O Troféu Oscarito de 2010 foi para o ator Paulo César Pereio. Não se trata de justiça tardia, como ocorreu com Júlio Bressane dois anos atrás. Gaúcho de Alegrete, o ator esteve em Gramado várias vezes, onde foi premiado por sua atuação em Noite (1985), de Gilberto Loureiro, e As aventuras amorosas de um padeiro (1975), de Waldir Onofre. Em casa, Pereio estava bem comportado. Nada de palavrões, atitudes provocativas ou declarações politicamente incorretas. Ao contrário do personagem que há 50 anos ele vem construindo no teatro, TV e cinema, o que vimos foi um homem tranquilo, disposto a falar sobre sua visão de cinema e seus projetos atuais.
"É incrível receber um troféu Oscarito. Até hoje sou fã dele", disse o ator, na entrega do prêmio, terça à noite. "Ele é o grande representante do que a mídia tentou derrubar com esse nome, a chanchada. Que ainda é a grande escola do cinema brasileiro. Enquanto a gente desprezava, os norte-americanos tentaram roubar. Para mim, Mel Brooks é a chanchada brasileira".
Horas antes, na coletiva para a imprensa, Pereio ousou mais. "Me lembro de quando ganhei o primeiro Kikito, achei estranho porque ele tinha a bunda na frente. Mas depois mudaram isso". A conversa começou com um retrospecto do Festival de Gramado, o qual acompanha desde a primeira edição, em 1973. A consagração de Arnaldo Jabor e Hugo Carvana são para ele exemplos da sensibilidade de Gramado em apontar os rumos do cinema nacional. Lembrou inclusive que a abertura para filmes sul-americanos começou com o fechamento da Embrafilme, no começo dos anos 1990. "O Brasil não produzia mais filmes e graças a essa carência, começamos a tomar contato com esse cinema maravilhoso, que é o argentino".
Mas as recordações param por aí. Sobre Eu te amo (1981), Pereio diz não se lembrar de nada. "Quero falar de outro filme, Pereio, eu te odeio. Eu te amo já tem 30 anos, se você olhar pra mim naquele tempo, hoje tenho outra cara". Com direção de Allan Sieber, o documentário Pereio, eu te odeio deve estrear no começo do ano que vem e traz depoimentos de ex-mulheres, filhos e amigos. "Rodamos mais de três horas com gente falando mal de mim".
Para ele, apesar da adoção do modelo de produção norte-americano, o cinema brasileiro continua algo marginal. "O leito desse rio é pouco nítido, só vejo as margens. Os recursos são muito precários. Um filme de Hollywood com Julia Roberts dá pra bancar dois anos de cinema brasileiro". Dos projetos que participa, Pereio diz que se lembra sempre das filmagens, nunca dos filmes prontos. No festival deste ano, ele participa de Ponto Org, de Patrícia Moran. "Eu não vi ainda, então considero que estou no processo".
(Diario de Pernambuco, 11/08/2010)
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