sábado, 5 de dezembro de 2009

Ney Matogrosso sussurra ao ouvido



Ney Matogrosso está de volta ao Recife, onde apresenta seu mais recente trabalho, Beijo bandido. Marcado para as 21h hoje, no Teatro Guararapes (Centro de Convenções), o show será o primeiro feito no Nordeste, uma prévia do que será a nova turnê. Se comparado com Inclassificáveis, turnê com a qual viajou por dois anos e terminou na semana passada com a entrega do Prêmio Shell, o novo show será igualmente sofisticado, só que mais sóbrio e intimista do que a verve roqueira e expansiva do trabalho anterior. Ingressos custam R$ 120 (platéia) e R$ 100 (balcão), com direito à meia-entrada. Informações: 3182-8020.

O repertório será o do novo álbum, que intercala Vinícius de Moraes, Chico Buarque, Jacob do Bandolim, Zé Ramalho e outros compositores consagrados com novos talentos como o gaúcho Vítor Ramil e o alagoano Júnior Almeida. Como bônus, há Incinero (Zé Paulo Becker) e Da cor do pecado (Bororó). A banda, montada para o projeto, investe no formato acústico e traz Leandro Braga (piano e direção musical), Lui Coimbra (cello e violão), Ricardo Amado (violino e bandolim) e Felipe Roseno (percussão).

Em entrevista ao Diario, Ney fala sobre o momento da carreira, que inclui o papel principal no filme Luz nas trevas, de Helena Ignez, continuação de O bandido da luz vermelha, clássico do cinema marginal de Rogério Sgarnzela.

Entrevista // Ney Matogrosso: "Sou um ser humano livre"

Comparando com a última turnê, como define o novo show?
É o extremo oposto. O que ele tinha de extrovertido este tem de contido. É mais teatral, com projeção de fotos minhas trabalhadas digitalmente, e de imagens de fogo e água para causar impacto emocional.

Como foi montar o repertório?
Não foi difícil. Já tinha gravado Tango para Tereza, De cigarro em cigarro e Fascinação. Pensei que estaria na caixa (Camaleão, que reúne 17 álbuns), mas não entraram. Como elas caminharam para algo mais romântico, aproveitei e escolhi uma de Roberto Carlos (À distância, com Erasmo), que nunca tinha gravado. Por último inclui Nada por mim (Herbert Vianna e Paula Toller), que só tinha cantado uma vez no palco, quando soube que a Marina estava na platéia. Sabia que não era uma composição dela, mas era a única que eu lembrava naquela hora. Eu queria que o álbum tivesse uma conotação pop, não somente da canção brasileira, e isso está presente não só por essa música, mas porque ele tem tango, bolero, uma música de Piazolla, outra de Cazuza. Ele é pop no sentido dessa abertura, de não estar restrito a um único universo musical.

No álbum você reúne novos compositores com consagrados. Como você percebe a música criada ultimamente?
Não concordo com algumas críticas que aponta para uma crise na criação. Vejo algumas dificuldades e obstáculos para essa composição recente chegar às rádios depois que a indústria faliu. Mas a criação musical continua muito viva.

Como foi interpretar o Bandido da Luz Vermelha em Luz nas trevas? O que atrai no cinema?
Sempre quis exercer meu lado ator. Antes de começar na música, estudava teatro. Cinema é muito trabalhoso, carga de 12 horas por dia, mas é muito interessante para mim, um exercício artístico atraente. Tanto que já fiz Sonho de valsa, de Ana Carolina, Diário de um Novo Mundo, de Paulo Nascimento, o média Caramujo flor, de Joel Pizinni e o curta Depois de tudo, de Rafael Saar. Gostaria de fazer mais. Estou disponível, desde que goste do papel.

Para compor o personagem utilizou sua experiência de palco?
Helena Ignez queria que eu trouxesse para o filme a persona artística, do palco. Não sei em que momento ela conseguiu juntar os dois. O papel exigiu uma concentração grande, mas o roteiro me deu muitas pistas. O Bandido é uma pessoa amargurada, revoltada e eu não sou assim. Conheci Paulo Vilaça (ator que fez o Bandido original), ele era amigo de muitos amigos meus quando morava em São Paulo, no final dos anos 60. Acho que temos similaridades, mas somos pessoas muito diferentes.

Até que ponto sua persona artística reflete sua vida pessoal?
As pessoas que se aproximam percebem que existe uma enorme diferença. Faço muitas entrevistas, gosto de falar muito, as pessoas percebem que faço um personagem livre. E sou um ser humano livre, sem a necessidade de ter a mesma exposição na vida particular.

Sua voz continua impecável. Qual a receita?
Não faço nada. Eu chego lá e canto. Mas vejo que para esse show, que tem muitas nuances, vou precisar fazer aquecimento vocal.

Após tantos anos de carreira, que compositores ainda deseja gravar?
Caetano, Alceu Valença, João Bosco. Também ouço muitas canções novas, que as pessoas me dão de presente nas viagens. Tenho quatro que pretendo incluir num trabalho futuro.

(Diario de Pernambuco, 05/12/2009)

Nenhum comentário: