quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Dez filmes para um feliz 2010

A pedido do Diario de Pernmbuco, fiz uma lista com os dez filmes que precisam ser vistos em 2010.

Trabalho difícil, esse de escolher. Mas consegui. Feliz Ano Novo !


Sherlock Holmes - Guy Ritchie (Snatch) traz de volta o famoso detetive criado por Sir Arthur Conan Doyle. No elenco, Jude Law, Rachel Adams e Robert Downey Jr no papel principal. Data de estreia: 08/01


Onde vivem os monstros - Spike Jonze (Quero ser John Malkovitch) atualiza o clássico da literatura infantil em que um garoto de castigo se torna rei numa terra de monstros. Na trilha sonora, o rock de Arcade Fire. Data de estreia: 15/01

Invictus - O próprio Nelson Mandela convidou Morgan Freeman para interpretá-lo no novo longa de Clint Eastwood, do qual também é produtor. O filme conta o episódio em que Mandela amenizou os conflitos raciais ao trazer à África do Sul o Campeonato Mundial de Rugby. Data de estreia: 29/01

O lobisomem - O personagem está de volta na pele de Benicio Del Toro. Assim como no clássico de 1941, o remake está ambientado na Inglaterra vitoriana. Os efeitos especiais e a participação de Anthony Hopkins como Sir John Talbot devem chamar a atenção. Data de estreia: 12/02

Um homem sério - Nova comédia de humor negro dos irmãos Ethan e Joel Coen (Onde os fracos não têm vez). Nos anos 60, um homem comum procura entender a vida após a separação. 19/02

Ilha do medo - Martin Scorsese e Leonardo DiCaprio (Os infiltrados) estão de volta ao gênero policial. Ainda no elenco, Mark Ruffalo e Ben Kingsley. Data de estreia: 05/03


A fita branca - Novo filme de Michael Haneke (Caché), vencedor da Palma de Ouro em Cannes. Quinze meses antes da Primeira Guerra Mundial, estranhos eventos acontecem numa vila no norte da Alemanha. Data de estreia: 12/03.


Alice no país das maravilhas 3D - Tim Burton faz uma atualização pop para o clássico de Lewis Caroll em que Johnny Depp, Anne Hathaway, Helena Bonham e Christopher Lee contracenam com personagens criados por computador. Data de estreia: 02/04.


Os mercenários - Filme de ação parcialmente rodado no Rio, em que Sylvester Stallone dirige e atua com Jet Li, Dolph Lundgren, Jason Statham, Mickey Rourke, Bruce Willis, Arnold Schwarzenegger. Precisa dizer mais? Data de estreia: 20/08.

The ghost writer - Mesmo em prisão domiciliar, Roman Polanski conseguiu finalizar seu novo longa, que adapta o livro The ghost, de Richard Harris. No elenco estão Ewan McGregor, Pierce Brosnan e Kim Catrall. Data de estreia não divulgada.

Mais três patrimônios vivos



Maestro Nunes, o Maracatu Estrela Brilhante de Igarassu, e o Clube Indígena Canindé do Recife são os três novos Patrimônios Vivos de Pernambuco. O título foi concedido ontem, pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco - Fundarpe. Significa que a partir de agora eles receberão do governo de Pernambuco bolsas vitalícias mensais no valor de R$ 750 (pessoas físicas) e R$ 1,5 mil (grupos culturais). Como contrapartida, os eleitos se comprometem a manter preservadas as manifestações as quais representam e transmitir seus conhecimentos em eventos e programas de ensino ligados à Fundarpe.

A premiação chega em boa hora, já que o carnaval está chegando e os três eleitos estão diretamente ligados à festividade. Autor de Cabelo de fogo, Maestro Nunes já está com vários frevos prontos para fevereiro. Sua sede continua no segundo andar da Federação Carnavalesca (Pátio de Santa Cruz), onde ensina os segredos do frevo.

Dona Olga, a matriarca do Estrela Brilhante soube da notícia através da reportagem do Diario. "Agradecemos pelo presente", diz, com alegria. Em homenagem a Dona Emília, a boneca da agremiação, haverá queima de fogos na virada do ano. "Ela é quem ganhou o prêmio. Ela manda, a gente só administra", diz Gilberto Batista, filho de Dona Olga e porta-estandarte do maracatu. Batista disse que pretende economizar o dinheiro das bolsas para que o Estrela tenha um ônibus próprio e deixe de depender de políticos e órgãos públicos para fazer as apresentações em outras cidades.

Mais antigo maracatu em atividade - mês passado completaram-se 185 anos desde que o avô de Dona Olga passou a liderar o grupo, na Ilha de Itamaracá, o Estrela Brilhante aos poucos vai ganhando reconhecimento oficial. Pelo Goveno Federal, ele recebe recursos e equipamentos como Ponto de Cultura. No entanto, na esfera municipal, Batista diz que não há apoio algum. "A Prefeitura de Igarassu não chama a gente pra nada. No Recife, fomos sorteados para abrir o Carnaval no Marco Zero, mas os outros maracatus protestaram alegando que somos de outra cidade. Mesmo com Igarassu sendo parte da Região Metropolitana, fomos cortados da programação".

Com 120 membros, o Canindé do Recife é o mais antigo caboclinho do estado e vai completar 113 anos no próximo mês de março. Até o momento, ele se mantinha com cachês e recursos de editais. Agora, terá estabilidade para investir em mais estrutura para a sede, na Bomba do Hemetério. No próximo domingo, recomeçam os treinos para o Carnaval. "Há cinco anos nos inscrevemos e agora conseguimos. Estou muito empolgada e feliz pelo reconhecimento", diz Juracy Simões, presidente da agremiação.

Instituída em 2002, a Lei do Patrimônio Vivo objetiva reconhecer e valorizar as manifestações populares e tradicionais da cultura pernambucana. Entre os 21 contemplados estão a cirandeira Lia de Itamaracá, a Orquestra Curica de Goiana e o cineasta Fernando Spencer.

(Diario de Pernambuco, 31/12/2009)

Cinema // Destino de Lula nas mãos dos brasileiros


Foto: Otávio de Souza / Divulgação

Conforme anunciado há mais de um ano, Lula - o filho do Brasil, de Fábio Barreto (O quatrilho), entra em cartaz amanhã em centenas de cinemas de todo o país.

Dada a alta popularidade do presidente e agressiva estratégia de divulgação, a expectativa é grande para saber se a bilheteria do filme realmente será um fenômeno do tipo "nunca antes na história deste país". Até agora, os números do investimento levam a crer que sim. É o maior lançamento (R$ 4 milhões) e a produção mais cara (R$ 12 milhões) do cinema nacional. Há também a pretensão de disputar o Oscar 2010, assumida desde o início do projeto idealizado por Luiz Carlos Barreto e família.

Lula, o filme, não tem somente as características do melodrama que, quando funciona, provoca lágrimas. Ele romantiza a vida pregressa do atual presidente a ponto de fazer da trajetória de Luiz Inácio da Silva (Rui Ricardo Diaz) algo tão perfeito quanto inverossímil. Da vida de retirante a líder operário, ele surge como o heroi predestinado ao papel de líder moderado, justo e passional. Mesmo quando chora no colo de Dona Lindu (Glória Pires), vítima de imposições do destino como a morte da primeira esposa, Lourdes (Cleo Pires) e a perseguição política, não há conflito ou falhas de caráter. Mesmo criança, em Caetés, tem ímpeto para defender a mãe dos arroubos violentos do pai, Aristides (Milhem Cortaz).

Contar a história do retirante nordestino que hoje toma chá com a rainha da Inglaterra é uma estratégia e tanto para emocionar plateias. Positiva ou não, a repercussão até agora contou a favor da produção. Assim como na vida real, o destino de Lula agora está na mão dos brasileiros.

(Diario de Pernambuco, 31/12/2009)

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Muitas emoções na reabertura do Cinema São Luiz


Foto: Beto Figueirôa

O retorno do Cine São Luiz, na última segunda-feira, foi uma noite de muitas emoções. A começar por uma pane elétrica, que quase inviabilizou o evento. Contornado o problema, quase mil convidados adentraram a mais bela sala de cinema do país, deslumbrante em detalhes, novinha em folha.

Artistas, produtores, profissionais liberais, políticos e gestores públicos estavam lá, quando a luz do projetor atingiu a tela e teve início o longa Baile Perfumado, que há 13 anos teve no mesmo local sua primeira sessão na abertura do primeiro Cine PE. A ocasião reuniu toda a equipe do longa (com exceção de Paulo Caldas, que está na França).

Provavelmente provocado por uma sobrecarga de energia (além da estrutura do cinema, havia holofotes e pontos de iluminação externa), o apagão começou às 17h15, e com o andar das horas fez surgir uma inusitada aglomeração naquele simbólico quadrante da Rua da Aurora. Às 20h, a luz interna voltou, para então cair de novo e voltar oscilante, mas definitiva. Aplausos e alívios. A sessão poderia começar.

Quinze minutos depois chegaram o governador Eduardo Campos e o secretário de Cultura Ariano Suassuna. No saguão, Eduardo (que apoiou o Baile quando era secretário da Fazenda do governo Miguel Arraes) abraçou Lírio Ferreira. No palco, o governador evocou a disposição libertária dos pernambucanos. Criticou aqueles que nada fizeram "por terem se entregado aos modismos e não à cultura pernambucana". E disse que o São Luiz é uma homenagem a todos que os artistas souberam resistir aos enlatados. À imprensa, Ariano ressaltou o papel do Estado ao apoiar projetos como este, numa época em que se assiste filmes no celular. "Das três versões para o cinema de Auto da Compadecida, duas foram exibidas aqui". Um pouco antes dos aplausos, um grito cortou o salão: "Lula Cardoso Ayres". Não fosse a iniciativa anônima, o nome de Lula, contratado para coordenar o projeto de restauro, não seria sequer citado.

