quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Revolução Avatar



Uma revolução é o mínimo que a indústria do cinema, uma das mais rentáveis do mundo, deve promover de tempos em tempos. Pena que esses upgrades fiquem restritos à tecnologia e estratégias de mercado, enquanto a linguagem do cinema permaneça subutilizada.

No caso de Avatar (EUA, 2009), em cartaz amanhã no mundo inteiro e hoje em regime de pré-estreia, as centenas de milhões de dólares investidos (há especulações de que produção e distribuição podem ter chegado a US$ 500 milhões) parecem não ter evitado que o filme se movimente em clichês manjados. Por outro lado, a mega-produção orquestrada por James Cameron - que há 15 anos vislumbrou o projeto e somente nos últimos anos teve condições técnicas de realizá-lo - coloca o cinema-espetáculo em patamares nunca antes imaginados.

A imprensa, que assistiu ao filme durante a semana, não tem medido elogios: "O cinema chega ao século 21", "o início de uma nova era" e o "o filme que mudou a forma de ver cinema" são algumas frases que se multiplicam pela internet. Para uma experiência completa nesse sentido, é recomendável assistir ao longa na sala 3D (na região metropolitana, a única sala está no Box Guararapes). Desde o início, Avatar foi concebido para o formato e só se adaptou às duas dimensões por imposições de mercado.

Avatar não inventou a roda. O paradigma do cinema em 3D existe faz tempo. O que ele faz é explorar possibilidades e detalhes não somente impressionantes, mas capazes de envolver a ponto de criar a ilusão de estar vivenciando um mundo fantástico, ambientado a 4,4 anos-luz da Terra, no ano de 2154.

Apesar de Cameron definir o filme como "uma história de amor", ele remete a preocupações ecológicas e à sanha colonialista dos EUA. Em termos de gênero, se enquadra numa mistura de aventura e ficção-científica, em voga nos quadrinhos dos anos 80 e filmes como Guerra nas Estrelas VI - O retorno de Jedi e seus seres estranhos que vivem numa floresta alienígena. Só que em vez dos Ewoks, os seres bonzinhos e integrados à natureza são os Na'vi, espécie de aborígenes azulados com três metros de altura que vivem em Pandora, uma das luas de Polyphemus, forma gasosa situada no sistema de Alpha Centauri. Eles não sabem, mas estão prestes a serem dizimados pelos humanos, de olho numa valiosa reserva de minérios localizada sob uma super-árvore sagrada.

Para estudar o território e a cultura alien, cientistas e militares enviam o soldado Jake Sully (Sam Worthington) em um avatar, receptáculo híbrido entre seu DNA e a estrutura corporal Na'vi, batizado pelos extraterrestres de caminhante dos sonhos. Jake deve ganhar a confiança do clã que vive no local e convencê-los a retirada pacífica, mas o envolvimento com a filha do líder, Neytiri (Zöe Saldana) o ensina que viver numa floresta e em conexão com a natureza não é coisa de outro planeta. Para tanto, ele conta com a ajuda da cientista-chefe Grace, fumante à moda antiga interpretada por Sigourney Weaver, em participação que extrapola o contexto para uma homenagem por sua contribuição a filmes pop / sci-fi como Alien e Ghostbusters.

É estranho que os EUA tenham que ir a outro planeta para rascunhar uma autocrítica do que países ricos fazem com pobres - não é difícil fazer paralelos entre Pandora e África ou Oriente Médio. Mas antes de comprar o discurso politicamente correto de Avatar, é preciso lembrar que não é de hoje que Hollywood vende rebeldia como entretenimento.

Números da produção

A partir de amanhã, Avatar entra em 653 salas de todo o país - 548 em 35 mm, 103 em 3D e duas Imax.

No Recife, o filme entra em 15 salas (nove cópias legendadas e seis dubladas).

A história se passa no ano 2154, numa lua chamada Pandora, a 4,4 anos-luz da Terra.

A produção custou US$ 380 milhões, a mais cara da história do cinema.

O diretor James Cameron concebeu o projeto há 15 anos.

A produção durou 4 anos e utilizou as mais recentes técnicas de Motion Capture e 3D estereoscópíco.

Avatar está indicado ao Globo de Ouro em quatro categorias: melhor filme (drama), direção e trilha sonora (James Horner) e canção original (I will see you); no Critics Choice Awards ele recebeu nove indicações.

(Diario de Pernambuco, 17/12/2009)

Um comentário:

Anônimo disse...

poxa, fiquei triste em saber que o filme não abordará a história do desenho. Será que vai ser legal? O desenho é fantástico, colocando de lado que não escreveram o último livro, a nação do ar. Você já assistiu? recomendo.