terça-feira, 3 de agosto de 2010

Em nome do Rei do Baião



Há 21 anos, um filho perdia o pai. No caminho para o enterro, no interior de Pernambuco, ele admite: "Não conheci meu pai direito e amanhã é o enterro dele". Seu nome é Gonzaguinha, filho do Rei do Baião. E é através de seus olhos que a história de Luiz Gonzaga vai para o cinema, em filme dirigido por Breno Silveira (2 filhos de Francisco). O titulo provisório é Gonzaga de pai para filho. A trilha sonora original conta com Gilberto Gil. O elenco ainda não está definido, mas as filmagens começam no fim do ano, em Exu. O plano é lançar em 2012, ano do centenário de Gonzagão.

"É provavelmente o maior filme que já fiz na vida", diz Silveira. Semana passada, ele esteve no Recife, onde visitou o governador para estabelecer parcerias entre o estado e a Conspiração Filmes. A Downtown Filmes e Columbia Pictures assinam a coprodução e distribuição. Até o momento, 60% do orçamento está captado, via edital do BNDES. "Vou precisar de todo o apoio possível".

"No fundo o que movia o Gonzaguinha era ser reconhecido pelo amor do pai", diz Silveira, que baseia o roteiro, atualmente com trezentas páginas, nessa conturbada relação. Ele pretende fazer um filme que respeite a trajetória de Gonzagão, mas ao mesmo tempo com o apelo popular que o tornou nacionalmente conhecido. "Não será uma obra só para quem conhece Gonzagão. Ele fala do Brasil, de laços de amor, de migração, de tudo que um filho passou para se aproximar de seu pai. Assim, ele ganha um ar mais universal". Assim, Silveira pretende atingir também a parcela do público que não conhece ou não tem interesse direto em Gonzagão.

Com o filme, Silveira se orgulha de promover consenso em uma família há muito dividida, enquanto negociava a cessão de direitos. "A família está se unindo de novo. Convenci a todos a se encontrar depois de 15 anos. Foi um jantar lindo. Todos se entenderam e, desde então eles têm se falado regularmente".

Gonzaga de pai para filho surgiu quando Silveira havia desistido de fazer cinebiografias. "O sucesso de 2 filhos de Franscisco despertou a vontade de muita gente, que enviou propostas para filmar trajetórias difíceis que as pessoas vivem. Mas chegou nas minhas mãos uma fita de Gonzaguinha, sobre um Sertão que ele não conhecia bem, narrado com uma voz emocionada".

A ascendência pernambucana pesou na decisão. Seu avô, Breno Dália da Silveira, conheceu Gonzagão e viajava pelo Sertão da Paraíba e também em Carpina, onde tinha terras. "Quando criança, passei quase todas as minhas férias no Recife. Minha infância foi escutando Gonzagão com meu avô. Por isso, até hoje filmo o Sertão".

De acordo com Silveira, será um épico. "Teremos todas as dificuldades de fazer um filme de época, com várias locações. Vou rodar no Nordeste, na favela de São Carlos (RJ), onde Gonzaguinha foi criado, em Minas Gerais, onde Gonzagão cumpriu Exército. Não vou conseguir filmar de uma vez só. Pretendo começar a parte documental no final do ano, em Exu. Em abril, farei a ficcional, com atores".

Assim como em 2 filhos..., Silveira não pretende convidar atores famosos para os papéis principais. O teste de elenco é em outubro. A princípio, o roteiro será baseado em duas fontes: uma fita cassete entregue ao diretor através das pesquisadoras Maria Raquel e Márcia Braga, que mantêm contato com os herdeiros de Gonzaguinha; além do livro Gonzaguinha e Gonzagão: uma história brasileira, de Regina Echeverria, cujos direitos estão comprados pela produção do filme. Nele também estão transcritas as fitas gravadas por Gonzaguinha um mês após a morte do pai. "Quantas pessoas compreenderam a visão de meu pai?", se questiona o músico, a certa altura.

"Temos todos os ingredientes para fazer um bom filme, mais emocionante até do que 2 filhos.... Gonzagão foi da glória ao fundo do poço. Antes de ser resgatado por Gil, Caetano e o próprio Gonzaguinha, sua mulher, Helena, chegou a vender discos numa Kombi".

(Diario de Pernambuco, 03/08/2010)

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