A sessão começou por volta das 21h, mas o calor era tanto (a queda de energia não permitiu tempo hábil para refrigerar a sala) que parte do público não permaneceu até o fim. O sistema de som, apesar de analógico, recebeu elogios. Já a imagem estava levemente escurecida. "O ideal seria uma lâmpada de 4 mil watts (a lâmpada atual é de 3 mil)", disse o exibidor Kleber Mendonça Filho, do Cinema da Fundação.

O professor e diretor de cinema Leo Falcão chamou a atenção para as conversas na cabine de projeção e o acendimento prematuro das luzes, durante os créditos finais. "Transformar o São Luiz em um bom espaço de exibição já é um grande serviço. Espero que seja nervosismo de estreia e não se torne hábito da cultura de multiplex", disse Falcão.

Outra crítica recorrente foi a falta de um projetor digital. "Caso contrário, o cinema não vai refletir a atual produção", diz Gabriel Mascaro. Carla Francine, coordenadora de cinema da Fundarpe, diz que o equipamento digital deve estar funcionando a partir de março. Se a previsão se confirmar, o casal Alfredo e Sandra Bertini, organizadores do Cine PE, pretende negociar a volta de parte da programação ao local onde o evento nasceu.

A noite foi especial para o distribuidor de filmes Arlindo Leopoldo de Gusmão, 78 anos, que esteve na noite de inauguração do São Luiz, em setembro de 1952. "O filme de estreia foi O falcão dos mares, da Warner Brothers. Todo mundo usava paletó e gravata". Também atuante no ramo, Antonio Silva, 86 anos, disse que o cinema está muito bem restaurado. E deu a receita para o São Luiz ter vida longa: "o cinema está muito ligado à divulgação. Se ela for bem feita, o público chegará aos poucos. Antigamente havia a palavra 'habituée', isso precisa ser reconquistado".

Depoimentos

"A convergência tecnológica não vai tirar o papel do cinema. O resgate do conteúdo o grande desafio da identidade cultural. Reabrir o São Luiz quer dizer que Pernambuco volta a crer no seu futuro" - Eduardo Campos, governador

"A volta do cinema de rua traz frescor ao centro do Recife, que está abandonado. O São Luiz é um marco nesse sentido. Que não seja o único exemplo" - Cláudio Assis, cineasta

"É uma atitude de vanguarda ir na contra-mão dos lançamentos comerciais. Ultrapassa a barreira do bonito, é deslumbrante" - Lírio Ferreira, cineasta

"Para mim foi pura emoção. Nós temos cinemas virando igreja e supermercado e temos o São Luiz, que volta lotado dessa forma" - Marcelo Gomes, cineasta

"É maravilhoso poder voltar para o local onde frequentei tanto, palco sagrado do cinema pernambucano. Poder um dia tocar aqui seria maravilhoso" - Spok, músico

"Ele ultrapassa o conceito de sala de exibição. É o templo onde pessoas vêm usufruir de uma magia que os cinemas comerciais não podem mais oferecer" - Andréa Mota, produtora

(Diario de Pernambuco, 30/12/2009)

Entrevista // Lula Cardoso Ayres Filho: "O São Luiz só foi alugado por conta da confiança da Severiano Ribeiro em mim"

Qual foi sua participação na reabertura do São Luiz?
Embora a Fundarpe queira me escantear, tudo o que foi feito no São Luiz foi trabalho meu e da minha esposa.

Por que você acha que está sendo escanteado?
Por vaidade de Luciana (Azevedo), que quer aparecer. Ninguém queria saber do São Luiz até dois meses atrás. Tenho plena certeza de que ninguém da Fundarpe teria capacidade para fazer a obra, que envolve licitações e contratos. Agora que ela está pronta todo mundo quer o crédito.

Quando começou seu envolvimento no projeto?
Em 2006, quando o grupo Severiano Ribeiro anunciou o fechamento. Pela amizade que meu pai tinha com o grupo e o trabalho de preservação de filmes que eu faço, ofereceram o cinema para que o Instituto Lula Cardoso assumisse. Como não tínhamos condições, e nessa época eu mantinha ligação com o ex-prefeito João Paulo, marquei uma reunião com Ribeiro Neto e ficou certo de que em 2007 a prefeitura assumiria o cinema. Não deu certo porque o grupo não quis vender o prédio e então a Aeso surgiu com a proposta de recuperar o São Luiz.

Como o governo do estado assumiu a reforma?
Tinha plena certeza de que assim que Eduardo Campos fosse governador ele assumiria o projeto. Procuramos Luciana (Azevedo, da Fundarpe) e ela foi muito receptiva, nos tratou com carinho e disse que se elaborássemos um projeto, ela levaria para o governador. Quando Eduardo anunciou o arrendamento, continuei como interlocutor com a Severiano Ribeiro, pois ele não tinha interesse em manter contato com órgãos públicos. O São Luiz só foi alugado por conta da confiança da Severiano Ribeiro em mim. O grupo estava com um negócio praticamente fechado com a Faculdade Maurício de Nassau, que para ele é mais interessante por ser iniciativa privada.

Como o projeto foi conduzido desde então?
Em setembro de 2008, apresentamos um plano operativo que nem sei se foi lido. Na elaboração das planilhas não houve participação de ninguém da Fundarpe. Levantamos um quadro de pessoal, o mesmo que o cinema usava até antes de fechar. Das 16 pessoas, entre gerente, porteiros e técnicos, foram contratadas apenas três: eu, Taís e João Bosco (projecionista e técnico eletricista). E outras besteiras surgiram nessa etapa final.

Besteiras de que tipo?
Só tenho elogios a fazer a Eduardo por ter assumido a reforma, mas não se pode esquecer o que é um cinema de rua para se adequar a projetos políticos que vão transformar o São Luiz num circo. E quem vai ao cinema não quer saber quem administra, vai lá para ver filmes. Hoje temos 44 salas de multiplex que passam o que querem e acho complicado um filme como Lula - o filho do Brasil entrar em cartaz também no São Luiz. Se o filme fosse bom, tudo bem, mas ele vai passar por questões de puxa-saquismo.

O São Luiz volta a funcionar para o público em 12 de janeiro. Qual será a sua função no cinema?
Ainda estou aguardando para saber o que vai acontecer. Não sei qual será o nosso futuro. Estamos extremamente magoados pois fomos desprezados após trazer o São Luiz de volta.

(Diario de Pernambuco, 30/12/2009)

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Retrospectiva 2009 // A peleja da tecnologia com o cinema autoral



No ano em que Hollywood renovou o arsenal tecnológico e se mostrou capaz de monopolizar o parque exibidor mundial com dois ou três blockbusters, até que o Cinema, aquele com "C" maiúsculo, conseguiu se impor com dignidade.

Isso se deve a Michael Haneke, Quentin Tarantino, Lars Von Trier, Pedro Almodóvar, Woody Allen, Ang Lee, Gus Van Sant, Park Chan-wook, Ken Loach, Manoel de Oliveira, Gaspar Noé, Werner Herzog, Todd Solontz, Costa Gavras, Giuseppe Tornatore, Michael Moore, François Ozon, Stephen Frears, Alain Resnais, Andrzej Wajda, Theo Angelopoulos, Steven Soderberg, Tom Twiker, Oliver Stone, Michael Mann, Aleksandr Sokurov, Lucas Moodysson, Corneliu Porumboiu, Spike Jonze e Terry Gilliam, autores que apresentaram novos trabalhos e fizeram de 2009 um ano e tanto para a comunidade cinéfila, que precisou amargar a notícia da prisão de Roman Polanski. Seu novo filme, Ghost writer, acaba de ser selecionado para competir no Festival de Berlim, mas é pouco provável que ele possa viajar para o evento.

Quatro dos diretores acima citados estiveram no Brasil ao longo do ano. Além deles, em abril, Gavras foi a grande atração do 13º Cine PE, para o qual trouxe dois filmes: o inédito A oeste do Éden e o clássico Z, retirado de seu acervo pessoal e trazido para o Recife pelo próprio cineasta. Em outubro, Angelopoulos teve mostra especial e homenagem da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Mês passado, Tornatore (Cinema Paradiso) esteve em São Paulo para divulgar Baaria. No mesmo período, Oliveira, que aos 101 anos dirigiu Singularidades de uma rapariga loura, veio a Belo Horizonte receber o título de Doutor Honoris Causa da UFMG. Já Sylvester "Rambo" Stallone não só veio ao Brasil como rodou parte de seu novo longa, Os mercenários.

Em 2008, Hollywood balançou com a crise financeira e deu a volta por cima. Segundo o site especializado Filme B, mês passado o mercado de cinema superou o recorde de arrecadação. Somente nos EUA e Canadá, o montante de US$ 10 bilhões acumulados no ano. Este ano, o público foi de 102 milhões de espectadores. Frequentado por tubarões, o ecossistema exibidor esteve ameaçado pelo menos uma vez, em julho, quando mais de 1.800 salas brasileiras (cerca de 80% do total) estiveram ocupadas por apenas dois filmes: A era do gelo 3 e Harry Potter e o enigma do príncipe. Se acontecer novamente, os motivo$ são óbvios e indicam um mercado o mais conservador possível, em que prevalecem franquias já aprovadas pelo público e produções cada vez menos experimentais, a ponto de filmes inusitados como a mistura de ficção científica e pseudo-documentário Distrito 9 ficarem cada vez mais raros.

O mercado para filmes 3D cresceu em 2009. De acordo com o Filme B, 54% da renda obtida no Brasil com a animação Up, da Disney / Pixar, foi recolhida das salas 3D, que hoje responde por 5 % do parque exibidor nacional (quase 100 salas). Nos EUA, mais de um terço dos cinemas está equipado com essa tecnologia de projeção. Tanto lá quanto cá, o empurrão que faltava veio do maior lançamento 3D da história, Avatar, de James Cameron, a primeira megaprodução (e até o momento, a mais cara) projetada especialmente para esse suporte. Se como filme não é lá essas coisas, cumpre o papel de apontar para possibilidades narrativas inéditas a serem incorporadas por sucessores.

