quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Entrevista // Kleber Mendonça Filho: "Recife frio é um lamento de amor sobre a minha cidade"



Recife frio causou reação imediata e muitos aplausos. Que tipo de retorno e interpretações você teve depois da sessão?
Aquilo que ocorreu na sessão é muito raro pela intensidade e pela emotividade. Levei três horas para me recompor. O que mais me impressionou foi uma reação não apenas às idéias, mas às imagens do filme. As pessoas mostraram para mim, Emilie (Lesclaux, produção e montagem), Juliano (Dornelles, produção e direção de arte), Simone e Andrés (Shaffer, ator) que há uma beleza emotiva no filme. A surpresa é ver que essa beleza chega forte em muitos. Isso também é raro. O maior retorno foi a dúvida esclarecida de que o filme, que é muito pernambucano, local, se comunica com pessoas que nunca foram ao Recife. Sempre nos perguntávamos se o filme seria compreendido por não-pernambucanos.

Recife frio faz comédia com valores arraigados da cultura recifense. Você acredita que pessoas podem se ofender?
A maneira como o Recife vem sendo tocado do ponto de vista urbanístico precisa ser questionado, e uma boa saída para ilustrar questões como essa é usando a força implacável do cinema. Recife frio é um lamento de amor sobre o Recife, e esse lamento, claro, tem dor. O filme junta-se a filmes atuais do cinema pernambucano que estão exatamente abordando essa questão, como Menino aranha, de Mariana Lacerda, Eiffel, de Luiz Joaquim e Um lugar ao Sol, de Gabriel Mascaro. Não vejo como algumas pessoas individualmente poderiam se sentir ofendidas. Recife frio é um olhar pessoal sobre a minha cidade.

A sequência com Lia de Itamaracá encerra o filme de forma transcendente, quase sobrenatural. Como surgiu a ideia de inseri-la no filme como algo positivo, depois de tantas críticas demolidoras ao Recife way of life?
Lia é uma mulher linda. Seu rosto é especial e a câmera a adora. Filmar Lia bem era uma obrigação minha. Fico feliz que o tom de rainha que ela tem esteja no filme. Ela é cativante e sua presença emocionante. Para completar, sua música é bela, e a letra promove uma sensação de generosidade ampla "minha ciranda não é minha só, ela é de todos nós". A sequência talvez mostre que, por mais que as coisas mudem para pior, há sempre a riqueza de uma cultura para iluminar tudo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Vi este filme neste janeiro, na XIII Mostra de Cinema de Tiradentes.
Muuuuuuuuuuito bom!
Lembrou-me o realismo fantástico de Garcia Marquez
Parabéns ao diretor e equipe.
Terezinha

edizinhah disse...

O melhor filme da noite foi com certeza Recife Frio!