível série de eventos que levou seu livro a ser censurado em território brasileiro. "Só na Inquisição espanhola ou na ditadura brasileira um livro é impedido de circular", disse Sztanjberg. Para embasar seu discurso, ela usa como exemplo outras biografias polêmicas, como as escritas sobre Jim Morrisson por seus ex-companheiros da banda The Doors. "Elas geram processos, mas os livros continuam disponíveis no mercado". Sztanjberg ainda alertou para o fato do episódio gerar precedentes, como o caso da viúva de Sivuca, que impediu a própria filha do compositor de escrever um livro de memórias. E disse que quem quiser ler o livro de Araújo, é só comprá-lo nos sites de leilão, onde é vendido por cerca de R$ 130, ou baixar uma versão em pdf em programas de troca de arquivo.


Taubkin: "Os editais regulam o mercado da música"

Benjamin Taubkin, que na manhã de sábado apresentou uma lista de artistas latino-americanos, na conferência vespertina tratou do que considera um dos maiores problemas da música brasileira: a crescente dependência de patrocinadores públicos e privados. "Os editais regulam o mercado da música. E esta termina por salvar a imagem das empresas e outras instituições, que montam orquestras na favela para ocupar os filhos dos trabalhadores que elas desempregaram. Será que não temos algum meio de usar nossa capacidade para viver do nosso trabalho, como o padeiro vive de vender pão?", questionou Taubkin, com pertinência. Como possível solução, ele aconselha o fim da disputa acirrada pelo dinheiro dos editais e a livre associação cooperativa, em pequena escala. "Por que um artista precisa vender 1 milhão de discos? É muito melhor se 100 vendessem 10 mil".

Mais tarde, perto da madrugada, um coletivo de bandas que colocou na prática os conselhos de Taubkin e Midani: juntaram forças para ganhar visibilidade. Johnny Hooker & Candeias Rock City, Plastique Noir, Dimitri Pelzz e Amp tocaram no mini-festival Abrafin Fora do Eixo, que junto da surreal combinação entre shows de forró (Chiquinha Gonzaga, Karolinas com K, Hebert Lucena e Josildo Sá) e a discotecagem de Robert Soko (música tradicional da península balcânica), serviu de encerramento desta quarta - e sem dúvida positiva - edição do Porto Musical.

Um comentário:

Anônimo disse...

tirando td isso, eu gosto do robertão das antigas, das músicas, bem explicado... principalmente dos anos 70.