Os filmes de terror talvez sejam os recordistas em remakes em 2009. Arraste-me para o inferno, homenagem de Sam Raimi a filmes como os que ele mesmo dirigiu no começo da carreira, talvez seja a melhor das produções inspiradas na estética anos 80. Entre os remakes estão Dia dos namorados macabro, Sexta-feira 13 e Halloween II. A hora do pesadelo e Hellraiser chegam em 2010. Estranho no ninho na trinca clássica de vampiros, lobisomens e zumbis está o pequeno e eficaz Atividade paranormal, que com poucos recursos conseguiu assustar mais do que todos os outros juntos. Releituras norte-americanas para filmes de outros países também estão em voga: este ano tivemos O olho do mal (remake de Eye - a herança), Imagens do além (remake dotailandês Espíritos) e Quarentena (versão para o espanhol Rec). Já a franquia Crepúsculo / Lua nova demonstrou poder entre o público jovem com doses de romantismo mórbido. Reinado ameaçado por zumbis, que estão chegando com tudo, a começar por Zombieland, de Ruben Fleischer e Survival of the dead, de George Romero.

Personagens de histórias em quadrinhos foram menos frequentes em 2009, mas continuaram sendo investimento seguro. Em fevereiro, o solo Wolverine trouxe Hugh Jackman ao Brasil e o consolidou como astro mundial. Em março, The Spirit adaptou a obra de Will Eisner para o cinema e trouxe a certeza de que o diretor Frank Miller funciona melhor fazendo graphic novels do que cinema. Abril foi o mês de Watchmen, clonagem doentia de Zack Snyder - com dez minutos iniciais de soberba criação - sobre obra homônima de Alan Moore que, como em outras adaptações, vendeu os direitos, mas proibiu a citação de seu nome nos créditos.

Retrospectiva 2009 // Vocação para o riso fácil

Com as "globochanchadas", o cinema nacional reafirmou em 2009 a vocação para o riso fácil e capaz de alavancar bilheterias. Em termos quantitativos, os filmes do ano foram Se eu fosse você 2, Os normais 2, A mulher invisível e Divã.

Somente o primeiro foi responsável por atrair aos multiplexes mais de seis milhões de pessoas - a segunda maior bilheteria do ano (só perde para A era do gelo 3) e sexta maior da história do país. Este ano, os filmes brasileiros representam quase 20% da arrecadação total dos cinemas. Isso significa que Glória Pires e Selton Mello, as "caras" dessa filmografia, encararam de igual para igual Wolverine, Harry Potter, anjos, demônios, lobos e vampiros.

Surgiram, mas não emplacaram as tentativas adversas ao padrão estabelecido para o blockbuster nacional. Salve geral , de Sérgio Rezende, fez que ia, mas a fórmula à Carandiru não enquadrou na nova ordem. É proibido fumar, de Anna Muylaert, apostou no humor inteligente, no apelo de Glória Pires no papel principal e vários prêmios no Festival de Brasília, mas mal conseguiu durar duas semanas em cartaz. Já o inspirador Hotel Atlântico, de Susana Amaral, passaria somente uma semana (no Box Guararapes), não fosse a curadoria atenta que fez render mais 15 dias no Cinema da Fundação.

Nos festivais, prevaleceram os documentários. Se a ousadia de Moscou deixou público, crítica e o próprio diretor Eduardo Coutinho desconcertados em Paulínia, o carnaval aloprado de Alô Alô Terezinha, de Nelson Hoinef, foi o grande vencedor no Cine PE. Os pernambucanos Um lugar ao Sol, de Gabriel Mascaro (exibido no Brasil e mais quatro países) e Pacific, de Marcelo Pedroso (que ainda lançou o média Balsa), são exemplos de renovação no gênero, percebida no também pernambucano Corumbiara, de Vincent Carelli (melhor filme em Gramado), no mineiro A falta que me faz, de Marília Rocha e nos paulistas Cidadão Boilesen, de Chaim Litewski (melhor filme no festival É Tudo Verdade) e Quebradeiras, de Evaldo Mocarzel (melhor direção em Brasília).

2009 também foi o ano dos doc musicais. Simonal - ninguém sabe o duro que dei (que esmiuça a vida de Wilson Simonal) e Lóki (sobre o ex-Mutante Arnaldo Baptista) são dois dos que mais circularam e conseguiram se manter em cartaz nos cinemas. Humberto Teixeira (O homem que engarrafava nuvens, de Lírio Ferreira), Herbert Vianna (Herbert de perto), Paulo Vanzolini (Um homem de moral), Zé Ramalho (O herdeiro de Avohai), Jards Macalé (Um morcego na porta principal) e Novos Baianos (Filhos de João) são outros personagens que renderam contribuições positivas. No ano que vem o subgênero ganha reforço com Raul Seixas (Walter Carvalho) e bandas do rock brasiliense (Vladimir Carvalho).

Oscilando entre diferentes recursos narrativos, um dos melhores longas do ano é Viajo porque preciso, volto porque te amo, de Marcelo Gomes e Karim Ainouz. Junto com Insolação, de Daniela Thomas e Felipe Hirsch, ele representou o Brasil na mostra competitiva do Festival de Veneza, em setembro. Em maio, o carioca No meu lugar, de Eduardo Valente, desempenhou o mesmo papel no Festival de Cannes.

Com exceção do primeiro parágrafo, a maioria dos filmes citados nessa matéria permaneceram restritos a salas e sessões especiais, que compõem uma rede de exibição pública e privada em que a bilheteria não é o único critério de seleção. Em agosto de 2009, os responsáveis por essas salas se reuniram no Recife, que sediou o primeiro encontro nacional de programadores. Segundo eles, as salas alternativas agonizam e se nenhuma providência for tomada, em breve fecharão as portas por imposições da tecnologia de exibição digital/película.

O assunto foi retomado por outro viés em outubro, durante a Janela Internacional de Cinema. Tanto Marcelo Gomes quanto Marcelo Pedroso propuseram estratégias de exibição alternativa em escolas e espaços coletivos que não os convencionais. Uma rede que se forma aos poucos com a ação do MinC (Cine + Cultura) e grupos como a Federação Pernambucana de Cineclubes.

Em 2009, os curta-metragens pernambucanos se destacaram como os melhores do país. De doze curtas selecionados em Brasília, quatro foram feitos no Estado: Recife frio, de Kleber Mendonça (melhor direção e roteiro; melhor filme pela crítica e público); Ave Maria ou mãe dos sertanejos, de Camilo Cavalcante (melhor filme, fotografia e som); Azul, de Eric Laurence (melhor som); e Faço de mim o que quero, de Petrônio de Lorena e Sérgio Oliveira. Ao longo do ano, Não me deixe em casa, de Daniel Aragão, esteve em Gramado e Confessionário, de Leo Sette, no É Tudo Verdade e Festival Internacional de Curtas de SP. Mesmo tendo estreado em 2008, Superbarroco, de Renata Pinheiro e Nº 27, de Marcelo Lordello, tiveram vida longa nos festivais deste ano. Recife frio também foi o vencedor do Festival de Santa Maria da Feira (Portugal) e acaba de ser selecionado para os festivais de Tiradentes (MG) e Rotterdam (Holanda). Tchau e bênção, de Daniel Bandeira, estreou no último Festival de Cinema e Vídeo de Pernambuco e em janeiro estará no Festival de Tiradentes.

No Recife, o ano se encerra com a esperadavolta do Cine São Luiz que, renovado, começa o ano tendo Lula - o filho do Brasil como parte da programação. Cinebiografia do presidente mais popular da história do país, orçado em R$ 12 milhões e com uma estratégia agressiva de entrar em 500 salas, o filme ambiciona ser uma das maiores bilheterias do cinema nacional. Será que um "melodrama épico", como define o diretor Fábio Barreto - que deve permanecer hospitalizado durante a estreia - irá abalar o lucrativo reino das comédias globais?

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Mais do que uma simples versão



Ouvindo "a" versão de Flaming Lips para The Dark Side of the Moon (1972), do Pink Floyd.

Henry Rollins e Peaches participam nos vocais.

O bebê na capa não está ali por acaso. Liberdade total na homenagem. Nada de reverência engessante. Recriação. Música contemporânea. Nice trip.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Um filme terrivelmente necessário



O filme mais radical do ano está de volta ao Cinema da Fundação. Anticristo (Antichrist, Dinamarca, 2009), de Lars Von Trier, será exibido nesta sexta-feira em sessão única às 16h30.

No mesmo programa, que encerra a Expectativa 2010 / Retrospectiva 2009, está a reprise de À procura de Eric (Reino Unido, 2009), de Ken Loach e Momma's man (EUA, 2008), de Azazel Jacob, filmes que se destacaram em festivais e devem entrar em cartaz no ano que vem.

Anticristo já está disponível em DVD, mas seu impacto pode ser melhor sentido no cinema - coletivamente, em tela grande e sala escura são as melhores condições para a verve iconoclasta de Trier surtir efeito. A aversão a certas cenas pode ser forte - há mutilação e tortura na história do casal que se isola na floresta para superar a perda do bebê e se perdem em pesadelo e loucura. Para chegar ao final sem muitas náuseas, é preciso olhar para além do significado objetivo/racional. As imagens são construídas para dizer algo que imediatamente pode parecer obscuro, mas que de alguma forma precisam ser vistas.

Sob a carcaça de filme de horror estão elementos que o diretor há tempos vem desenvolvendo. Há a misoginia de Dançando no escuro e Dogville, de volta na personagem de Charlotte Gainsbourg (em performance que rendeu prêmio de melhor atriz em Cannes), que se interessa pelo assunto a ponto de cometer autoflagelação. E os fantasmas da alma, estudados pelo personagem de Willem Dafoe, psicólogo convicto de que, após a morte acidental do bebê, é possível salvar a esposa da depressão com terapia cognitiva.

