Com as "globochanchadas", o cinema nacional reafirmou em 2009 a vocação para o riso fácil e capaz de alavancar bilheterias. Em termos quantitativos, os filmes do ano foram Se eu fosse você 2, Os normais 2, A mulher invisível e Divã.
Somente o primeiro foi responsável por atrair aos multiplexes mais de seis milhões de pessoas - a segunda maior bilheteria do ano (só perde para A era do gelo 3) e sexta maior da história do país. Este ano, os filmes brasileiros representam quase 20% da arrecadação total dos cinemas. Isso significa que Glória Pires e Selton Mello, as "caras" dessa filmografia, encararam de igual para igual Wolverine, Harry Potter, anjos, demônios, lobos e vampiros.
Surgiram, mas não emplacaram as tentativas adversas ao padrão estabelecido para o blockbuster nacional. Salve geral , de Sérgio Rezende, fez que ia, mas a fórmula à Carandiru não enquadrou na nova ordem. É proibido fumar, de Anna Muylaert, apostou no humor inteligente, no apelo de Glória Pires no papel principal e vários prêmios no Festival de Brasília, mas mal conseguiu durar duas semanas em cartaz. Já o inspirador Hotel Atlântico, de Susana Amaral, passaria somente uma semana (no Box Guararapes), não fosse a curadoria atenta que fez render mais 15 dias no Cinema da Fundação.
Nos festivais, prevaleceram os documentários. Se a ousadia de Moscou deixou público, crítica e o próprio diretor Eduardo Coutinho desconcertados em Paulínia, o carnaval aloprado de Alô Alô Terezinha, de Nelson Hoinef, foi o grande vencedor no Cine PE. Os pernambucanos Um lugar ao Sol, de Gabriel Mascaro (exibido no Brasil e mais quatro países) e Pacific, de Marcelo Pedroso (que ainda lançou o média Balsa), são exemplos de renovação no gênero, percebida no também pernambucano Corumbiara, de Vincent Carelli (melhor filme em Gramado), no mineiro A falta que me faz, de Marília Rocha e nos paulistas Cidadão Boilesen, de Chaim Litewski (melhor filme no festival É Tudo Verdade) e Quebradeiras, de Evaldo Mocarzel (melhor direção em Brasília).
2009 também foi o ano dos doc musicais. Simonal - ninguém sabe o duro que dei (que esmiuça a vida de Wilson Simonal) e Lóki (sobre o ex-Mutante Arnaldo Baptista) são dois dos que mais circularam e conseguiram se manter em cartaz nos cinemas. Humberto Teixeira (O homem que engarrafava nuvens, de Lírio Ferreira), Herbert Vianna (Herbert de perto), Paulo Vanzolini (Um homem de moral), Zé Ramalho (O herdeiro de Avohai), Jards Macalé (Um morcego na porta principal) e Novos Baianos (Filhos de João) são outros personagens que renderam contribuições positivas. No ano que vem o subgênero ganha reforço com Raul Seixas (Walter Carvalho) e bandas do rock brasiliense (Vladimir Carvalho).
Oscilando entre diferentes recursos narrativos, um dos melhores longas do ano é Viajo porque preciso, volto porque te amo, de Marcelo Gomes e Karim Ainouz. Junto com Insolação, de Daniela Thomas e Felipe Hirsch, ele representou o Brasil na mostra competitiva do Festival de Veneza, em setembro. Em maio, o carioca No meu lugar, de Eduardo Valente, desempenhou o mesmo papel no Festival de Cannes.
Com exceção do primeiro parágrafo, a maioria dos filmes citados nessa matéria permaneceram restritos a salas e sessões especiais, que compõem uma rede de exibição pública e privada em que a bilheteria não é o único critério de seleção. Em agosto de 2009, os responsáveis por essas salas se reuniram no Recife, que sediou o primeiro encontro nacional de programadores. Segundo eles, as salas alternativas agonizam e se nenhuma providência for tomada, em breve fecharão as portas por imposições da tecnologia de exibição digital/película.
O assunto foi retomado por outro viés em outubro, durante a Janela Internacional de Cinema. Tanto Marcelo Gomes quanto Marcelo Pedroso propuseram estratégias de exibição alternativa em escolas e espaços coletivos que não os convencionais. Uma rede que se forma aos poucos com a ação do MinC (Cine + Cultura) e grupos como a Federação Pernambucana de Cineclubes.
Em 2009, os curta-metragens pernambucanos se destacaram como os melhores do país. De doze curtas selecionados em Brasília, quatro foram feitos no Estado: Recife frio, de Kleber Mendonça (melhor direção e roteiro; melhor filme pela crítica e público); Ave Maria ou mãe dos sertanejos, de Camilo Cavalcante (melhor filme, fotografia e som); Azul, de Eric Laurence (melhor som); e Faço de mim o que quero, de Petrônio de Lorena e Sérgio Oliveira. Ao longo do ano, Não me deixe em casa, de Daniel Aragão, esteve em Gramado e Confessionário, de Leo Sette, no É Tudo Verdade e Festival Internacional de Curtas de SP. Mesmo tendo estreado em 2008, Superbarroco, de Renata Pinheiro e Nº 27, de Marcelo Lordello, tiveram vida longa nos festivais deste ano. Recife frio também foi o vencedor do Festival de Santa Maria da Feira (Portugal) e acaba de ser selecionado para os festivais de Tiradentes (MG) e Rotterdam (Holanda). Tchau e bênção, de Daniel Bandeira, estreou no último Festival de Cinema e Vídeo de Pernambuco e em janeiro estará no Festival de Tiradentes.
No Recife, o ano se encerra com a esperadavolta do Cine São Luiz que, renovado, começa o ano tendo Lula - o filho do Brasil como parte da programação. Cinebiografia do presidente mais popular da história do país, orçado em R$ 12 milhões e com uma estratégia agressiva de entrar em 500 salas, o filme ambiciona ser uma das maiores bilheterias do cinema nacional. Será que um "melodrama épico", como define o diretor Fábio Barreto - que deve permanecer hospitalizado durante a estreia - irá abalar o lucrativo reino das comédias globais?
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