segunda-feira, 31 de maio de 2010

Três vezes Tokyo



Tokyo, de Michel Gondry, Joon-ho Bong e Leos Carax parte da realidade e sucumbe à fantasia, para só então tratar da realidade. Cada diretor responde por um mini-filme de 30 minutos. Como a duração não permite delongas, eles vão direto ao ponto.

Não, histórias ou personagens não se entrecruzam. Em comum, o fato de se passarem em Toquio. É certo que há cenas que só poderiam se passar na metropole japonesa. Sintomas, no entanto, contemporâneos a qualquer grande metrópole, consumista e impessoal: solidão, medo, utilitarismo, masoquismo. E muita pizza delivery.

A mulher vira cadeira. O demente come flores, dinheiro e aterroriza com granadas a manada dos normais. O apaixonado ameaça a estabilidade do coletivo que se esbarra, mas não se olha.

Pela doce melancolia, crítica social anárquica e uma bela declaração de amor, um grande filme.

No Recife, ele está em cartaz na Sessão de Arte UCI Ribeiro em dias e horários pontuais:

Segunda (07/06) às 19h05, no UCI Tacaruna
Sexta (11/05) às 21h, no Multiplex Boa Vista
Sábado (12/05) às 11h, no Multiplex Boa Vista
Domingo (13/05) às 12h no UCI Casa Forte

O cinema que olha a cidade


Dia de clássico - foto: Marcelo Pedroso

Uma nova geração de diretores pernambucanos entra em cena. Os documentários Dia de clássico, de Paulo Sano e Rafael Travassos, e Retinianas, de Luis Henrique Leal, serão exibidos hoje, às 19h30, em sessão especial no Cinema da Fundação. Ambos os filmes olham crítica e afetivamente para o Recife e seus habitantes, tendência crescente na atual produção.

Realizado com recursos próprios e finalizado com verba do Funcultura, Dia de clássico investiga com rigor estético a relação da cidade com o futebol, no caso, uma partida dominical entre Sport e Náutico, na Ilha do Retiro, em 2008. O registro intercala quatro abordagens distintas, direcionadas pelos fotógrafos Cláudio Fernandes, Felipe Peres Calheiros, Luís Henrique Leal e Marcelo Pedroso. "A ideia foi montar equipes autônomas, para passar o dia gravando o que quisessem", diz Paulo Sano. "Na época, nossa referência maior era de documentários como os de Dziga Vertov, Walter Ruttmann e Alberto Cavalcanti".

Captados nos arredores do estádio e em diferentes bairros do Recife, imagens e sons são unificados na montagem, que reconstrói o movimento da cidade em torno do evento esportivo. A contemplação sensorial, de inclinação poética, predomina, sem no entanto inibir a dimensão social da movimentação dos torcedores nos coletivos, do flagrante emocional de quem acompanha o jogo fora do estádio e da tensão do baculejo policial.


Retinianas - foto: Luiz Henrique Leal

Em forma de ensaio, Retinianas parte da vontade do diretor em entender e desenvolver impressões sobre o Recife verticalizado e em permanente transformação. O resultado é um manifesto pessoal de estranhamento, narrado em primeira pessoa. "Existe um fascínio com o tipo de arquitetura que está se tornando hegemônico na cidade, um projeto que seduz as pessoas, mas não se preocupa com seus efeitos", diz o jornalista Luis Henrique Leal, cujo próximo filme será sobre o enfermeiro e cineasta José Manuel, ator e assistente de direção do "camelô do cinema" Simião Martiniano.

Os filmes apresentados hoje são apenas a ponta do iceberg. Seus realizadores fazem parte de produtoras que despontam com projetos recém-aprovados em editais de fomento. Sano e Travassos são do coletivo Asterisco, formado por alunos do curso de comunicação da UFPE, que em breve lançará o documentério Acercadacana, de Felipe Peres, sobre uma senhora que está sendo expulsa da casa onde mora há mais de quatro décadas, em um canavial adquirido por grande empresa. E Leal, da Parabelo Filmes, está em fase de pré-produção do curta Periscópio, contemplado pelo concurso Ary Severo / Firmo Neto.

(Diario de Pernambuco, 31/05/2010)

Simião reloaded



Show variado, novo filme de Simião Martiniano, estreia hoje, às 20h, no Cinema do Parque. Lançado diretamente em DVD, o média-metragem (35 minutos) é a primeira realização do camelô-cineasta em parceria com a produtora Página 21, de Amaro Filho e Rafael Coelho.

Realizao com R$ 30 mil captados no sistema municipal de incentivo à cultura e no edital do audiovisual da Fundarpe, Show variado pôde ser rodado em melhores condições técnicas que filmes anteriores de Martiniano. Um deles, A mulher e o mandacaru (1996), foi reeditado, remasterizado e incluído como extra no DVD, que será vendido por R$ 15.

Além da novidade de contar com equipamento profissional e cachê para toda a equipe, Show variado também é a primeira comédia de Simião Martiniano, que até então havia dirigido filmes de ação como Traição no Sertão, A rede maldita e O herói trancado. O tom é popular, com esquetes cômicas e vinhetas musicais compostas pelo diretor e gravadas em estúdio especialmente para o filme.

"Pensamos que, se conseguíssemos as condições de produção, averdadeira virtude de Simião como roteirista e cineasta estaria revelada", diz Coelho. Ele diz o formato DVD foi adotado para que o diretor conseguisse retorno financeiro imediato. Após o lançamento, parte das mil cópias será vendida em bancas e livrarias. Outra, no box do camelódromo onde trabalha, à Av. Dantas Barreto, em frente ao Banco Real.

(Diario de Pernambuco, 31/05/2010)

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Paisagem do abandono



Após estreia no Festival de Veneza, prêmios em Havana, Toulouse, Paris e no Festival do Rio, Viajo porque preciso, volto porque te amo chega ao circuito comercial. O novo filme de Karim Aïnouz (O céu de Suely) e Marcelo Gomes (Cinema, Aspirinas e urubus) é joia rara da contemplação cinematográfica.

