Durante três dias, centenas de pessoas lotaram uma casa de recepção no bairro da Boa Vista, em virtude da 2ª Conferência Estadual de Cultura. Ao fim das atividades, a impressão foi a de estar numa Torre de Babel.
No mesmo espaço estavam artesãos, músicos, cineastas, produtores, um grupo de maracatu, representantes de povos indígenas e gestores públicos de 154 municípios pernambucanos. No total, 731 pessoas - 261 delegados da sociedade civil, 169 delegados governamentais, 81 convidados e 115 observadores - participaram do processo que legitimou dois documentos e a delegação que representará o estado em Brasília, durante a 2ª Conferência Nacional de Cultura.
Democracia dá trabalho. Ainda mais porque nem todos estavam atentos ao que estava sendo discutido. "Tem gente que nem olhou para as propostas, passou o tempo todo fazendo lobby", disse um participante, que preferiu não se identificar. "As regras e a metodologia não estavam claras desde o início e o ambiente (um salão gigante) não permitiu aos subgrupos se organizar", disse outro. Na mesa estiveram Luciana Azevedo (presidente da Fundarpe), Tarciana Portella (chefe do MinC-NE), Roberto Peixe (coordenador do Sistema Nacional de Cultura, Teca Carlos (gestora do Sistema Estadual de Cultura) e Renato L (secretário de cultura do Recife).
Peixe vê a insatisfação como algo intrínseco ao momento de transição."Estamos num processo de desentralização das decisões, das capitais para o interior. E isso não quer dizer que com a inclusão dos excluídos haverá a exclusão dos incluídos, só que os recursos, que antes ficavam concentrados na mão de poucos, agora terão que ser divididos". Evandro Sena, da coordenadoria de música da Fundarpe, defendeu o processo que acompanhou desde o início: "ao contrário dos que somente criticaram, as pessoas que de fato participaram dos grupos saíram satisfeitas".
Na tarde da última quinta, além de eleger os 24 delegados estaduais e definir o rol de prioridades a serem defendidas em Brasília, o CEC discutiu o projeto de lei estadual que instituirá umapolítica pública específica para a cultura, que deve ser submetido pelo deputado Guilherme Uchôa à Assembléia Legislativa após o recesso de fim de ano. Entre as mudanças estabelecidas está a criação de um conselho estadual de política cultural paritário, em que 50% seja eleito pela população e 50% pelo governo. Uma das moções sugeridas durante a conferência é que a Secretaria de Cultura do Estado, que atualmente é especial, passe a ser executiva.
Outro ponto importante é que, caso seja aprovado, o projeto garantirá 1,5% do orçamento geral do estado para a cultura - algo em torno de 250 milhões. O percentual é estabelecido pelo Plano Nacional de Cultura, que ainda prevê 2% do Orçamento da União e 1% do orçamento dos municípios para o setor. "Vamos instituir os 1,5% antes mesmo de Brasília e ocupar o espaço de vanguarda que sempre nos orgulhamos", disse Luciana Azevedo, que presidiu a conferência.
De acordo com Peixe, Acre, Bahia e Ceará também preparam seus próprios projetos de lei. Ex-secretário de cultura do Recife, Peixe tem viajado pelo Brasil há cinco meses, acompanhando 25 conferências estaduais, que representam as demandas de 3 mil municípios. Para ele, Pernambuco passa por um momento importante para a cultura. "Há uma defasagem enorme entre a produção cultural do Estado e a falta de institucionalização de sua gestão".
Todos os estados brasileiros estão se preparando para o CNC, que há quatro anos gerou o Plano Nacional de Cultura e desta vez pretende adaptá-lo à demandas específicas de cada estado e município. "Também será um momento de ação política para garantir que esses planos e projetos de lei que tramitam pelo Congresso sejam aprovados", disse Peixe.
(Diario de Pernambuco, 14/12/2009)
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