sábado, 11 de agosto de 2007
"Estórias Gerais": entrevista com Wellington Srbek
Lembro bem de quando encontrei Wellington Srbek pela primeira vez. Foi em abril de 1998, durante o congresso do Intercom no Recife. Por coincidência, foi minha primeira cobertura jornalística - eu era um calouro de jornalismo, trabalhando para o projeto Virtus.
Não por coincidência, escolhi cobrir o GT de Quadrinhos, coordenado por Flávio Calazans. Na época, Srbek editava sua série de revistas em quadrinhos “Caliban”, e falou com paixão sobre seu novo projeto, inspirado no universo de João Guimarães Rosa e desenhado por Flávio Colin (1930-2002). Referências como essas eu tratei de guardar na hora.
Três anos depois o livro foi lançado, através de recursos da Lei de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte. Como a tiragem foi pequena (apenas mil exemplares a R$ 7,90 cada), a edição esgotou rapidinho.
Eis que, quase 10 anos depois, “Estórias Gerais” está de volta, em edição especial (como diz o próprio Srbek), editada e distribuída nacionalmente pela Conrad Livros. Desde ontem, a editora colocou no ar alguns trechos da HQ.
Dividido em seis partes que se entrecruzam, o livro conta a história de um jornalista que chega a uma cidade fictícia no norte de Minas para apurar a história de um cangaceiro que aterroriza a região. Tudo isso se passa no começo do século 20.
Depois de receber dois HQ MIX e dois Troféus Angelo Agostini, "Estórias Gerais" foi publicada na Espanha pela editora Editions du Ponent sob o título "Tierra de Historias" (em julho de 2006).
Em virtude do relançamento no Brasil, previsto para este mês de agosto, o Quadro Mágico bateu um papo com Wellington Srbek, onde ele fala um pouco sobre este projeto em que ele é idealizador e roteirista, e sobre a experiência de ter trabalhado com Flávio Colin (ele acaba de publicar um texto sobre os cinco anos da morte do artista. Para ler, clique aqui). Wellington Srbek também é editor do site Mais Quadrinhos, e atualmente trabalha no álbum “SOLAR: Renascimento”, que reformula um personagem criado por ele nos anos 90.
ENTREVISTA: WELLINGTON SRBEK // "Para um quadrinista brasileiro, é mais fácil publicar por uma editora na Europa do que no Brasil"
A Conrad apresenta “Estórias Gerais” através de suas palavras: "um manifesto político-cultural em forma de declaração de amor ao Brasil". De que forma isso se expressa no roteiro/desenhos?
Na verdade, este trecho foi extraído de minha introdução à primeira edição, que será reproduzida na “Edição Especial” da Conrad. Acredito que essa afirmação se confirme desde a primeira página da HQ, onde elementos culturais, ambientais e históricos de nosso país são valorizados e homenageados constantemente. É aquela questão: ao invés de fazermos uma HQ com super-heróis norte-americanos ou monstrinhos japoneses, optamos por fazer uma obra profundamente brasileira, do primeiro ao último quadro.
Qual é a história por trás da história? Como se deu o processo de criação?
A história é bem longa, e vou contá-la em detalhe numa seção especial de Extras para o meu site. Resumindo bastante, em dezembro de 1997 eu tive a idéia para produzir uma HQ ambientada no sertão mineiro da década de 20. Após muita pesquisa contextual, fiz o esboço dos principais personagens e comecei a desenhar as páginas do roteiro. Na época, pude fazer uma boa proposta financeira para que o mestre Flavio Colin desenhasse o álbum para mim, e entre janeiro e setembro de 1998 nós nos dedicamos a dar forma a "Estórias Gerais".
Como foi trabalhar com Flavio Colin? Foi sua primeira experiência com ele?
Sim, “Estórias Gerais” foi nossa primeira parceria, seguida do álbum “Fantasmagoriana” e de HQs curtas que saíram nas revistas Mirabilia e Mystérion. Trabalhar com Colin foi uma realização pessoal, pois ele é um dos maiores artistas da história dos quadrinhos mundiais. Foi também muito prazeroso, pois, embora não tenhamos jamais nos encontrado pessoalmente, trocamos muitas cartas e telefonemas, e ele era um ótimo papo.
Nesse meio tempo entre a primeira e a atual edição, “Estórias Gerais” ganhou bastante respeito dentro e fora do universo dos quadrinhos nacionais. A que você atribui esse interesse?
O álbum ganhou alguns dos principais prêmios nacionais em 2002 e uma edição na Europa em 2006, o que contribuiu para sua notoriedade. Além disso, o “Estórias Gerais” foi considerado pela crítica especializada um dos melhores álbuns de quadrinhos já feitos no Brasil. O fato é que a ótima resposta dos primeiros leitores teve um importante papel em trazer mais leitores. Muita gente me diz que emprestou o álbum para amigos lerem, o que é muito legal, pois mostra que a obra cumpriu sua razão de ser, que é chegar aos leitores.
Esta é sua estréia numa editora comercial com distribuição nacional, e isso está acontecendo depois de 20 anos de carreira. E quase 10 anos de “Estórias Gerais”, que teve primeiro que ser reconhecido na Europa para ser editado no Brasil. Porque parece ser tão difícil fazer quadrinhos no Brasil?
Fiz minha primeira HQ em 1986, editei meu primeiro fanzine em 1993 e lancei minha primeira revista em 1996. Como disse antes, o Estórias Gerais foi produzido em 1998, mas só saiu da gaveta numa edição independente em 2001. Já ganhei vários prêmios nacionais e lancei um álbum na Espanha. Em meio a isso tudo, venho tentando persistentemente, desde 1999, lançar algum trabalho por uma editora brasileira. Mas até aqui, nenhum editor tinha se interessado por meus quadrinhos. O fato é que, para um quadrinista brasileiro, é mais fácil publicar por uma editora na Europa do que no Brasil. Vergonhosamente, apesar dos inúmeros talentos de nossos quadrinhos, não existe no Brasil um mercado voltado aos autores brasileiros.
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