Temos aqui não mais uma história, mas "A" história de amor, a que se joga de cabeça, como bem sugere a imagem final. O ponto de vista do filme é 100% subjetivo e emana de um único personagem, o geólogo José Renato (Irandhir Santos). Para quem assiste, o sentimento é o de incorporar sua identidade. Sem nunca aparecer em cena, ouvimos seus pensamentos, olhamos pelos seus olhos.

José Renato está em viagem de trabalho pelo interior nordestino, com a missão de encontrar o melhor caminho para a transposição do Rio São Francisco. Aos poucos, a tarefa cai para o segundo plano. Ele revive seu amor por Joana, que ficou em Fortaleza. Aparentemente à deriva, paisagens, cidadese personagens do Sertão são costuradas pela dor da separação.

As imagens de Aïnouz e Gomes têm forte teor afetivo e documental e ganham sentido ficcional com o roteiro escrito depois da captação, feita em vários suportes (35mm, 16mm, super 8, digital). O resultado tem densidade poética e busca pontes com a cultura popular - há passagens pela feira de Caruaru, Juazeiro do Norte, bares e cabarés de beira de estrada. O próprio nome do filme brinca com a cultura romântica das boleias de caminhões, que transitam neste road-movie existencial para ser assistido sem pressa.

(Diario de Pernambuco, 28/05/2010)

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Lançamentos DVD, coluna bastidores, "eu indico" e ranking da semana

Lançamentos em DVD



Liberdade - Nesta fábula stop-motion, Sr. Raposo (George Clooney) tenta ganhar a vida como colunista de jornal, mas seu instinto o perturba até invadir o galinheiro dos vizinhos, no caso, fabricantes de defumados e garrafas de sidra. Os saques sistemáticos geram resposta violenta dos humanos, que passam a perseguir Raposo, sua família e amigos roedores. Com como choques que acendem o esqueleto e olhos estrelados após uma pancada, o filme de Anderson (Viagem a Darjeeling) é um elogio àqueles que destoam felizes num mundo padronizado e artificial. (A.D)
O Fantástico Sr. Raposo (The fantastic Mr. Fox, EUA, 2009). De Wes Anderson. 87 minutos. Fox.



Milhas - Parece mais uma comédia romântica e sem profundidade, mas o filme do diretor de Obrigado por fumar e Juno faz uma crítica necessária e bem humorada sobre a difícil condição de nossos tempos. George Clooney é Ryan, especialista em acumular milhas e demitir pessoas. O solteirão convicto não tem casa - se orgulha de flanar entre aeroportos e hotéis, usufruindo de artifícios de conforto para um mundo solitário e impessoal. Até que vê seu lifestyle cinco estrelas ser ameaçado pela voraz Natalie (Anna Kendrick), a nova funcionária da empresa. A crise o leva a rever valores e se apaixonar por Alex (Vera Farmiga), território novo para o executivo.
Amor sem escalas (Up in the air, EUA, 2009). De Jason Reitman. 104 minutos. Universal.



Além da vida - Para comemorar os 20 anos de Ghost, a Paramount lança esta edição especial com comentários do diretor making of, efeitos visuais e mais dois documentários. No filme, jovem executivo (Patrick Swayze) brutalmente assassinado tenta ajudar esposa (Demi Moore) a desvendar a própria morte, com a ajuda de uma médium charlatã (Whoopi Goldberg). A força do filme está no amor do casal, que nem a morte conseguiu afastar. A trilha sonora com Unchained Melody, de Righteous Brothers completa a combinação certeira e marcante para emocionar multidões.
Ghost - do outro lado da vida (Ghost, EUA, 1990). De Jerry Zucker. 122 minutos. Universal.



Nonsense - Uma das séries mais engraçadas da história da TV chega à quinta temporada em caixa de cinco DVDs, que encerra a coleção. Em sátira escancarada a James Bond, Maxwell Smart (Don Adams) também tem estilo, aparato tecnológico para enfrentar perigos internacionais e o apoio de uma parceira fiel, a Agente 99 (Barbara Feldon). Só que as tramas e situações sempre descambam para o nonsense. Por exemplo, nesta temporada, Max tenta sobreviver a uma praga de bananas assassinas, impedir que o planeta seja congelado por um ventilador gigante e entra numa corrida para acabar com a Associação Anti-Anti-Anti Mísseis.
Agente 86 - quinta temporada (Get Smart - Season 5, EUA, 1970). De Mel Brooks. 760 minutos. Warner.

Bastidores

O homem dela, novo curta de Luiz Joaquim, foi selecionado para a 5ª Mostra de Cinema de Ouro Preto (MG). Segundo o diretor, a animação (com efeitos e edição de André Pinto) dá vida à história de uma mulher, via obra de Edward Hopper e Billie Holiday A programação do Cine OP foi divulgada ontem e conta com mais dois filmes inéditos de Pernambuco: A banda, de Chico Lacerda, e À felicidade, de Carlos Nigro.

O diretor espanhol Juan Vicente Córdoba está no Recife, a convite do projeto Encontros com Diretores do Cinema Espanhol. Hoje, às 19h, no Bloco A da Unicap, será exibido seu filme Entrevias (1995). Amanhã ele apresenta o filme A golpes (2005) na Faculdade Maurício de Nassau (9h) e Aunque tú no lo sepas (2000) no Instituto Cervantes (18h20), seguido de debate com a diretora Kátia Mesel e os professores Alexandre Figueirôa e Paulo Cunha. Entrada franca.

Hoje termina o Animage - Festival Internacional de Cinema de Animação de Pernambuco, com atividades no Centro Cultural Correios (Recife Antigo) e Cinema da Fundação (Derby). Nos Correios, além da exibição do resultado das oficinas de animação (18h) e seminários com Policarpo Graciano e Nara Normande (10h), Marcel Calbusch (14h) e Carla Francine (16h).