No embate entre o racional e o oculto, vencem as "forças da natureza", em fenômenos compreendidos pela mulher como influências demoníacas. O que leva a refletir sobre os significados para o nome desta obra chocante, perturbadora e terrivelmente necessária.

(Diario de Pernambuco, (18/12/2009)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Revolução Avatar



Uma revolução é o mínimo que a indústria do cinema, uma das mais rentáveis do mundo, deve promover de tempos em tempos. Pena que esses upgrades fiquem restritos à tecnologia e estratégias de mercado, enquanto a linguagem do cinema permaneça subutilizada.

No caso de Avatar (EUA, 2009), em cartaz amanhã no mundo inteiro e hoje em regime de pré-estreia, as centenas de milhões de dólares investidos (há especulações de que produção e distribuição podem ter chegado a US$ 500 milhões) parecem não ter evitado que o filme se movimente em clichês manjados. Por outro lado, a mega-produção orquestrada por James Cameron - que há 15 anos vislumbrou o projeto e somente nos últimos anos teve condições técnicas de realizá-lo - coloca o cinema-espetáculo em patamares nunca antes imaginados.

A imprensa, que assistiu ao filme durante a semana, não tem medido elogios: "O cinema chega ao século 21", "o início de uma nova era" e o "o filme que mudou a forma de ver cinema" são algumas frases que se multiplicam pela internet. Para uma experiência completa nesse sentido, é recomendável assistir ao longa na sala 3D (na região metropolitana, a única sala está no Box Guararapes). Desde o início, Avatar foi concebido para o formato e só se adaptou às duas dimensões por imposições de mercado.

Avatar não inventou a roda. O paradigma do cinema em 3D existe faz tempo. O que ele faz é explorar possibilidades e detalhes não somente impressionantes, mas capazes de envolver a ponto de criar a ilusão de estar vivenciando um mundo fantástico, ambientado a 4,4 anos-luz da Terra, no ano de 2154.

Apesar de Cameron definir o filme como "uma história de amor", ele remete a preocupações ecológicas e à sanha colonialista dos EUA. Em termos de gênero, se enquadra numa mistura de aventura e ficção-científica, em voga nos quadrinhos dos anos 80 e filmes como Guerra nas Estrelas VI - O retorno de Jedi e seus seres estranhos que vivem numa floresta alienígena. Só que em vez dos Ewoks, os seres bonzinhos e integrados à natureza são os Na'vi, espécie de aborígenes azulados com três metros de altura que vivem em Pandora, uma das luas de Polyphemus, forma gasosa situada no sistema de Alpha Centauri. Eles não sabem, mas estão prestes a serem dizimados pelos humanos, de olho numa valiosa reserva de minérios localizada sob uma super-árvore sagrada.

Para estudar o território e a cultura alien, cientistas e militares enviam o soldado Jake Sully (Sam Worthington) em um avatar, receptáculo híbrido entre seu DNA e a estrutura corporal Na'vi, batizado pelos extraterrestres de caminhante dos sonhos. Jake deve ganhar a confiança do clã que vive no local e convencê-los a retirada pacífica, mas o envolvimento com a filha do líder, Neytiri (Zöe Saldana) o ensina que viver numa floresta e em conexão com a natureza não é coisa de outro planeta. Para tanto, ele conta com a ajuda da cientista-chefe Grace, fumante à moda antiga interpretada por Sigourney Weaver, em participação que extrapola o contexto para uma homenagem por sua contribuição a filmes pop / sci-fi como Alien e Ghostbusters.

É estranho que os EUA tenham que ir a outro planeta para rascunhar uma autocrítica do que países ricos fazem com pobres - não é difícil fazer paralelos entre Pandora e África ou Oriente Médio. Mas antes de comprar o discurso politicamente correto de Avatar, é preciso lembrar que não é de hoje que Hollywood vende rebeldia como entretenimento.

Números da produção

A partir de amanhã, Avatar entra em 653 salas de todo o país - 548 em 35 mm, 103 em 3D e duas Imax.

No Recife, o filme entra em 15 salas (nove cópias legendadas e seis dubladas).

A história se passa no ano 2154, numa lua chamada Pandora, a 4,4 anos-luz da Terra.

A produção custou US$ 380 milhões, a mais cara da história do cinema.

O diretor James Cameron concebeu o projeto há 15 anos.

A produção durou 4 anos e utilizou as mais recentes técnicas de Motion Capture e 3D estereoscópíco.

Avatar está indicado ao Globo de Ouro em quatro categorias: melhor filme (drama), direção e trilha sonora (James Horner) e canção original (I will see you); no Critics Choice Awards ele recebeu nove indicações.

(Diario de Pernambuco, 17/12/2009)

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A hora e vez do curta pernambucano



Dois mil e nove foi um ano e tanto para o curta-metragem pernambucano. Somente em Brasília, mês passado, quatro filmes estreantes deram o que falar e monopolizaram os principais prêmios. No Recife, eles serão exibidos pela primeira vez hoje, às 20h20, na programação da Expectativa 2010/Retrospectiva 2009 do Cinema da Fundação.

Ave Maria ou mãe dos sertanejos, de Camilo Cavalcante, foi escolhido melhor filme, fotografia (Beto Martins) e som (Nicolas Hallet) em Brasília. É o segundo de uma trilogia de documentários poéticos sobre as diferentes versões da Ave Maria de Schubert: a primeira, cantada por Stevie Wonder e transmitida diariamente às 18h por uma FM do Recife; agora, o diretor olha para os costumes arcaicos e modernos do povo do Sertão, ao som da Ave Maria sertaneja, de Luiz Gonzaga; o próximo curta, ainda sem nome, mostra a relação da burguesia com a Santa e terá como trilha a Ave Maria de Gounod.


Recife frio, em foto não publicável em jornais

Recife frio, de Kleber Mendonça Filho, é uma comédia que usa elementos de ficção científica, documentário e musical para narrar o dia em os recifenses foram obrigados a adaptar costumes e valores culturais e econômicos a uma inversão climática radical. O filme brinca com as paisagens típicas da cidade e ainda conta com locações em Calhetas, Gramado e litoral da África do Sul. No elenco, Andrés Schaffer, Yannick Ollivier, Junior Black, Pedro Bandeira e Lia de Itamaracá. Durante a sessão em Brasília Recife frio causou furor, foi aplaudido duas vezes antes da sessão acabar e venceu como melhor curta (público e crítica), direção e roteiro (júri oficial). Sua carreira está só começando: no último domingo, foi eleito melhor filme (júri oficial e popular) no 13º Festivalde Cinema Luso-Brasileiro em Santa Maria da Feira (Portugal).

Com produção de Isabella Cribari e direção de arte de Dantas Suassuna, a ficção Azul, de Eric Laurence demonstra força nas imagens e sons (Hallet, também premiado em Brasília) e na atuação de Zezita Matos, que interpreta uma senhora que todos os dias leva a mesma carta, escrita pelo filho (Irandhir Santos), para que a amiga (Magdale Alves) a leia. Ela vive numa casa isolada no Agreste, construída especialmente para o curta, e que remete a outro locus, o da solidão existencial.

A linguagem caótica/anárquica de Faço de mim o que quero, de Sérgio Oliveira e Petrônio Lorena, gerou risadas e certo estranhamento na plateia de Brasília. Parte da crítica adorou o filme, que deve ser o primeiro inteiramente dedicado ao universo do brega. Com imagens e sons típicos, o filme incorpora a permissividade inerentes à música como experimento de linguagem. Tudo parte de uma câmera-carrinho de CDs pirata, literalmente o veículo de divulgação dos artistas, para setornar um delírio que passa por programas de TV, salões de beleza e paquera na praia de Brasília Teimosa, que gerou uma sequência em formato fotonovela, onde uma dançarina (a atriz Samara Cipriano) contracena com Rodrigo Mell (autor de Chupa que é de uva). Para a sessão, os diretores convidaram alguns artistas, entre eles o Conde do Brega, João do Morro, Kelvis Duran e a banda Vício Louco, que devem permanecer para o bate papo com o público.

Amanhã, às 21h10, o programa traz mais quatro curtas da nova safra: o inédito Teatro da alma, de Deby Brennand, Nossos ursos camaradas, de Fernando Spencer, Confessionário, de Leonardo Sette e Tchau e bênção, de Daniel Bandeira. Nas duas noites, os realizadores participam das sessões e depois conversam com o público.

(Diario de Pernambuco, 16/12/2009)

Filmes locais no Cultura Viva

Os curtas pernambucanos A minha alma é irmã de Deus, de Luci Alcântara, e Depois do jantar, de Alba Azevedo e Nara Viana, foram selecionados pelo 1º Festival Cine Cultura Viva, que começa hoje, no Museu Nacional do Complexo Cultural da República, em Brasília.

Promovido pelo MinC, o evento premia curtas de ficção em oito categorias. Vinte produções de todo o Brasil concorrem aos prêmios. O objetivo é valorizar e discutir a atividade do curta-metragem no mercado cinematográfico e promover a integração de realizadores independentes com o programa Cultura Viva. Além da mostra competitiva, o festival promove um ciclo de palestras e debates e a mostra especial Ponto Brasil, com filmes de até 4 minutos produzidos por Pontos de Cultura em parceria com a TV Brasil.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

"Tocaia no asfalto", de Roberto Pires, renasce restaurado


Foto: Ugo Pedreira /Divulgação

De Salvador, Alê Pinheiro avisa que Tocaia no asfalto (1962), de Roberto Pires, acaba de ganhar cópia restaurada em 35mm. A primeira sessão será nesta quarta, 19h, no DIMAS - Sala Walter da Silveira, Biblioteca Pública dos Barris. A entrada é franca.

No elenco estão Agildo Ribeiro, Othon Bastos, Geraldo del Rey, Arassary de Oliveira, Adriano Lisboa, Ângela Bonatti, David Singer, Jurema Pena e Antônio Pitanga, em um de seus primeiros papéis.

