quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
A hora e vez do curta pernambucano
Dois mil e nove foi um ano e tanto para o curta-metragem pernambucano. Somente em Brasília, mês passado, quatro filmes estreantes deram o que falar e monopolizaram os principais prêmios. No Recife, eles serão exibidos pela primeira vez hoje, às 20h20, na programação da Expectativa 2010/Retrospectiva 2009 do Cinema da Fundação.
Ave Maria ou mãe dos sertanejos, de Camilo Cavalcante, foi escolhido melhor filme, fotografia (Beto Martins) e som (Nicolas Hallet) em Brasília. É o segundo de uma trilogia de documentários poéticos sobre as diferentes versões da Ave Maria de Schubert: a primeira, cantada por Stevie Wonder e transmitida diariamente às 18h por uma FM do Recife; agora, o diretor olha para os costumes arcaicos e modernos do povo do Sertão, ao som da Ave Maria sertaneja, de Luiz Gonzaga; o próximo curta, ainda sem nome, mostra a relação da burguesia com a Santa e terá como trilha a Ave Maria de Gounod.
Recife frio, em foto não publicável em jornais
Recife frio, de Kleber Mendonça Filho, é uma comédia que usa elementos de ficção científica, documentário e musical para narrar o dia em os recifenses foram obrigados a adaptar costumes e valores culturais e econômicos a uma inversão climática radical. O filme brinca com as paisagens típicas da cidade e ainda conta com locações em Calhetas, Gramado e litoral da África do Sul. No elenco, Andrés Schaffer, Yannick Ollivier, Junior Black, Pedro Bandeira e Lia de Itamaracá. Durante a sessão em Brasília Recife frio causou furor, foi aplaudido duas vezes antes da sessão acabar e venceu como melhor curta (público e crítica), direção e roteiro (júri oficial). Sua carreira está só começando: no último domingo, foi eleito melhor filme (júri oficial e popular) no 13º Festivalde Cinema Luso-Brasileiro em Santa Maria da Feira (Portugal).
Com produção de Isabella Cribari e direção de arte de Dantas Suassuna, a ficção Azul, de Eric Laurence demonstra força nas imagens e sons (Hallet, também premiado em Brasília) e na atuação de Zezita Matos, que interpreta uma senhora que todos os dias leva a mesma carta, escrita pelo filho (Irandhir Santos), para que a amiga (Magdale Alves) a leia. Ela vive numa casa isolada no Agreste, construída especialmente para o curta, e que remete a outro locus, o da solidão existencial.
A linguagem caótica/anárquica de Faço de mim o que quero, de Sérgio Oliveira e Petrônio Lorena, gerou risadas e certo estranhamento na plateia de Brasília. Parte da crítica adorou o filme, que deve ser o primeiro inteiramente dedicado ao universo do brega. Com imagens e sons típicos, o filme incorpora a permissividade inerentes à música como experimento de linguagem. Tudo parte de uma câmera-carrinho de CDs pirata, literalmente o veículo de divulgação dos artistas, para setornar um delírio que passa por programas de TV, salões de beleza e paquera na praia de Brasília Teimosa, que gerou uma sequência em formato fotonovela, onde uma dançarina (a atriz Samara Cipriano) contracena com Rodrigo Mell (autor de Chupa que é de uva). Para a sessão, os diretores convidaram alguns artistas, entre eles o Conde do Brega, João do Morro, Kelvis Duran e a banda Vício Louco, que devem permanecer para o bate papo com o público.
Amanhã, às 21h10, o programa traz mais quatro curtas da nova safra: o inédito Teatro da alma, de Deby Brennand, Nossos ursos camaradas, de Fernando Spencer, Confessionário, de Leonardo Sette e Tchau e bênção, de Daniel Bandeira. Nas duas noites, os realizadores participam das sessões e depois conversam com o público.
(Diario de Pernambuco, 16/12/2009)
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