A Iglu Filmes pretende lançar uma caixa de DVDs com os três primeiros filmes de Roberto Pires: Redenção (1959), A grande feira (1961) e Tocaia no asfalto (1962). O primeiro e o último já estão restaurados.

Maria Flor e Matheus Natchtergaele estão confirmados em A febre do rato, de Cláudio Assis. Filmagens começam no início do segundo semestre.

Terminam semana que vem as filmagens de O país do desejo, novo longa de Paulo Caldas. Após dois dias no Teatro de Santa Isabel, a próxima locação será em casarão no Poço da Panela, com presença do elenco principal: Fábio Assunção, Maria Padilha, Gabriel Braga Nunes e Germano Haiut.

Eu indico



Recomendo Um estranho no ninho (One Flew Over the Cuckoo's Nest, EUA, 1975), de Milos Forman. O filme todo circula entre as paredes de um hospício. Jack Nicholson quebra regras ao reconhecer e tratar internos como pessoas sociáveis. Emocionante a cena que eles começam a jogar dentro do quarto com uma bola fictícia. O drama de fazer chorar fica com a última cena, que eu não vou contar, mas que revela o maior motivo da minha escolha como o filme que mais marcou a minha vida.

Isaar de França, cantora.

Mais baixados
Coco antes de Chanel
Sherlock Holmes
Terror na Antártida
Wall-E
O menino do pijama listrado
O desinformante!
A sentença
Up - Altas aventuras
A órfã
A partida
Fonte: www.saraiva.com.br

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Eles colocaram a arte em xeque

Porto Alegre (RS) – O ímpeto libertário dos anos 60 teve tanto impacto no mundo da arte a ponto de alguns artistas se dedicarem questionar sua essência, seu modo de produção, sua finalidade. A mostra Horizonte Expandido, instalada desde ontem na capital gaúcha, reúne 16 criadores que ampliaram, e assim continuam, conceitos sobre o que é arte, para que ela serve e o significado do artista. A iniciativa, patrocinada pelo Santander Cultural, trouxe nove coleções internacionais, algumas inéditas no País. Longe de qualquer intenção sacralizante, a proposta é fazer contato não com as obras, mas com a vida e o pensamento de Robert Smithson, Bruce Naumann, Gordon Matta-Clark, Dan Graham, Ana Mendieta, Victor Grippo, Nancy Holt, Joseph Beuys, Bas Jan Ader, VALIE EXPORT, Dennis Oppenheim, Allan Kaprow, Marina Abramovic, Vito Aconcci, Chris Burden e Hélio Oiticica.

A exposição está montada em um belo palácio dos anos 1930 há 10 anos ocupado pelo Santander Cultural. Mesmo para quem está longe para fazer uma visita, vale a pena conhecer seu conceito, reaplicável em qualquer realidade. Ao contrário da maioria das exposições de arte, Horizonte Expandido não conta com visita guiada, roteiro, catálogo, material pedagógico ou qualquer outra “bengala” da estrutura expositiva convencional. A não ser pelo amparo teórico de uma pequena biblioteca com obras de referência, o visitante é convidado a decifrar a mostra por conta própria. “É uma museografia voltada para o pensamento. Por isso, eliminamos o máximo de interpostos que pudessem impedir o contato direto do público com as obras”, diz o artista gaúcho André Severo, curador da mostra ao lado de Maria Helena Bernardes.

A mostra é fruto da busca pessoal dos curadores por uma arte livre de convenções e de intermediações entre artista e público, desenvolvida no projeto Areal. “Reunimos artistas referenciais para a nossa formação, por terem questionado a função social de sua arte. E percebemos que todos pertencem à mesma época e hoje são considerados herméticos. Mas a verdade é que eles colocaram a arte em xeque de tal maneira que ficou difícil seguir em frente. Então passaram por cima deles”, diz Severo. “Não pensamos em obras, mas em sujeitos, atitudes, pessoas movidas por interrogações existenciais”, diz Maria Helena. “Eles não excluem o espaço de exposição, mas vão buscar o processo de criação em outros lugares”.

A primeira reação dos curadores, no entanto, foi negar o convite. Como trazer para o engessante espaço do museu artistas que trabalharam processos fluidos, efêmeros? A solução foi reunir registros desses momentos, em filmes, fotografias e textos. Em alguns casos, é possível ouvir depoimentos gravados dos próprios artistas. “Eles romperam com a ideia de que o artista produz para expor. E 99% dos artistas ainda pensam assim. Há uma pressão para que todo o mundo da arte contemporânea caiba nesse sapatinho”, diz Maria Helena.

Nesse sentido, Robert Smithson é um dos principais nomes e ganhou espaço central na mostra. Em 1970, sua busca pelo confinamento geológico em paisagens inóspitas gerou obras intrigrantes como uma gigantesca espiral de água e areia intitulada Spiral Jetty. “Ele procurou sua identidade longe da moldura social, que conforta a persona do artista”, diz Maria Helena. Uma sala inteira é dedicada a Joseph Beuys, que desenvolveu o conceito de escultura social, da vida enquanto arte. Se tudo está em mutação, é preciso moldar o pensamento, as palavras, o mundo. “Ele fez da arte um instrumento para chegar a conclusões de vida”, diz Severo.

Horizonte Expandido não traz objetos consagrados, como os parangolés de Hélio Oiticica. Prefere privilegiar imagens e textos dele, que falam diretamente ao espectador. Como no filme Héliophonia (2002), de Marcos Bonisson, colagem de imagens raras feitas ou protagonizadas pelo artista carioca. “Queremos desmitificar Oiticica. Ele está se tornando o grande produto da arte brasileira, mas tudo que ele não queria era ser objeto de fetiche. Ele agia diretamente na vida, em ações coletivas no morro da mangueira, no lixão, recolhia pedaços de asfalto, devolvia terra no aterro sanitário do Caju”.