Considerado precursor do Cinema Novo - Glauber Rocha e Orlando Senna são produtores de Tocaia, Pires e seu legado vêm sendo administrado por um grupo de jovens baianos, entre eles o filho do cineasta, Petrus Pires.

A volta de Tocaia , patrocinada pelo Programa de Restauro Cinemateca Brasileira – Petrobras, faz parte de um projeto maior, que inclui o restauro de Redenção (1959), o primeiro longa baiano, que ganhará exibição itinerante a partir de março de 2010, e A grande feira (1961).

Mais informações aqui.

Projeto destina R$ 250 milhões para cultura em PE

Durante três dias, centenas de pessoas lotaram uma casa de recepção no bairro da Boa Vista, em virtude da 2ª Conferência Estadual de Cultura. Ao fim das atividades, a impressão foi a de estar numa Torre de Babel.

No mesmo espaço estavam artesãos, músicos, cineastas, produtores, um grupo de maracatu, representantes de povos indígenas e gestores públicos de 154 municípios pernambucanos. No total, 731 pessoas - 261 delegados da sociedade civil, 169 delegados governamentais, 81 convidados e 115 observadores - participaram do processo que legitimou dois documentos e a delegação que representará o estado em Brasília, durante a 2ª Conferência Nacional de Cultura.

Democracia dá trabalho. Ainda mais porque nem todos estavam atentos ao que estava sendo discutido. "Tem gente que nem olhou para as propostas, passou o tempo todo fazendo lobby", disse um participante, que preferiu não se identificar. "As regras e a metodologia não estavam claras desde o início e o ambiente (um salão gigante) não permitiu aos subgrupos se organizar", disse outro. Na mesa estiveram Luciana Azevedo (presidente da Fundarpe), Tarciana Portella (chefe do MinC-NE), Roberto Peixe (coordenador do Sistema Nacional de Cultura, Teca Carlos (gestora do Sistema Estadual de Cultura) e Renato L (secretário de cultura do Recife).

Peixe vê a insatisfação como algo intrínseco ao momento de transição."Estamos num processo de desentralização das decisões, das capitais para o interior. E isso não quer dizer que com a inclusão dos excluídos haverá a exclusão dos incluídos, só que os recursos, que antes ficavam concentrados na mão de poucos, agora terão que ser divididos". Evandro Sena, da coordenadoria de música da Fundarpe, defendeu o processo que acompanhou desde o início: "ao contrário dos que somente criticaram, as pessoas que de fato participaram dos grupos saíram satisfeitas".

Na tarde da última quinta, além de eleger os 24 delegados estaduais e definir o rol de prioridades a serem defendidas em Brasília, o CEC discutiu o projeto de lei estadual que instituirá umapolítica pública específica para a cultura, que deve ser submetido pelo deputado Guilherme Uchôa à Assembléia Legislativa após o recesso de fim de ano. Entre as mudanças estabelecidas está a criação de um conselho estadual de política cultural paritário, em que 50% seja eleito pela população e 50% pelo governo. Uma das moções sugeridas durante a conferência é que a Secretaria de Cultura do Estado, que atualmente é especial, passe a ser executiva.

Outro ponto importante é que, caso seja aprovado, o projeto garantirá 1,5% do orçamento geral do estado para a cultura - algo em torno de 250 milhões. O percentual é estabelecido pelo Plano Nacional de Cultura, que ainda prevê 2% do Orçamento da União e 1% do orçamento dos municípios para o setor. "Vamos instituir os 1,5% antes mesmo de Brasília e ocupar o espaço de vanguarda que sempre nos orgulhamos", disse Luciana Azevedo, que presidiu a conferência.

De acordo com Peixe, Acre, Bahia e Ceará também preparam seus próprios projetos de lei. Ex-secretário de cultura do Recife, Peixe tem viajado pelo Brasil há cinco meses, acompanhando 25 conferências estaduais, que representam as demandas de 3 mil municípios. Para ele, Pernambuco passa por um momento importante para a cultura. "Há uma defasagem enorme entre a produção cultural do Estado e a falta de institucionalização de sua gestão".

Todos os estados brasileiros estão se preparando para o CNC, que há quatro anos gerou o Plano Nacional de Cultura e desta vez pretende adaptá-lo à demandas específicas de cada estado e município. "Também será um momento de ação política para garantir que esses planos e projetos de lei que tramitam pelo Congresso sejam aprovados", disse Peixe.

(Diario de Pernambuco, 14/12/2009)

Hora infeliz



Comédias são ótimas formas de falar sério. As melhores nos convidam a questionar maus costumes, a quebrar preconceitos. Não é o caso de Happy hour, que simplesmente os reforçaram. O Teatro de Santa Isabel não chegou a ficar lotado e mesmo assim demorou a fazer silêncio após a peça começar. Nos primeiros minutos, portas batendo, gente atrasada falando alto e celulares ligados provam que falta educação entre aqueles que podem pagar R$ 60 por uma hora de entretenimento.

É para essa faixa de público – a que pode e gosta de tomar um black label num barzinho da moda e tem urticária quando ouve em reforma agrária ou distribuição de renda - que a peça dirigida por Jô Soares serve de espelho. Pode-se rir da caricatura que o ator Juca de Oliveira (autor do texto) faz da classe média e suas opiniões pré-fabricadas pela revista Veja. Mas na maior parte do tempo, prevalece a identificação ideológica.

As luzes iluminam um balcão com garrafas. No banco redondo, de copo na mão, Oliveira brinda a platéia. “O público é a vida do artista. Nos últimos 50 anos, passei mais tempo com vocês do que com a família”. Por isso, explica, resolveu externar suas opiniões com a sinceridade de quem está numa roda de amigos, tomando uísque.

A peça pode ser descrita como uma crítica à corrupção na política brasileira, mas não é o caso. O que começa como um desabafo generalizado se torna um ataque sistemático contra o presidente Lula e a esquerda no poder. Fala-se em Sarney para atingir Lula. O recente escândalo com o governador Arruda? Lula. Engarrafamento? Lula. Impotência sexual? A culpa é de Lula. Após um pudor inicial, o público do Santa Isabel se abriu em risadas e aplausos. Nada como destilar ódio de classe na intimidade dos iguais.

Em certos momentos, houve o mal estar de olhar para o próprio reflexo. A sala ficou em silêncio quando Oliveira chamou militantes do MST e beneficiários do Bolsa Família de desocupados. Em São Paulo, reduto político de Serra, Alkmin e Maluf, a recepção deve ter sido mais calorosa - a montagem permaneceu em cartaz por sete meses. Chama a atenção as logomarcas impressas no material de divulgação de Happy hour. Não pela do Governo de São Paulo, mas pela do Governo Federal. É como se o MinC patrocinasse a coluna do Diogo Mainardi.

(Diario de Pernambuco, 14/12/2009)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

O salto da Orquestra



Com apenas três anos de carreira, a Orquestra Contemporânea de Olinda acaba de confirmar sua primeira turnê internacional. Será nos Estados Unidos, entre os meses de março e abril de 2010. O circuito começa com o festival South by Southwest, em Austin, Texas, e termina 30 dias depois em Miami, no Heineken TransAtlantic Festival. Quem traz a notícia é Melina Hickson, que assumiu a agenda da banda para o exterior.

"Estes shows estão confirmados e estamos negociando outros em Nova York, Nova Orleans, Chicago e Washington", diz a produtora. Argentina e Uruguai são outros países na mira de Melina, que também agencia o compositor Siba Veloso fora do Brasil.

Enquanto março não vem, a banda comemora com uma série de shows no Recife. O primeiro será hoje, na Feira Música Brasil, em programação que ainda traz, entre outros, Kassin, Wilson das Neves, Cidadão Instigado, Pitty e Marcelo D2. Na virada do ano, a festa será no palco do Acaiaca, em Boa Viagem. No dia 9 de janeiro, ao lado da banda Eddie, a banda participa do projeto Original Olinda Style, nas dependências do Mercado Eufrásio Barbosa.

Até o momento, a série de shows nos EUA é o ápice de uma trajetória que já rendeu uma indicação ao Grammy Latino 2009, à final do Prêmio da Música Brasileira (ex-prêmio Tim) e o reconhecimento da mídia especializada - o New York Times publicou resenha elogiosa e o jornal O Globo considerou o show da OCO um dos melhores do ano passado.

A big band, forjada nas ladeiras de Olinda na conjunção de artistas do cenário pop com músicos de uma antiga orquestra de frevo, também é recordista de shows fora do estado. Somente em 2009, são mais de 80 apresentações em 10 estados brasileiros. Turnê patrocinada pela Fundarpe, que investiu R$ 60 mil. "Fizemos esse dinheiro render o máximo", diz o empresário da banda, José Oliveira. Para conseguir espaço e logística longe de casa, ele adotou a estratégia de cultivar agentes locais. Os shows, garante, são todos lotados. "Convocamos bastante público pela comunidade do MySpace e com um mailing eletrônico gigantesco".

A OCO surgiu do encontro entre Oliveira e Gilú, que atua como percussionista, compositor e arranjador do grupo de dez músicos, que inicialmente participavam como contratados, mas terminaram por absorver o espírito do projeto. "Eles entraram na viagem. Perceberam que o trabalho não acaba quando descemos do palco. Os músicos que vão se sobrepor são os que estão ligados nisso", diz Gilú.

O primeiro núcleo da OCO responde pela base criativa: Gilú, Tiné (voz), Maciel Salú (voz e rabeca), Juliano Holanda (guitarra), Hugo Gila (baixo) e Rapha B. (bateria). O segundo é um naipe de sopros do Grêmio Musical Henrique Dias: Daniel Marinho (trompete), Ibraim Genuíno (trombone), Alex Santana (Tuba), liderados pelo maestro Ivan do Espírito Santo (flauta, sax alto, barítono e tenor).

