terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Retrospectiva 2009 // A peleja da tecnologia com o cinema autoral



No ano em que Hollywood renovou o arsenal tecnológico e se mostrou capaz de monopolizar o parque exibidor mundial com dois ou três blockbusters, até que o Cinema, aquele com "C" maiúsculo, conseguiu se impor com dignidade.

Isso se deve a Michael Haneke, Quentin Tarantino, Lars Von Trier, Pedro Almodóvar, Woody Allen, Ang Lee, Gus Van Sant, Park Chan-wook, Ken Loach, Manoel de Oliveira, Gaspar Noé, Werner Herzog, Todd Solontz, Costa Gavras, Giuseppe Tornatore, Michael Moore, François Ozon, Stephen Frears, Alain Resnais, Andrzej Wajda, Theo Angelopoulos, Steven Soderberg, Tom Twiker, Oliver Stone, Michael Mann, Aleksandr Sokurov, Lucas Moodysson, Corneliu Porumboiu, Spike Jonze e Terry Gilliam, autores que apresentaram novos trabalhos e fizeram de 2009 um ano e tanto para a comunidade cinéfila, que precisou amargar a notícia da prisão de Roman Polanski. Seu novo filme, Ghost writer, acaba de ser selecionado para competir no Festival de Berlim, mas é pouco provável que ele possa viajar para o evento.

Quatro dos diretores acima citados estiveram no Brasil ao longo do ano. Além deles, em abril, Gavras foi a grande atração do 13º Cine PE, para o qual trouxe dois filmes: o inédito A oeste do Éden e o clássico Z, retirado de seu acervo pessoal e trazido para o Recife pelo próprio cineasta. Em outubro, Angelopoulos teve mostra especial e homenagem da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Mês passado, Tornatore (Cinema Paradiso) esteve em São Paulo para divulgar Baaria. No mesmo período, Oliveira, que aos 101 anos dirigiu Singularidades de uma rapariga loura, veio a Belo Horizonte receber o título de Doutor Honoris Causa da UFMG. Já Sylvester "Rambo" Stallone não só veio ao Brasil como rodou parte de seu novo longa, Os mercenários.

Em 2008, Hollywood balançou com a crise financeira e deu a volta por cima. Segundo o site especializado Filme B, mês passado o mercado de cinema superou o recorde de arrecadação. Somente nos EUA e Canadá, o montante de US$ 10 bilhões acumulados no ano. Este ano, o público foi de 102 milhões de espectadores. Frequentado por tubarões, o ecossistema exibidor esteve ameaçado pelo menos uma vez, em julho, quando mais de 1.800 salas brasileiras (cerca de 80% do total) estiveram ocupadas por apenas dois filmes: A era do gelo 3 e Harry Potter e o enigma do príncipe. Se acontecer novamente, os motivo$ são óbvios e indicam um mercado o mais conservador possível, em que prevalecem franquias já aprovadas pelo público e produções cada vez menos experimentais, a ponto de filmes inusitados como a mistura de ficção científica e pseudo-documentário Distrito 9 ficarem cada vez mais raros.

O mercado para filmes 3D cresceu em 2009. De acordo com o Filme B, 54% da renda obtida no Brasil com a animação Up, da Disney / Pixar, foi recolhida das salas 3D, que hoje responde por 5 % do parque exibidor nacional (quase 100 salas). Nos EUA, mais de um terço dos cinemas está equipado com essa tecnologia de projeção. Tanto lá quanto cá, o empurrão que faltava veio do maior lançamento 3D da história, Avatar, de James Cameron, a primeira megaprodução (e até o momento, a mais cara) projetada especialmente para esse suporte. Se como filme não é lá essas coisas, cumpre o papel de apontar para possibilidades narrativas inéditas a serem incorporadas por sucessores.

Os filmes de terror talvez sejam os recordistas em remakes em 2009. Arraste-me para o inferno, homenagem de Sam Raimi a filmes como os que ele mesmo dirigiu no começo da carreira, talvez seja a melhor das produções inspiradas na estética anos 80. Entre os remakes estão Dia dos namorados macabro, Sexta-feira 13 e Halloween II. A hora do pesadelo e Hellraiser chegam em 2010. Estranho no ninho na trinca clássica de vampiros, lobisomens e zumbis está o pequeno e eficaz Atividade paranormal, que com poucos recursos conseguiu assustar mais do que todos os outros juntos. Releituras norte-americanas para filmes de outros países também estão em voga: este ano tivemos O olho do mal (remake de Eye - a herança), Imagens do além (remake dotailandês Espíritos) e Quarentena (versão para o espanhol Rec). Já a franquia Crepúsculo / Lua nova demonstrou poder entre o público jovem com doses de romantismo mórbido. Reinado ameaçado por zumbis, que estão chegando com tudo, a começar por Zombieland, de Ruben Fleischer e Survival of the dead, de George Romero.

Personagens de histórias em quadrinhos foram menos frequentes em 2009, mas continuaram sendo investimento seguro. Em fevereiro, o solo Wolverine trouxe Hugh Jackman ao Brasil e o consolidou como astro mundial. Em março, The Spirit adaptou a obra de Will Eisner para o cinema e trouxe a certeza de que o diretor Frank Miller funciona melhor fazendo graphic novels do que cinema. Abril foi o mês de Watchmen, clonagem doentia de Zack Snyder - com dez minutos iniciais de soberba criação - sobre obra homônima de Alan Moore que, como em outras adaptações, vendeu os direitos, mas proibiu a citação de seu nome nos créditos.

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