De Alan Kaprow, criador do happening e pioneiro da performance, a mostra traz áudio, uma série de fotos e curiosos folhetos intitulados Como fazer um happening. Da artista ioguslava Marina Abramovic foi trazido um vídeo de 1980, em que explora os limites de uma relação a dois. Por quatro minutos ela empunha um arco, enquanto ele tensiona uma flecha apontada para ela. Em outros vídeos, é possível assistir Gordon Matta-Clark, o fatiador de edifícios, em ação; Oppenheim experimentando o transfer drawing, em que desenha nas costas de uma mulher, que através da sensação, reproduz o desenho numa parede; o touch-cinema de VALIE EXPORT, que em 1968 usava o próprio corpo para tratar da emancipação da mulher; e o bed place de Chris Burden , em que o artista se deita por horas em lugares públicos.

Santander propõe novo projeto para o Recife

Horizonte Expandido faz parte da linha de ação cultural adotada pelo Santander Cultural desde que a pernambucana Liliana Magalhães assumiu sua superintendência. “Temos uma inquetação permanente de fazer esse espaço existir com a cidade. Acreditamos que cultura é processo. Se não estivermos nos questionando, vamos nos ensimesmar. E o papel da gestão cultural é permitir a reflexão, o debate, a diversidade de visões”.

O suntuoso palácio onde a sede gaúcha do Santander Cultural está instalado impressiona. Ao mesmo tempo, a organização demonstra coragem em propor dinâmicas anti-convencionais. “Esse prédio é tão poderoso que, se a gente não viesse com essa atitude, em que pessoas se sintam protagonistas de um lugar contemporâneo, estariamos fadados a reproduzir um modelo estagnado, institucionalizado. E na cultura nada pode ser determinado como definitivo. Precisamos estar contectados aos processos de transformação para fazer algo de pertinente e legitimo”.

Desde outubro, Liliana trabalha em São Paulo onde, além da superintendência, responde por todas as ações culturais do grupo Santander. “Nosso conceito de cultura é o de ser incubadora. Lidamos com a dimensão cidadã da cultura, da consiência de bem coletivo e de pertencimento, da transfderência conhecimento, interação e empreendedorismo”. A revitalização dos Arcos da Lapa (RJ) e a organização de uma mostra em São Paulo sobre Antonio Dias, artista seminal da arte contemporânea brasileira, são duas ações atualmente em desenvolvimento.

No Recife, onde o Santander mantém o Espaço Cultural Banco Real, Liliana diz que em breve haverá um novo posicionamento, construído com o. “Não há nada definido. Esse é um ano de muita pesquisa, estamos reunindo as boas experiências do Real e do Santander, para criar um novo projeto de cultura. Há a limitação física do prédio, mas temos uma cidade inteira para nos estender. Se não, não é processo cultural. E não nos interessa atuar com uma visão de establishment. Onde houver transformação, nós queremos estar”.

(Diario de Pernambuco, 27/05/2010)

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Quincas é o rei da boemia



Da literatura para o cinema, Quincas Berro d'Água estreia amanhã e inaugura uma nova fase na carreira de seu diretor, Sérgio Machado (Cidade alta). É a primeira vez que ele lida com uma produção tão cara, união de forças entre Petrobas, Globo Filmes, Miravista e Videofilmes, com tantos atores em cena e sequências complexas.

É também sua estreia no cinema de fantasia, que apresenta a realidade social com um pé no pastelão e outro nas farsas italianas, de personagens que, apesar de tratados com carinho, beiram o ridículo.

Apesar da novidade estética, Quincas se apresenta coerente com os interesses pessoais do diretor, que desdobra com propriedade temas como o amor, a amizade e a vida dura, suja e invisível de habitantes do underground soteropolitano.

Desta vez, em contraste com o da classe média em busca de ascensão, representada pela família do recém-falecido protagonista, interpretado por Paulo José, grande estrela do longa. No que deve ter sido um dos maiores desafios paraum portador do mal de Parkinson, José utiliza de sutilezas para interpretar o morto. Expressões sutis à parte, ele não move um músculo sequer durante o filme.

A ação se dá em menos de 24 horas, do momento em que a família recebe a notícia de que Quincas falecera, até morrer pela segunda vez, no mar. Em vida, Quincas foi funcionário público exemplar e levava monótona vida de pai de família, até que decidiu chutar o balde e cair na gandaia. Agora morto, parentes esperam não só restituir a imagem do patriarca, como ganhar dividendos sociais com o episódio. Para a sociedade baiana, Quincas era comendador na Itália, não o notório bebum pendurado em bordéis.

Durante o funeral, em que amigos sujos e bêbados se revezam para as condolências, ocorre o primeiro choque de realidade. Sob troca de olhares fervorosos, a relação promíscua entre casa-grande e senzala precisa continuar, no caso, através da filha de Quincas, Vanda (Mariana Ximenes), em busca do corpo do pai, raptado (ou salvo, dependendo do ponto de vista) porum destacamento de vagabundos.

Liderados pelo Cabo Martim (Irandhir Santos), o grupo está determinado a dar ao amigo um cortejo fúnebre digno do rei da boemia. O auge dessa aventura se dá num salão de dança em que prostitutas chefiadas por Manuela (Marieta Severo) se despedem do fiel amante.

O trabalho com atores inclui outras boas performances, como a de Milton Gonçalves (Delegado Morais), Othon Bastos (Alonso) e o pernambucano Germano Haiut (Tio Eduardo). Com maracatus e toques de rabeca interpretados por Siba, a música tem papel fundamental e na condução dessa narrativa bêbada e vigorosa, à altura dos anti-heróis de Jorge Amado.

Entrevista // Paulo José: "Faço um morto flexível, com sarcasmo"

Como foi interpretar um morto?
Eu trabalhei muito com interiorização, com impressões. Não quis ser expressão do filme, quis ser um elemento do filme. No cinema, o fundamental para o ator está no olho e estou de olho fechado o filme inteiro. Senti uma coisa estranhíssima, uma vida latente, de estar vivo olhando para dentro. No caixão eu não ficava distraído, mas atento a tudo em volta. Fiz um morto atento.