Uma das primeiras conquistas veio no ano passado, quando a Slap, selo da Som Livre para bandas independentes, incluiu o primeiro álbum em seu catálogo. Com o nó da distribuição desatado, a tiragem de 5 mil CDs foi rapidamente esgotada. Um segundo álbum de inéditas está a caminho e deve incluir DVD e tiragem em vinil.

(Diario de Pernambuco, 11/12/2009)

Marcelia Cartaxo - de Cajazeiras-PB para as estrelas de Clarice


Foto: Osmário Marques

Marcélia Cartaxo ontem, no Bar Central, após sessão da cópia restaurada de A hora da estrela, de Suzana Amaral no Cinema da Fundação.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Articulações para negócios e festa da música



A Feira Música Brasil 2009 começou ontem e segue até domingo com uma programação que interessa tanto a profissionais quanto ao público que aprecia a boa música. Para aqueles, haverá dezenas de conferências, painéis, oficinas, palestras, exposições e rodadas de negócio com representantes de empresas nacionais e estrangeiras que atuam no mercado digital, gravadoras, exportadoras e festivais. No total, são 400 convidados de diferentes países. Para o grande público, o evento traz 35 shows em dois palcos do Recife Antigo, sem falar no Circuito Vivo, festival paralelo com mais de 40 artistas em oito palcos da cidade.

"É uma festa, não só uma feira", disse o diretor do Centro de Música da Funarte, Cacá Machado, na coletiva de imprensa, ontem à tarde. A seu lado, estavam na mesa o presidente da Funarte, Sérgio Mamberti e os diretores-executivos da FMB, Cacá Mamoni e Carlos Tabakof. Mamberti falou sobre necessidade de impulsionar uma economia baseada não somente nas imposições do mercado, uma economia criativa. "Vivemos um momento de abertura e de construção de um novo processo. Nós sabemos da importância da música brasileira não só na formação da indentidade do país, mas como movimentador de divisas. É perverso que isso esteja subjugado somente a interesses particulares. Queremos construir uma economia com todos os seus atores".

Para participar desse processo, basta frequentar as reuniões do Fórum da Rede Música Brasil, hoje e amanhã das 13h às 16h (MinC-NE - Rua do Bom Jesus, 237). A plenária final será sábado, mesmo horário, no Porto Digital (Rua do Apolo, 181). Esta será a quarta reunião do fórum, que nasceu na Feira da Música de Fortaleza, e já passou pelo Porão do Rock (Brasília) e Goiânia Noise.

"Às vezes escutamos notícias de que o mercado da música está mal. Para mim, isso não é verdade e (a FMB) é um espaço para essa positividade", disse Tabakoff, que pretende solidificar o evento como um marco no calendário nacional. Como diferencial dos eventos de negócio da música existentes em outras capitais (no Recife, temos o Porto Musical), Tabakof destaca a abrangência e o monitoramento. "Faremos um trabalho de quantificação para criar uma base de negócios". A FMB também não deixa a desejar se comparada a grandes festivais. "Para o ano que vem, queremos ampliar a grade. O coração do evento é a música, queremos que ela seja mostrada em toda a sua diversidade", disse Mamoni.

Shows e filmes - Somente na noite de hoje, nove shows gratuitos podem ser assistidos no Marco Zero: A Trombonada (19h), Nina Becker (19h40), Banda Naurêa (20h20), Milocovik (21h), Júpiter Maçã (21h40), André Abujamra (22h20), Macaco Bong (23h), Mundo Livre (23h40) e Sepultura (00h40).

De hoje a sábado, no Cinema Apolo, a FMB promove uma mostra de filmes em parceria com a Cinemateca Brasileira. Hoje será exibido Cartola - música para os olhos (Brasil, 2007), de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda; amanhã, o documentário O rock brasileiro - histórias em imagens (Brasil, 2009), de Bernardo Palmeiro; e sábado, Beyond Ipanema(EUA, 2009), de Guto Barra. Os diretores das três produções estarão presentes nas sessões, que começam às 18h30.

(Diario de Pernambuco, 10/12/2009)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Para fazer ferver o Marco Zero



A noite promete. Nação Zumbi apresenta hoje um show novinho em folha, com participação de Paralamas do Sucesso, Arnaldo Antunes, Fred Zeroquatro e Siba Veloso. Para tornar o momento ainda mais especial, este será o primeiro vídeo oficial da banda ao vivo no Recife, cidade-musa das primeiras canções e onde tudo começou. No repertório estão mais de 20 músicas pinçadas dos sete discos de carreira, mais a inédita Cordão de ouro, composta para o filme Besouro e nunca tocada no palco.

Previsto para os primeiros meses de 2010, o DVD tem direção de Danilo Bechara, que assina o projeto da MTV Sintonizando Recife. Este não será o primeiro da carreira da Nação, que em 2006 lançou o excelente Propagando. Simbolicamente, é um acerto de contas com o público do Recife, então preterido pelo de São Paulo. "Cada coisa tem seu tempo. Gravamos lá por motivos técnicos, pois ficaria inviável trazer o equipamento todo para cá. Conseguimos agora, graças aos patrocinadores (os principais são a Fundarpe e a Rede Globo). Agora deu tudo certo", diz o baixista Alexandre Dengue.

Em conversa com o Diario, ele desmente os boatos de que o show faz parte da turnê que comemora os 15 anos do álbum Da lama ao caos, lançado em 1994 pelo selo Chaos, da Sony. "Tocaremos um pouco de cada disco, inclusive músicas que não apresentávamos faz tempo, como Corpo de lama, que há pelo menos dez anos não entrava nos shows. Será um show bem pra cima, de acordo com o clima do Marco Zero".

A dinâmica imposta pela gravação do DVD exige entrosamento entre a banda e convidados, a ponto de os ensaios terem começado na segunda-feira. Os improvisos ficam somente entre uma música e outra, em temas esticados durante o ajuste de equipamentos. O público não deve sentir tanta diferença de um show comum, pois não há planos de tocar a mesma música mais de uma vez, recurso utilizado para dar mais opção na hora de editar o material. "A não ser que algo der muito errado, queremos entrar e fazer tudo de primeira", diz o baixista.

Claro que o emblemático "cumpleaños" da Nação faz parte do evento promovido pela Feira Música Brasil 2009. Quinze anos não são 15 meses e o som da banda evoluiu um tanto desde que Chico Science arriscou as primeiras performances. "Pra gente é algo natural, não enxergamos essa evolução de forma clara porque estamos envolvidos no processo. Às vezes é como um tapa ver o que conseguimos construir, ao logo desses sete discos", fala Dengue.

Olhando para o futuro próximo, 2010 será venturoso para os músicos da Nação: não bastasse o DVD ao vivo e o oitavo álbum de inéditas, há a esperada estreia em estúdio de Los Sebosos Postizos, projeto paralelo que faz releituras dub de Jorge Ben, Kraftwerk e Beatles (assim como o álbum da Nação, produzido por Mario Caldato). Além disso, o Maquinado de Lúcio Maia está com o segundo álbum quase pronto e o 3 na Massa de Rica Amabis, Pupillo e Dengue, em breve entrará em estúdio novamente. Já o projeto desenvolvido entre Lúcio, Pupillo e Seu Jorge ainda não tem data certa.

Diferente de quando começaram, essa produção chega em ecossistema musical regido mais pela internet do que pelas rádios ou gravadoras. "Tudo ficou mais rápido, as pessoas baixam música mesmo, sem dó. O mundo está se adaptando a essa nova realidade, ninguém sabe onde isso vai dar. Acho que vai ter CD, vinil, mp3, tudo ao mesmo tempo, mas essa liberdade na internet, de baixar um filme inteiro de graça, vai acabar". Em comum com os primórdios está a independência, já que a Nação nunca lançou disco sem gravadora. Dengue dá o recado: "antigamente a gente fazia barulho sem ter nada, nem ser conhecido. Agora é arregaçar as mangas e lançar o próximo disco de forma independente".

(Diario de Pernambuco, 09/12/2009)

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Easy Star's Lonely Hearts Dub Band

Galo Preto canta alto



Nos anos 90, no bojo do manguebeat, a cultura popular passou a ser item de consumo de uma classe média que até então a considerava mero folclore. Artistas de longa data como Mestre Salu e Selma do Coco foram diretamente beneficiados por esse upgrade conceitual, que os elevou à categoria de estrelas pop. Entre os que lamentam não ter vivido esse momento está Galo Preto. Mestre do coco de embolada, enquanto muitos surfavam na efervescência cultural daquela época, ele amargava as consequências de ter passado dois anos atrás das grades. Após 15 anos de ostracismo, o embolador de 74 anos quer retomar a carreira que um dia o levou a programas de rádio e TV (entre eles, programas do Chacrinha, Flávio Cavalcanti e Silvio Santos) e vários estados do país.

Nos anos 70, durante o governo Heraldo Gueiros Leite, Galo Preto foi a Brasília ao lado de Luiz Gonzaga e Lourival Batista, participar da Festa da Bandeira. Em 14 de outubro 1979, o Diario de Pernambuco publicou matéria de página inteira, assinada por Lêda Rivas, que apresentou Galo Preto como "um dos maiores repentistas deste Nordeste de poetas".

Mas a história profissional de Tomás Aquino Leão Cavalcanti - o apelido Galo Preto, obtido pela valentia ao apartar uma briga, ainda estava por vir - começou bem antes, aos 12 anos, numa tarde de 1947, quando o poeta Ascenso Ferreira percebeu o talento do jovem garoto recém-chegado de Bom Conselho, Agreste do estado. "Meu irmão se mudou para Campo Grande, no Recife e eu fui com ele", conta Galo. "Eu gostava de música e futebol, e ele dizia que isso era coisa pra vagabundo e me botou pra vender fruta. Todo dia eu passava cantando na frente da casa de Ascenso. Um dia ele me deu o cartão de Zil Matos, que tinha um programa na Rádio Clube". Na rádio, Galo Preto cantou sua primeira composição, A pinta, que fez quando tinha nove anos.

