sábado, 14 de agosto de 2010

Festival de Gramado // À espera dos Kikitos


Haruo Ohara - um dos melhores filmes do festival

Terminada a programação do 38º Festival de Gramado, o assunto mais discutido é o da distribuição dos Kikitos. A julgar pelo retorno do diretor Jefferson De e do ator Silvio Guindane ao festival, o júri oficial deve consagrar Bróder. Drama sobre família e amizade na violenta periferia paulista, o filme foi inicialmente escalado para abrir o evento, fora de competição.

Como não ganhou o prêmio principal em Paulínia, voltou ao páreo, de última hora. Entre críticos, Bróder divide opiniões. Parte dos avaliadores balança pelos documentários Contestado - Restos mortais, de Sylvio Back, O último romance de Balzac, de Geraldo Sarno, e Diário de uma busca, de Flávia Castro.

A noite de quinta-feira foi especial para os curtas. O mais instigante, Haruo Ohara, dialoga com a obra de um agricultor japonês que se tornou pioneiro da fotografia no Norte do Paraná. Fotografado em PB digital por Carlos Ebert, o filme encerra a Trilogia do esquecimento de Rodrigo Grota, três curtas de ficção explorados de forma documental. Os dois primeiros são Satori Uso (2007) e Booker Pittman (2008). Ambos foram premiados em Gramado e a boa recepção do terceiro indica que Grota não sairá daqui de mãos vazias.

"Morei em Londrina por dez anos e criei uma relação afetiva com a cidade", diz Grota. Apesar de manter o recorte temporal e geográfico - a Londrina dos anos 1950, Ohara se difere de Satori Uso e Pittman na abordagem, que dramatiza o contexto do fotógrafo em ação e junto com a família. Para recriar a fotografia de Ohara, Ebert se inspirou mais em seu olhar do que na técnica. "Ohara usava o processo fotoquimico negativo-cópia em filmes da baixa sensibilidade, que tem uma enorme latitude. Por isso, não poderia transpor nada para o digital, que tem suas limitações. Meu desafio foi transcriar sua percepção dentro do novo suporte".

De forma outra, o documentário Babás, de Consuelo Lins, utiliza fotografias antigas e anúncios de jornal para tratar da relação afetiva, histórica e social, inicialmente mantida entre famílias brancas e mães pretas para então assumir a moderna estrutura família burguesa / empregadas domésticas. Aos poucos, o foco se fecha para a história da diretora, que entrevista as babás que cuidaram dela na infância. A semelhança com Santiago, de João Moreira Salles, foi lembrada na coletiva de imprensa. Consuelo responde dizendo que o filme de Salles faz parte de uma tendência mundial de documentários em primeira pessoa. Mas admite: "Santiago é uma referência muito forte, não dá pra escapar"

Inspirada em sonho, a animação Os anjos no meio da praça, de Alê Camargo e Camila Carrossine, aposta no visual do 3D e trata de um garoto que assiste a seres alados caindo num povoado, onde são enclausurados.

Ratão provocou risadas com o pastiche de filmes de luta e humor de situações absurdas dos anos 1980. Só pelas referências já se pode ter uma ideia: Goonies, Aventureiros do bairro proibido, Tarantino, filmes blackspoitation, kung fu e Os Trapalhões. A trilha pega bem: Jehtro Tull, Jorge Ben e o pernambucano Di Melo.

Último longa nacional em competição, o documentário Diário de uma busca se aproxima do chileno Mi vida con Carlos, de German Berger. Menos afetiva, Flávia Castro também procura o pai que se foi, Celso Afonso Gay de Castro, militante perseguido pela ditadura, assassinado em estranhas circunstâncias em 1984.

(Diario de Pernambuco, 14/08/2010)

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