É verdade que você dispensou o uso de bonecos para cenas mais difíceis?
Curioso isso. Passei quatro dias fazendo modelagem do rosto para dois bonecos, muito bem feitos, mas Sérgio não gostou, porque boneco é um cadáver. E não tem nenhum sentido em filme com cadáver. Eu faço um morto flexível, que tem sarcasmo, que às vezes dá um sorriso.

Foi difícil fazer Quincas tendo que lidar com o mal de Parkinson? Como você lida com a doença?
Me vi aperreado, mas me saí bem apesar de fazer um esforço maior. Uso um marcapasso com eletrodo no cérebro, que emite sinal que tira os efeitos provocados pela medicação. Agora sou biônico. Isso dá uma certa estabilidade. Antes, eu nem sabia o que estava fazendo. No Roda Viva, passei a entrevista toda tremendo. O cara que faz a charge me desenhou com cinco, seis mãos. O mal de Parkinson tira a voz, reduz o movimento, tira a expressão facial. Fico com cara de jogador de pôquer. Então toco piano, faço bionergética, aula de voz, hidroginástica. É um trabalho quase diário pra retardar ao máximo o avanço da doença, que é degenerativa e irreversível. Mas todos nós, depois dos 30, entramos nesse processo.

E a experiência de trabalhar com Sérgio Machado?
No cinema é importante ser auto-exigente, não confiar na bossa achando que o público não vai reparar. Um filme se desarcerta por causa disso. Tem filmes que acabam saindo mal por negligência, por achar que defeito vira efeito. Sérgio é um obstinado, faz e desfaz, refaz. Isso é importante. Por trás de um filme satisfatório há um set rigoroso, atento a pequenos detalhes, ao tom de voz, à velocidade, um ouvido muto atento, sentidos aguçadospara não escapar nada e ao mesmo tempo ficar a salvo dos palpites da equipe.

(Diario de Pernambuco, 20/05/2010)

Lançamentos, bastidores, Eu indico e ranking da semana



Elementar - O chapéu, a lupa e a célebre frase vinculados ao personagem de Arthur Conan Doyle foram evitados, mas o cachimbo e o comportamento arrogante, impulsivo e perspicaz continua sendo a marca do detetive personificado por Robert Downey Jr. Síntese entre intelectualidade e força bruta, seja infurnado no 221-B da Baker Street ou esmurrando capangas de Lorde Blackwood (Mark Strong), que quer dominar Londres com misticismo, ele conta com o auxílio ponderado e fiel de Dr. Watson (Jude Law) e da agente dupla e potencial pretendente Irene Adler (Rachel McAdams). Como era de se esperar, a lógica vence.
Sherlock Holmes (EUA, 2009). De Guy Ritchie. 128 minutos. Universal.



Minduim - Os clássicos desenhos Peanuts, adaptação da obra de Charles Schulz, aos poucos voltam em suporte digital. Essa edição remasterizada tem como mote a proximidade com o Dia dos Namorados, tema recorrente nas histórias de Charlie Brown, eternamente apaixonado por sua Garotinha Ruiva. Linus, Lucy, Isaura, Márcia, Petty Pimentinha, Chiqueirinho, o beagle Snoopy e o passarinho Woodstock completam a turma. Além do episódio que dá nome ao DVD, mais dois estão incluídos: Você está apaixonado, Charlie Brown! e É o seu primeiro beijo, Charlie Brown! (A.D.)
Seja meu namorado, Charlie Brown! (EUA, 1975). De Phil Roman. 74 minutos. Warner.

Bastidores



Lírio Ferreira está em Milão para exibir O homem que engarrafava nuvens. Na esteira da homenagem a Humberto Teixeira, pelo Ciclo Junino 2010, o longa vai voltar ao Cinema Apolo e ao Cine São Luiz.

Cine + Cultura inaugurado ontem em Fernando de Noronha. Com 60 lugares, o Cine Mabuya é um dos 28 pontos de exibição audiovisual em cidades históricas, em parceria com o Iphan. Sessões serão aos domingos, às 20h. Programação se decide na hora, na base do voto.

Segunda edição do Animage, 2º Festival Internacional de Animação de Pernambuco, começa amanhã e traz 65 animações de 20 países. Bom longa australiano Mary and Max encerra a primeira noite, no Cinema da Fundação.

Meu Tio, de Jacques Tati, continua em cartaz na Sessão de Arte do Cine São Luiz. Amanhã às 20h e sábado às 10h. Ótimo programa.

Grupo exibidor mexicano Cinépolis inicia atividades no Brasil. Segundo site especializado Filme B, operações começam em Ribeirão Preto e vão para Belém (agosto), São Paulo (setembro) e Salvador (novembro). Meta é atingir 150 salas até 2012. Será que o Recife está nos planos?

Amanhã encerram-se as inscrições para o Festival de Paulínia (R$ 650 mil em prêmios). 1º de junho é o limite para o Festival de Gramado (RS). Já o Festival de Triunfo, promovido pela Fundarpe, recebe inscrições de curtas e longas até 31 de maio.

Até 30 de junho esão abertas as inscrições para a sétima edição do concurso de roteiros Rucker Vieira, promovido pela Fundaj. Este ano, dois projetos recebem R$ 80 mil.

Eu indico

Indico O sacrifício (1986), de Andrei Tarkovski. É a referência mais forte que tenho das artes plásticas no cinema. Se Leonardo da Vinci fosse vivo hoje, faria cinema como é feito nesse filme. Atualmente estou usando cenas dele para minha nova série de pinturas e desenhos. Podem-se ver referências diretas à película no novo filme de Lars Von Trier, Anticristo (2009).