Galo Preto conquistou a audiência, primeiro ao lado do irmão Curió, de quem se separou para fazer uma turnê como parte do cast da Rádio Clube e sofreu o primeiro revés. O radialista responsável pelos shows, Zé Renato, nunca pagou o cachê. De volta ao Recife, se apresentava em festas, bares e casas de família. "Tocava para os Queiroz, os Monteiro, os Coelho. Uma vez, num hotel, fui apresentado a Milton Lundgren, diretor das Casas Paulista, que me chamou para inaugurar uma loja, depois outra. Quando vi, já tinha viajado para oito estados".

A evidente criatividade para a criação de jingles o levou a participar de campanhas políticas. "Já trabalhei para Ney Maranhão, Paulo Guerra, Miguel Arraes. Na minha banda, mantinha como contratados Arlindo dos Oito Baixos, Novinho da Paraíba e Arlindo Moita". O episódio que culminou na sua prisão ocorreu justamente ao participar de uma disputa eleitoral, em 1992, quando foi acusado de liderar um grupo de extermínio em Peixinhos. "Passei dois anos, dois meses e seis dias preso por causa de uma mentira. Não tinham prova nenhuma, nem testemunha. Por que fiquei esse tempo todo preso?" Quando foi liberado por falta de provas, sua reputação no meio artístico já estava manchada. "Ninguém me procurou pra nada, todos acreditaram na mentira. Fiquei com nojo e parei com tudo".

Galo Preto não é o primeiro artista popular a cair no ostracismo após temporada atrás das grades. Há pouco tempo, Zé Neguinho do Coco amargou situação parecida. Para seu produtor, Alexandre L'Omi L'Odò, a prisão indevida de Galo Preto foi caso de racismo. "Ele só sofreu isso porque é negro", garante. "O que as pessoas não sabem é que ele é o último representante vivo do coco do quilombo Santa Isabel, em Bom Conselho, que domina o coco e a poesia de repente", afirma L'Omi, que pretende gravar um álbum com o mestre, publicar um livro com sua história e pleiteiar a Galo Preto o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco.

O isolamento do embolador foi rompido pela primeira vez em 2007, quando ele participou do projeto Coquistas contra a violência, promovido pela Secretaria de Saúde de Olinda. Wilson Freire, que registrou o projeto em vídeo, encontrou em Galo um bom personageme produziu o documentário O menestrel do coco, ainda sem data de lançamento.

O projeto gerou o único registro fonográfico de Galo Preto em 65 anos de carreira e o colocou ao lado de Dona Selma, Aurinha do Coco, Beth de Oxum, Zeca do Rolete, entre outros. Seu primeiro grande show foi na festa de três anos do programa Sopa Diário, onde tocou no mesmo palco que Mundo Livre e Lula Queiroga. Desde então, ele se apresentou na Festa da Lavadeira, Festival de Garanhuns e Pre AMP. Em agosto, foi destaque na Feira da Música de Fortaleza, onde foi selecionado entre mais de 600 artistas brasileiros inscritos. A mais nova conquista surgiu esta semana, quando foi escolhido para integrar a programação off-Feira Música Brasil / Conexão Vivo, no próximo sábado, na Torre Malakoff.

(Diario de Pernambuco, 08/12/2009)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Expectativa 2010 / Retrospectiva 2009



Chabrol. Ken Loach. Lars Von Trier. Tarantino. Sam Raimi.

Up. Amantes. Star Trek. Distrito 9.

A Palma de Ouro. O Urso de Prata.

Susana Amaral. Lírio Ferreira. Marcelo Pedroso. Gabriel Mascaro. Esmir Filho.

Os curtas pernambucanos exibidos em Brasília, três deles premiados:


Recife frio, de Kleber Mendonça Filho - melhor direção, roteiro, prêmio do público e da crítica


Ave Maria ou mãe dos sertanejos, de Camilo Cavalcante - melhor filme, fotografia e som


Azul, de Eric Laurence - melhor som


Faço de mim o que quero, de Sérgio Oliveira e Petrônio de Lorena

E os novos trabalhos de Deby Brennand, Fernando Spencer, Leo Sette e Daniel Bandeira.

Até 18/12, no Cinema da Fundação.

Programação completa no Pernambuco.com.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Art Spiegelman fala sobre "Breakdowns"



A Quadrinhos na Cia, selo da Companhia das Letras dedicado ao gênero, acaba de lançar Breakdowns, de Art Spiegelman.

O livro traz material publicado nos anos 70 - entre ele, as páginas originais de Maus, acrescido de comentários ilustrados que ocupam quase metade da nova edição.

Em virtude do lançamento, um dos melhores do ano, a Folha de São Paulo conversou com o autor, que raramente dá entrevistas.

Alguns temas: auto-análise, criação, a linguagem dos quadrinhos, sua visita ao Brasil nos anos 90 e a amizade com R.Crumb.

Leia a íntegra aqui.

Os monstros de cada um



O Onde vivem os monstros (Where the wild things are ), o novo longa de Spike Jonze estreia no Brasil em 1º de janeiro.

O mercado livreiro se antecipa e lança o roteiro adaptado (Os monstros, Companhia das Letras, R$ 50) e a obra original (Onde vivem os monstros, CosacNaify, R$ 42,90).

Publicado em 1963, o livro escrito e ilustrado por Maurice Sendak mostra o que acontece quando um garoto bagunceiro não se deixa vencer pelo castigo da mãe, que o chama de monstro.

Trancado no quarto, ele viaja para um mundo repleto de monstros onde vira rei.

Além do exercício de auto-afirmação da personalidade, o garotinho nos lembra da importância em preservar instintos.

Manter monstros vivos - e brincando - questão de sobrevivência.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Ney Matogrosso sussurra ao ouvido



Ney Matogrosso está de volta ao Recife, onde apresenta seu mais recente trabalho, Beijo bandido. Marcado para as 21h hoje, no Teatro Guararapes (Centro de Convenções), o show será o primeiro feito no Nordeste, uma prévia do que será a nova turnê. Se comparado com Inclassificáveis, turnê com a qual viajou por dois anos e terminou na semana passada com a entrega do Prêmio Shell, o novo show será igualmente sofisticado, só que mais sóbrio e intimista do que a verve roqueira e expansiva do trabalho anterior. Ingressos custam R$ 120 (platéia) e R$ 100 (balcão), com direito à meia-entrada. Informações: 3182-8020.

O repertório será o do novo álbum, que intercala Vinícius de Moraes, Chico Buarque, Jacob do Bandolim, Zé Ramalho e outros compositores consagrados com novos talentos como o gaúcho Vítor Ramil e o alagoano Júnior Almeida. Como bônus, há Incinero (Zé Paulo Becker) e Da cor do pecado (Bororó). A banda, montada para o projeto, investe no formato acústico e traz Leandro Braga (piano e direção musical), Lui Coimbra (cello e violão), Ricardo Amado (violino e bandolim) e Felipe Roseno (percussão).

Em entrevista ao Diario, Ney fala sobre o momento da carreira, que inclui o papel principal no filme Luz nas trevas, de Helena Ignez, continuação de O bandido da luz vermelha, clássico do cinema marginal de Rogério Sgarnzela.

Entrevista // Ney Matogrosso: "Sou um ser humano livre"

Comparando com a última turnê, como define o novo show?
É o extremo oposto. O que ele tinha de extrovertido este tem de contido. É mais teatral, com projeção de fotos minhas trabalhadas digitalmente, e de imagens de fogo e água para causar impacto emocional.

Como foi montar o repertório?
Não foi difícil. Já tinha gravado Tango para Tereza, De cigarro em cigarro e Fascinação. Pensei que estaria na caixa (Camaleão, que reúne 17 álbuns), mas não entraram. Como elas caminharam para algo mais romântico, aproveitei e escolhi uma de Roberto Carlos (À distância, com Erasmo), que nunca tinha gravado. Por último inclui Nada por mim (Herbert Vianna e Paula Toller), que só tinha cantado uma vez no palco, quando soube que a Marina estava na platéia. Sabia que não era uma composição dela, mas era a única que eu lembrava naquela hora. Eu queria que o álbum tivesse uma conotação pop, não somente da canção brasileira, e isso está presente não só por essa música, mas porque ele tem tango, bolero, uma música de Piazolla, outra de Cazuza. Ele é pop no sentido dessa abertura, de não estar restrito a um único universo musical.

No álbum você reúne novos compositores com consagrados. Como você percebe a música criada ultimamente?
Não concordo com algumas críticas que aponta para uma crise na criação. Vejo algumas dificuldades e obstáculos para essa composição recente chegar às rádios depois que a indústria faliu. Mas a criação musical continua muito viva.

Como foi interpretar o Bandido da Luz Vermelha em Luz nas trevas? O que atrai no cinema?
Sempre quis exercer meu lado ator. Antes de começar na música, estudava teatro. Cinema é muito trabalhoso, carga de 12 horas por dia, mas é muito interessante para mim, um exercício artístico atraente. Tanto que já fiz Sonho de valsa, de Ana Carolina, Diário de um Novo Mundo, de Paulo Nascimento, o média Caramujo flor, de Joel Pizinni e o curta Depois de tudo, de Rafael Saar. Gostaria de fazer mais. Estou disponível, desde que goste do papel.

Para compor o personagem utilizou sua experiência de palco?
Helena Ignez queria que eu trouxesse para o filme a persona artística, do palco. Não sei em que momento ela conseguiu juntar os dois. O papel exigiu uma concentração grande, mas o roteiro me deu muitas pistas. O Bandido é uma pessoa amargurada, revoltada e eu não sou assim. Conheci Paulo Vilaça (ator que fez o Bandido original), ele era amigo de muitos amigos meus quando morava em São Paulo, no final dos anos 60. Acho que temos similaridades, mas somos pessoas muito diferentes.

