sexta-feira, 17 de agosto de 2007

"O Beijo no Asfalto" em quadrinhos: entrevista com Arnaldo Branco



"Tá lá o corpo estendido no chão", assim como diz João Bosco, na música "De frente pro crime". Atropelado no cruzamento da Praça da Bandeira, Rio de Janeiro. Arandir, um dos curiosos, se aproxima do moribundo. Este lhe pede um beijo derradeiro. Arandir atende o último desejo do homem.

Escrita por Nelson Rodrigues em 1961, após insistência de Fernanda Montenegro (que queria uma peça para seu grupo teatral), "O Beijo no Asfalto" acaba de ganhar uma ótima versão em quadrinhos. Os artistas Arnaldo Branco e Gabriel Góes assinam a recriação, a convite da editora Nova Fronteira.

Esta narrativa tipicamente Rodrigueana parte do fatídico beijo, percebido por um repórter do jornal "A Última Hora". Na busca de audiência, ele tratou de resenhar o ocorrido em tom de novela: havia um caso entre eles há mais de um ano, as esposas traídas nunca perceberam, a sociedade indignada com tudo – e lendo jornal. E a viúva, o que tem a dizer? Fofocas e olhares maldosos correm soltos, neste retrato trágico dos costumes e vícios sociais.



A adaptação é de primeira. Capta o clima do texto original com equilíbrio texto-imagem; a arte de Gabriel Góes (que já havia adaptado literatura em quadrinhos no volume 2 de “Domínio Público”) instiga de tal forma que os olhos só desgrudam do papel quando o livro chega ao fim.

O Quadro Mágico conversou por email com Arnaldo Branco, que adaptou o texto original de "O Beijo no Asfalto" para a linguagem dos quadrinhos.

Entre outros trabalhos, Arnaldo Branco assina a tira "Joe Pimp" e a seção de humor "O Sexysta" para a revista Sexy; a tira "Mundinho Animal", no portal da Globo, o G1; é colunista da revista Zé Pereira (RJ); e tem três propostas de livro em andamento: um de cartuns do Joe Pimp, outro da tira "Entrevistas em quadrinhos", que saía na revista “F.” e, o segundo episódio de seu maior sucesso, "As Aventuras do Capitão Presença”.

ENTREVISTA ARNALDO BRANCO // Beijo no Asfalto: "Respeitamos até quase a obsessão o texto original"

Como foi o processo de transformação do texto de Rodrigues para os quadrinhos?
Como adaptamos um texto de teatro - que é mesmo uma obra em aberto, esperando uma interpretação, achamos totalmente natural o processo. "O Beijo no Asfalto" já teve adaptações para outros meios que não o teatro - para o cinema, para a TV - e quadrinhos é só uma forma de transcrição para outro meio audiovisual - um meio menos cotado, é verdade, mas nem por isso necessariamente de menor valor artístico. Soube de uma montagem teatral de "O Beijo" com a Fernanda Rodrigues interpretando a Dália - aposto contigo que o bonequinho desenhado pelo Gabriel para o personagem é mais expressivo.

É o teu primeiro trabalho nesse sentido?
Nesse sentido (texto de outro autor, peça de teatro, cânone da literatura brasileira) é o primeiro.

Foi um trabalho de iniciativa própria ou você foi convidado para fazê-lo?
Fui convidado pela Nova Fronteira - não sei como chegaram ao meu nome, mas acertaram em cheio: li tudo o que publicaram em livro do Nelson, peças, romances - assinados ou sob pseudônimos - , crônicas... minha monografia foi sobre ele.

O filme te influenciou de alguma forma?
"O Beijo no Asfalto" teve duas adaptações para o cinema: uma do Tambellini de 66, "O Beijo" e outra de 81, creio, com o Tarcísio Meira e Nei Latorraca. Bem, as duas são um tanto irregulares, mas o Gabriel curtiu fazer o Dália tão mignon que parece uma criança, provavelmente inspirado pela Lídia Brondi no filme de 81. A fotografia do filme de 66 é impressionante, mas não consegui uma cópia para mostrar para o Gabriel.

Qual tem sido a reação dos leitores?
Muito boa. Acho sensacional quando me dizem que adoraram a história - pessoas que não conheciam o texto se sentem como se tivessem assistido a uma montagem (uma boa, espero); todos se sentem conduzidos pela trama até o final surpreendente bolado pelo Nelson. Isso é gratificante, porque respeitamos até quase a obsessão o texto original, só aparando mínimas arestas de diálogo que não levavam a história para frente, que funcionam bem no palco, mas não em HQ. Segui o conselho que dava para os diretores de suas peças: "seja burro!". Inventei o mínimo possível.

7 comentários:

Lê Santôsha disse...

Uau!!! Quero um, quero ler!!! Nelson Robrigues é apaixonante. Quero ver a cara desses personagens desenhados; as expressões... Maravilha, Dib.

Lêda.

Andre Dib disse...

Então, esqueci de dizer o preço.. (risos): R$ 18, na Livraria Cultura. Um abraço,

Anônimo disse...

Caralho, "meio audiovisual", estava de porre quando mandei essa. Mal aí, cara! Abraço.

Fábio Moon disse...

Legal a entrevista. Já estava curioso com a adaptação e agora quero ver mesmo como ficou.
Vou conhecer o Gabriel esse final de semana em brasília, parece a oportunidade perfeita.

Anônimo disse...

Então manda nossos parabéns pra ele, porque os desenhos ficaram muito bons.

Inquietudes disse...

Li ontem e achei a ideia brilhante. Excelente adaptação e arte nota dez. A obra de Nelson dispensa comentários. Sou professor de siciologia do Ensino Médio e pretenfo usar o livro com os alunos para analisar algubs temas da disciplina. Será um ótimo instrumento de apoio. Parabéns ao Arnaldo Branco. Mais obras assim deveriam ser realizadas.

Inquietudes disse...

Li ontem e achei a ideia brilhante. Excelente adaptação e arte nota dez. A obra de Nelson dispensa comentários. Sou professor de siciologia do Ensino Médio e pretenfo usar o livro com os alunos para analisar algubs temas da disciplina. Será um ótimo instrumento de apoio. Parabéns ao Arnaldo Branco. Mais obras assim deveriam ser realizadas.