Bruno Vilela, artista plástico

Os mais locados

Avatar
2012
Lua nova
Bastardos inglórios
Julie & Julia
Vício frenético
O sequestro do metrô 1 2 3
O grande desafio
Alvin e os esquilos 2
Se beber, nao case

Fonte: SMS Video

Afinidades entre teatro e cinema

Começa hoje o Curta Teatro, projeto que experimenta afinidades entre a linguagem do cinema e a das artes cênicas. A dinâmica investe em textos criados ou adaptados por diretores de cinema, que dirigem atores do teatro em esquetes de no máximo 15 minutos. Idealizado e coordenado pelos atores Kleber Lourenço e Sandra Possani, o projeto é uma iniciativa do Visível Núcleo de Criação.

O primeiro convidado é Pedro Severien. Diretor de São e Carnaval inesquecível, ele escreveu O homem na mesa a partir de uma imagem. Há duas semanas ensaia com os atores Henrique Ponzi, Gilberto Brito, Paulina Albuquerque e Juan Guimarães, todos com experiência em curta-metragens.

"Acho que o público gosta de ver atores e diretores em apuros", brinca Possani. Gaúcha de Porto Alegre, ela está no Recife para atuar com Lourenço na montagem O acidente (direção de Fausto Filho; estreia em agosto) e teve a ideia de realizar o Curta Teatro após conversa com Severien, que agora trabalha "sem a muleta da câmera". "O desafio é criar foco e tensão tendo o espectador como olho-câmera. Para mim, está sendo divertido e desesperador", diz o diretor.

O processo de criação, diz Severien, é construído com os atores. Referências no cinema não faltam, de John Cassavetes a Glauber Rocha. "O que mais me atrai no teatro, que nunca tive no cinema, é a fantasia de isolamento, de ficar trancado com pessoas que eu escolhi". Após o lançamento de hoje, as próximas edições do Curta Teatro serão sempre na primeira quinta de cada mês. Estão confirmados os diretores Léo Falcão, Eric Laurence e Jura Capela, que adaptará o texto A serpente, de Nelson Rodrigues.

Serviço
Curta Teatro
Quando: Hoje, às 22h
Onde: Espaço Muda (Rua do Lima, 280 - Santo Amaro)
Informações: 3032-1347
Entrada franca

(Diario de Pernambuco, 20/05/2010)

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Bibi Ferreira - a diva e o teatro



Das veteranas atrizes brasileiras, Bibi Ferreira é a mais ilustre. Ela é herdeira de um teatro que prima pelo perfeccionismo, mas também exige reverências de seu público. Afinal ela é a grande dama da cena brasileira e em 2010 comemora 88 anos, 70 de carreira. A filha de Procópio Ferreira participa da celebração dos 160 anos do Teatro de Santa Isabel, hoje, às 20h, com espetáculo Bibi IV, acompanhada de músicos cariocas e pela Orquestra Sinfônica do Recife.

Segunda-feira, na coletiva de imprensa, Bibi até tentou guardar a surpresa de que cantaria Capiba, mas uma repórter matou a charada com uma pergunta. Ela despistou. Recife cidade lendária faz parte do repertório sofisticado, em que ela transita pelo fado português de Amália Rodrigues, a chanson francesa de Edith Piaf e o tango argentino, além de uma homenagem aos 100 do sambista e poeta Noel Rosa.

É a primeira vez que o espetáculo, que nasceu em Buenos Aires há dois meses, será realizado no Brasil. Do Recife, em regime de pré-estreia, ele segue para Porto Alegre, Rio, São Paulo e novamente Argentina. O repertório está em construção e deve incluir uma música de Michael Jackson. "Gosto muito de espetáculos ecléticos, fica mais fácil de aturar o artista". A estreia de Bibi in Concert nº 4 será em São Paulo, no mês de agosto. "Estou muito honrada de estar aqui neste teatro, onde eu e meu pai apresentamos muitas comédias, como Deus lhe pague, Não se brinca com o amor e Senhora".



Bibi e a imprensa

Bibi se refere inclusive à peça que montou com o Teatro de Amadores de Pernambuco, em 1955, a pedido de Valdemar de Oliveira. "Fiquei aqui dois meses encenando Bodas de sangue, me aproximei de Geninha, lembro o sucesso que foi no Brasil inteiro a turnê do TAP. Foi muito importante para o Rio e São Paulo, pois até então não havia aparecido um elenco nordestino que não fosse regionalista".

Ainda nos anos 1950, seu pai, Procópio Ferreira, e Valdemar de Oliveira, protagonizaram polêmica que caiu na imprensa nacional. Convidado para o centenário do Santa Isabel, Procópio ofereceu uma chanchada, veementemente negada por Valdemar. Bibi faz uma bela defesa do pai. "Era uma opinião sobre que teatro fazer na época. O TAP primava por ser quadrado, no sentido de ser certinho. Meu pai fazia teatro de cenário, sem luz, sem texto. E o teatro pleno de Valdemar entrava em choque com as chanchadas que meu pai fazia, que era praticamente improviso. Mas se ele fazia e tinha público, é porque estava certo. No teatro, só não é certo se não tiver público", sentencia.

Quanto ao protesto dos artistas, que abraçavam o Santa Isabel enquanto Bibi falava com a imprensa, ela disse não estar a par da situação, mas que para ter palco, é preciso ter credenciais. "Isso se adquire com o tempo. Tem que crescer, estudar, trabalhar muito. E olhar no espelho do teatro que já se fez aqui". Dito isso, saiu para jantar um "talharim autêntico" e assistir a nova novela estrelada pela amiga Fernanda Montenegro.

Serviço
Bibi IV
Quando: Hoje, às 20h
Onde: Teatro de Santa Isabel (Praça da República, S/N)
Quanto: R$ 20 e R$ 10(meia)
Informações: 3232-2940

(Diario de Pernambuco, 19/05/2010)

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Cientistas fazem arte


Vitalino, de Jarbas Jácome Foto: Mozart Sales

Três projetos pernambucanos foram selecionados para a edição 2010 do Festival Internacional de Linguagem Eletrônica, o mais importante da América Latina: Vitalino, de Jarbas Jácome, Marvim Gainsbug, de Jeraman e Filipe Calegario e Metrobang, de Ricardo Brazileiro.