Até que ponto sua persona artística reflete sua vida pessoal?
As pessoas que se aproximam percebem que existe uma enorme diferença. Faço muitas entrevistas, gosto de falar muito, as pessoas percebem que faço um personagem livre. E sou um ser humano livre, sem a necessidade de ter a mesma exposição na vida particular.

Sua voz continua impecável. Qual a receita?
Não faço nada. Eu chego lá e canto. Mas vejo que para esse show, que tem muitas nuances, vou precisar fazer aquecimento vocal.

Após tantos anos de carreira, que compositores ainda deseja gravar?
Caetano, Alceu Valença, João Bosco. Também ouço muitas canções novas, que as pessoas me dão de presente nas viagens. Tenho quatro que pretendo incluir num trabalho futuro.

(Diario de Pernambuco, 05/12/2009)

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Estreia // "Abraços partidos", de Pedro Almodóvar



Um filme de Pedro Almodóvar nos cinemas da cidade é sempre algo a ser prestigiado. Seu mais novo trabalho, Abraços partidos (Los abrazos rotos, Espanha, 2009), dividiu opiniões quando estreou no Festival de Cannes, e faz parte da tendência autorreferente de seus últimos filmes.

As notas de produção o apresentam oficialmente como "uma história de amor insano, dominada pela fatalidade, caprichos, abuso de poder, traição e complexo de culpa". Considerando que é exatamente isso o que o público espera da "grife" estabelecida pelo diretor espanhol, talvez surja alguma decepção entre os que confrontarem a película com outras produções mais vigorosas e ousadas de sua filmografia. Então é preciso estender a descrição acima para algo que permeia o foco da trama: a realização cinematográfica.

Através de Harry Caine (Lluís Homar), um roteirista cego que nega o próprio passado, Almodóvar assume com ironia e elegância a dificuldade de olhar para si e seu legado. Caine na verdade é Mateo Blanco, cineasta de sucesso que após evento traumático se esconde no alter-ego inventado para assinar o texto de seus filmes. Blanco encontra em Lena (Penelope Cruz) a atriz ideal para seu novo filme, que aos poucos se torna um pastiche do Almodóvar clássico, de personagens histéricos e cores carregadas dos anos 80. Objeto do desejo de Blanco, Lena (não por acaso, musa recorrente de Almodóvar) é casada com o poderoso Ernesto Martel (José Luiz Gómez), que por ciúmes banca os custos da produção com sua fortuna e leva o triângulo à inevitável tragédia.

Quatorze anos depois, tudo isso está banido na memória de Caine, que vive sob a proteção da produtora Judit (Blanca Portillo) e seu filho Diego (Tamar Novas), com quem descobrirá não somente o passado recente, mas algo anterior e tão importante quanto as circunstâncias que tiraram sua visão e o separaram de Lena.

A reconstrução de uma foto rasgada ("rota", em espanhol) do casal abraçado leva à montagem da película inacabada. Mesmo às cegas, faz-se o possível. De alguma forma, diz Almodóvar, os filmes precisam ser terminados.

(Diario de Pernambuco, 04/12/2009)

Sessão de Arte apresenta: "Uma canção de amor", de Karin Abou



A Sessão de Arte do Multiplex Boa Vista apresenta nesta sexta (21h) e sábado (11h) a produção tunisiano-francesa Uma canção de amor. No domingo, o filme migra para o Kinoplex Casa Forte, às 12h10.

Dirigido por Karin Abou, o filme aborda a convivência entre judeus e muçulmanos no mesmo bairro, na Tunísia (Norte da África). Ao contrário do que diz o senso comum, a convivência entre eles é pacífica - o ano é 1942 e o estado de Israel ainda não havia sido criado. Nour (Olympe Borval) e Myriam (Lizzie Brocheré) são jovens de 16 anos, amigas de infância, e dividem a mesma casa. Tudo parece ir bem até a chegada do exércido alemão e sua perseguição, que aos poucos coloca fim a sonhos amorosos e planos de futuro.

Estreia // "Atividade paranormal", de Oren Peli



Nada de maníacos estripadores, zumbis ou vampiros. Atividade paranormal (Paranormal activity, EUA, 2007) promete assustar com o que não pode ser visto, ao simular um filme caseiro que mostra estranhos fenômenos no quarto de um casal. Para saber o que acontece enquanto dormem, eles deixam uma câmera para dar o flagra em supostos espíritos demoníacos, que a garota afirma que a perseguem desde criança. O filme de Oren Peli pega carona no estilo Bruxa de Blair, o que deve enganar alguns sobre a veracidade do que está sendo mostrado. Outra semelhança com Blair é o baixo orçamento (abaixo dos R$ 15 mil) e o retorno lucrativo nos EUA, onde liderou bilheterias e já faturou mais de R$ 30 milhões.

Estreia // "É proibido fumar", de Anna Muylaert



Com Glória Pires e Paulo Miklos na linha de frente, É proibido fumar (Brasil, 2009) estreia hoje com a pretensão de agradar a gregos e troianos com o apelo do elenco e diálogos inteligentes.

Ele chega aos cinemas de todo o país consagrado pelo Festival de Brasília, onde na semana passada conquistou a crítica e também ao júri oficial, que laureou o longa de Anna Muylaert (Durval Discos) com oito prêmios - melhor ator (Miklos), atriz (Pires), atriz coadjuvante (Dani Nefussi), roteiro (Muylaert), montagem (Paulo Sacramento), direção de arte (Mara Abreu) e trilha sonora (Márcio Nigro).

Assim como no filme anterior, a diretora constroi um universo leve, divertido e sedutor que, lá pelas tantas, quebra o ritmo para algo improvável e sombrio. A primeira metade confirma a simpatia de Muylaert pela estética pop-retrô e valores da (contra)cultura dos anos 70, cujo auge é a cena em que Baby / Pires, professora de violão retraída em seu passado, fuma um baseado oferecido pelo velho roqueiro Max / Miklos, que em cômico movimento oposto, toca samba numa churrascaria para sobreviver.

A proibição evocada no título fala diretamente não ao uso da cannabis, mas ao apego de Baby pela nicotina - ela fuma como uma condenada e a pedido de Max, tenta largar o vício. No desenrolar do enredo, que aos poucos ganha ares de suspense hitchcockiano, entende-se que o sentido diz respeito a segredos que uma relação exige para poder continuar. O filme brinca com isso a cada vez que uma das partes anuncia que tem algo importante para dizer. A consequente falta de coragem para abrir o jogo leva a pensar sobre os perigos de fazer as pazes sem saber exatamente o que está se perdoando.

(Diario de Pernambuco, 04/12/2009)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Ele morreu, Silvio ... !

Acabei de saber que Lombardi morreu ontem...

Por 40 anos, ele foi o locutor oficial de Silvio Santos, que chamava os patrocinadores com o bordão "É com você Lombardi"!!

A notícia me fez lembrar um dos maiores mistérios da minha infância: quem era Lombardi? Ele realmente existiu ou era somente uma voz que vinha do além?

Astuto entertainer das massas, Silvio investiu somente na voz do empregado, até que um paparazzo acabou com a lucrativa brincadeira.

Mesmo assim, em respeito àqueles que adoravam imaginar quem era Lombardi, eu dedico este post - sem fotos, óbvio.

Imagens raras do manguebeat



Chico Science e a cultura manguebeat estão de volta à "cena" hoje à noite, na última rodada competitiva do 9º Festival de Vídeo de Pernambuco. Viagem ao centro do mangue, do fotógrafo Gil Vicente, traz imagens raras de um encontro entre integrantes da Mundo Livre e Lamento Negro, grupo que pouco depois se juntaria ao Loustal para formar a Nação Zumbi. Editor-assistente de fotografia do Diario de Pernambuco, Vicente foi testemunha há 15 anos da gênese do movimento. No vídeo, que ele apresenta hoje pela primeira vez, ele trata do assunto a partir de uma sessão de fotos feita com os músicos numa expedição exploratória entre pontes, mangues e estações de trem.

A ideia de retirar o material da gaveta e adaptá-lo para a linguagem audiovisual surgiu após a abertura da exposição Camisa sonora, promovida pelo Memorial Chico Science. "Adriana Vaz (gerente de serviços do MCS), me convidou para fazer uma projeção das fotos em sequência", conta Vicente. O vídeo é um remix digital dessasimagens seminais, cerca de 40 fotos em preto e branco editadas e retrabalhadas em detalhes e tons. O experimento rendeu um conjunto de 250 novas imagens, que interagem sobre a trilha sonora com trechos e samplers de um show da CSNZ em Montreaux, disponibilizada na internet. O resultado, de acordo com o diretor, é um vídeo que transita entre o documentário experimental e o making of do que seria os primeiros momentos da cultura mangue.

Programação - Dezoito atrações estão previstas para hoje no Festival de Vídeo. Às 17h30, a mostra universitária apresenta Abril pro rock-fora do eixo, de Ricardo Almoêdo, Everson Teixeira e Júlio Neto, Depois do jantar, de Alba Azevedo e Nara Viana, Um carpinense chamado Aguinaldo, de Thalita Belo Pereira, Devaneio, de Marlom Meirelles e Ô de casa, de Júlia Araújo, Sheyla Florêncio, Mirthyani Bezerra. A partir das 19h, a mostra geral traz A invenção do cotidiano, de Diogo Luna, Refém, de Luna Silva Matos, A maldição de Simeão, de José Manoel da Silva, Acima da chuva, de TacianaOliveira, Hoje tem espetáculo, de Andreza Leite, The skate boy, de Marco Machado, Fairies, de André Pinto, Viagem ao centro do mangue, de Gil Vicente, Todo dia, de Daniel Barros, Dilema - Bob Black, de Taciana Oliveira, Mamulengo riso do povo, de Amanda Marques e Vilma Silva, Não me deixe em casa, de Daniel Aragão e Difusão, de Daniel Barros.

(Diario de Pernambuco, 03/12/2009)