quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Kung Fu Kid
Impossível assistir The Karate Kid (EUA, 2010) sem tecer comparações com a versão original de 1984, onipresente no imaginário dos que cresceram expostos às infinitas Sessões da Tarde. Aos fãs, um alívio: o remake não ofende em nem um tiquinho o "legado" de Daniel Sam (Ralph Macchio) e Sr. Miyagi (Pat Morita).
Ao contrário, atualiza a relação de amizade entre mestre e discípulo. E um conselho: deixem as bandanas com o Sol vermelho em casa. O drama de superação adolescente agora se dá com novos personagens, em novo cenário: a China do século 21, para onde Dre Parker (Jaden Smith), 12 anos, é obrigado a se mudar com a mãe, que arranjou um emprego por lá.
Diferentemente do esperado, a modalidade de luta não é o caratê, mas o kung fu. Nada de propaganda enganosa: "Karate Kid" é a forma jocosa com que os valentões de plantão chamam o garoto franzino, quando tenta se defender com golpes aprendidos em programa de TV. Já o Sr. Han (Jackie Chan) não veio de Okinawa ou conhece a arte do Bonsai. É responsável pela manutenção do condomínio e traz no passado uma história tão triste quanto a de seu antecessor.
Antes de virar herói do kung fu, Dre se livra dos vícios e arrogâncias da cultura norte-americana, treina em locais sagrados e também na Muralha da China. Os produtores não brincaram em serviço, rodaram 100% do filme na atual potência econômica. Um deles é Will Smith, poderoso pai do ator-mirim, empenhado em repassar ao filho a imagem de descolado, engraçadinho, conquistador e bom de briga. Conseguiu.
No tatame, o clima musical meloso de Glory of love é banido em prol do rock'n'roll do AC/DC e Red Hot Chili Peppers. A linguagem dos games de luta fala alto, no placar eletrônico e no esperado golpe final. A precocidade do novo Kid é tanta que ele não faria nada tão ridículo quanto o "chute da garça".
(Diario de Pernambuco, 27/08/2010)
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