Os três utilizam tecnologia digital para propósitos artísticos, foram escolhidos entre 1.230 inscrições de 44 países e estão entre os 90 indicados que agora concorrem a prêmios em dinheiro. Através do site www.fileprixlux.org é possível conhecer e, até 25 de junho, votar nas obras preferidas. As mais votadas em cada categoria (arte interativa, linguagem digital e sonoridade) ganha menção honrosa e R$ 10 mil.

Para votar, clique aqui.

Em dez anos de vida, esta é a primeira vez que o File institui um prêmio oficial e popular. Para divulgar esta última e apresentar o evento, os idealizadores e organizadores Paula Perissinotto e Ricardo Barreto estarão no Recife. O lançamento será na quinta, dia 20, às 18h, no Instituto Cultural Banco Real (Recife Antigo), mantido peloSantander Cultural, principal patrocinador do File. Antes, às 14h, Jácome, Jeraman e Brazileiro oferecem oficina do Laboratório de Computação e Artes - Laboca.

Algumas obras já estão pré-selecionadas para a exposição que será montada em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Uma delas é Vitalino, que produz uma escultura digital a partir de movimentos dos dedos capturados por câmeras. "É a virtualização do tato", diz Jácome. "Apalpar o ar é uma boa metáfora do mundo virtual, onde é difícil ter controle e saber os limites". O próximo passo é transformar a invenção em instrumento de música visual, capaz de "moldar" o som.



Jácome inventou Vitalino utilizando o software ViMus, desenvolvido durante seu mestrado em ciência da computação e com o qual criou outras instalações, como Crepúsculo dos ídolos (onde a voz interfere em transmissões de TV), Pernambuco percussivo (que desenha o mapa do Estado com batidas) e Afrobeat machine (em homenagem ao músico Fela Kuti). Dentro do espírito da cultura livre, a ideia étornar Vitalino acessível a qualquer interessado: o ViMus está disponível em seu site e o hardware - webcam USB, lâmpada, caixas de cereal, cartolina, palito de madeira, cola, tesoura, régua e lápis - está ao alcance de qualquer pessoa. "Chamo este protótipo de VxV, Vitalino e Virgílio. Virgílio é um mestre do papelão que mora em Brasília, com quem aprendi a modelar com caixa de cereal e palito de dente. Para o File, vou fazer uma versão de acrílico", diz Jácome.

Marvim Gainsbug é um programa que compõe canções a partir de palavras selecionadas pelo usuário. A fonte para a letra são postagens retiradas do Twitter e a música é criada a partir do mapeamento da extensão das palavras. Conectado a um microfone, Gainsbug simula inteligência ao "conversar" com o usuário. Sua voz lembra a de HAL 9000, o computador pensante de 2001 - Uma odisseia no espaço. "Batizamos assim em homenagem a Marvim, personagem do Guia do mochileiro das galáxias, e ao músico Serge Gainsbourg", diz Jeraman.

Criado por Brazileiro, Metrobang captura as frequências e ruídos de discos de vinil e os sintetiza em linhas de baixo e percussão. O que se ouve não é a música original do disco, mas sua ressignificação digital. A partir de 5 de junho, será possível experimentar as três obras, no Memorial Chico Science (Pátio de S. Pedro).

(Diario de Pernambuco, 17/05/2010)

domingo, 16 de maio de 2010

Meu Tio, de Jacques Tati, reinaugura Sessão de Arte do Cine São Luiz



A Sessão de Arte do Cine São Luiz está de volta. A programação de clássicos, que por mais de 40 anos formou gerações de cinéfilos, reabre as atividades com a comédia Meu Tio (Mon Oncle, França, 1958), de Jacques Tati.

Em caráter extraordinário, a exibição de Meu Tio será neste domingo, às 10h, precedida pelo curta pernambucano Até o sol raiá (2007), de Leanndro Amorim e Fernando Jorge. A partir da semana que vem, as sessões serão sempre às sextas (20h) e sábados (10h). Em breve, o cinema incluirá a Matinê infantil na programação dos domingos.

Na direção e papel principal, Tati é Monsieur Hulot, personagem criado em 1953 para o longa As férias do Senhor Hulot e que perduraria por mais dois filmes, Playtime (1967) e Trafic (1971). Do contraste entre a periferia onde vive e o bairro moderno onde vai visitar a irmã, surgem situações interessantes e engraçadas. Enquanto a família quer que o solteirão Hulot se case e arrume um emprego, ele se contenta em fazer passeios com o sobrinho.

A atitude jeca de sua família frente à facilidade da vida moderna é algo que Tati se dedica a evidenciar, enquanto Hulot, mudo e de trejeitos caricatos, é o clown a representar valores que insistem em destoar num mundo regido pela tecnocracia. Claramente retirado dos filmes mudos dos anos 1920, ele é objeto estranho entre máquinas automáticas e uma arquitetura que, ao contrário do que deveria, coloca seres humanos a serviço do design.

Sessão de Arte - De acordo com o programador do São Luiz, Lula Cardoso Ayres Filho, o retorno da, como o próprio define, "verdadeira" Sessão de Arte, faz parte de um plano para resgatar o brilho que a sala tinha em seu auge. "Queremos trazer de volta o público que gosta de cinema".

Surgida no início dos anos 1960, a Sessão de Arte já contou com a curadoria dos críticos Alex, Fernando Spencer, Ivan Soares e Celso Marconi. "Fez tanto sucesso que o gerente da Severiano Ribeiro teve que transferir o projeto para o Cine Coliseu, que tinha 1.800 lugares", lembra Lula, que ressalta a importância de apresentar obras importantes e desconhecidas pelo grande público.

