sexta-feira, 25 de junho de 2010

Estreia // "Mary and Max", de Adam Eliott



A animação Mary and Max (Austrália, 2009) retrata o drama de gente triste e solitária a partir da história de duas pessoas confinadas a lados opostos do mundo, que trocando cartas se tornaram melhores amigos. Com oito anos, Mary Daisy Dinkle mora no subúrbio de uma cidade da Austrália. Aos 44, Max Jerry Horovitz vive num pequeno apartamento em Nova York. De tão desajustados às suas realidades, eles se apegam a uma amizade à distância, movida a confidências, fotografias e estranhas receitas de chocolate. Ao longo dos anos, a cumplicidade se torna o alento para seguir adiante.

É preciso reconhecer o profundo carinho com que o diretor Adam Eliott apresenta seus personagens, demasiadamente humanos em suas inseguranças e frustrações - e as vozes de Philip Seymour Hoffman (Max), Toni Collette (Mary) e Eric Bana (Damien, o namorado de Mary) contribuem muito nesse sentido. Famoso mundialmente pelo curta Harvie Krumpet (2003), vencedor do Oscar de melhor animação, o diretor segue desenvolvendo predileção por bitucas de cigarro e cenários sombrios e artificiais, como a tortuosa NYC. Max, por sinal, leva amarrado no pescoço um guia para leitura de rostos humanos, que remete diretamente a Krumpet e seu livro de fatos.

Eliott explora nostalgia via técnica artesanal do stop-motion. Não só por sua trama se desenrolar há 30 anos, mas pelo aspecto antigo e monocromático das imagens, marcado por um cinza azulado que só se quebra pela cor vermelha. A música também contribui com o old times felling.



Outro ponto positivo é o ritmo. Na era da comunicação instantânea, que transpõe tempo e espaço com um clique, o hábito de redigir cartas alongadas a punho ou em barulhentas máquinas de escrever está praticamente esquecido. É certo que a o intervalo de tempo entre uma mensagem e outra não diz respeito à limitação imposta pelos oceanos. Até que a próxima seja colocada na caixa do serviço postal, é preciso que sentimentos e situações estejam elaborados. E para Mary e Max, isso leva uma vida inteira.

(Diario de Pernambuco, 25/06/2010)

Um comentário:

Anônimo disse...

parece ser um filme bem docinho esse, gostei!