Nesse sentido, a distribuidora Pandora é a primeira de uma série de parcerias, que inclui filmes restaurados pela Cinemateca Brasileira. Na pauta para os próximos fins de semana estão Os incompreendidos, de François Truffaut, Quanto mais quente melhor, de Billy Wilder, Morte em Veneza, de Luchino Visconti, A doce vida, de Federico Fellini, obras de Ingmar Bergman e clássicos nacionais como O homem do Sputnik, Matar e morrer, filmes da Cinédia, Atlântida e do Cinema Novo.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Mostra Jean Rouch está no Recife



A partir de hoje, a Fundação Joaquim Nabuco recebe uma mostra inédita com 37 filmes do documentarista e etnólogo francês Jean Rouch (1917-2004). Celebrado como inovador do cinema antropológico e da própria linguagem audiovisual, ao longo de mais de uma centena de títulos. Rouch desenvolveu metodologia intervencionista, em que a câmera e o próprio diretor participam da ação tanto quanto os personagens, que por sua vez, assumem o papel ativo no processo criativo. Sua influência, primeiramente identificada na Nouvelle Vague francesa e no Cinema Novo brasileiro, perdura até hoje, em realizadores contemporâneos.

Organizada pelo curso de cinema da UFPE, em associação com a Fundaj e apoio da Aliança Francesa, a Mostra Jean Rouch chega ao Recife por iniciativa da Associação Balafon e patrocínio do Ministério da Cultura. A programação ainda inclui debates e seminários, na Sala João Cardoso Ayres e no Cinema da Fundação. A entrada é franca e todos os filmes contam com legenda em português. A mostra, que já passou por Salvador, Belém, Porto Alegre, João Pessoa, e após o Recife encerra a itinerância em Natal, faz parte da retrospectiva de 91 filmes organizada em 2009, em virtude do Ano da França no Brasil.

"Escolhemos o que há de mais bonito e representativo das facetas de seu trabalho", diz o mineiro Mateus Silva, curador da mostra. Ele diz que esta é a oportunidade de ter acesso a filmes que nunca circularam, já que menos de dez títulos estão disponíveis comercialmente no Brasil. "É pouco para um cineasta com mais de 120 filmes".

Já neste primeiro fim de semana, serão exibidos dois filmes essenciais de Rouch: Moi, un noir (Eu, um negro) e Chronique d'un été (Crônica de um verão, com Edgar Morin). Na segunda-feira, mais dois clássicos: Jaguar e La chasse au lion à l'arc (Caçada ao leão com arco). Neles, é notável a desenvoltura com que Rouch alia a busca pelo real com recursos do cinema de ficção. "Ele juntou Lumière com Méliès", diz Camilo Soares, que organiza a mostra com Laécio Ricardo, ambos do Departamento de Cinema da UFPE.


Jaguar


Os mestres loucos

Soares, que conheceu e entrevistou Rouch um ano antes de sua morte, diz que o conceito do "cinema-verdade" por ele criado com Morin é influência do cineasta russo Dziga Vertov e sua verve africanista. "Suas bases estão no formalismo russo da câmera-olho e na subjetividade absorvida na África, que valoriza o processo, a experiência. "A partir da realidade, ele reivindica a subjetividade não só dele como dos personagens".

Amanhã (sábado), Les maîtres fous (Os mestres loucos) mostra um ritual em que negros mimetizam os brancos e suas relações de poder. Uma das cenas traz pessoas comendo carne de cachorro. Quando mostrou o filme no Museu do Homem, foi pedido para que ele queimasse o filme imediatamente. Rouch negou, contrariando inclusive seu mestre, Marcel Griaule.

"Ele não queria fazer filmes limpos, mas para que os europeus pudessem compreender uma sociedade não só desconhecida, mas negligenciada", diz Soares. Na quinta, a mostra traz a versão curta de Petit a petit (Pouco a pouco), em que um grupo de nigerianosinvestigam o modo de vida francês. "É uma inversão bem-humorada do sentimento de superioridade dos europeus com relação aos africanos".

(Diario de Pernambuco, 14/05/2010)

Eu, o outro



Em Moi, un noir (Eu, um negro, 1958) Rouch opera no frescor de uma linguagem recém-criada. Em 73 minutos, o filme representa a vida de um povo com imagens objetivas, interpretadas pelas próprias pessoas por ele filmadas. Sua intenção, acompanhar a juventude desempregada que migra de pequenas vilas para Abidjan (a maior cidade da Costa do Marfim), é revelada junto com a metodologia adotada para realizar o filme. Enquanto comem, trabalham e se divertem no bairro pobre de Treichville, a "Chicago da África Negra", os garotos fazem o que quiser para as câmeras. E falam também, em narração off que ressignifica as imagens coletadas por Rouch.

Esse diálogo revela um imaginário dividido entre a tradição africana e culturas estrangeiras impostas pelo colonialismo. Ao bel prazer, os próprios protagonistas se autoficcionam com nomes de atores e personagens de filmes norte-americanos. O mais desenvolto, considerado por Rouch como o herói do filme, se apresenta como Edward G. Robinson, que se descreve como ex-combatente na Indochina. Seu colega é o galã Eddie Constantine, "agente federal americano designado para visitar garotas". O diretor diz que este levou tão o papel tão a sério que obteve três meses de prisão.

Entre etnógrafo e cineasta, Rouch foi os dois. No desenrolar das histórias, entre acessos de realidade e fantasia dos garotos, saltam aos ouvidos um francês pronunciado com forte sotaque, uma música vigorosa e aos olhos imagens da dança, roupas, rituais religiosos e hábitos únicos. Em textura granulada e colorida dos filmes da época, Rouch inventou o outro. E, de portador de pretensas verdades, o cinema documentário se tornou livre para buscar a própria linguagem.

Mostra Jean Rouch - Programação completa

Sexta, 14

16h - Sala João Cardoso Ayres
Programa 1: Tateios iniciais e invenção de um estilo na África negra (Níger e Mali, 1948-51)
Les magiciens de Wanzerbé (Níger, 1948)
Initiation à la danse des possédés (Níger, 1948)
Circoncision (Mali, 1948)
Cimetière dans la falaise (Mali, 1950)
Bataille sur le grand fleuve (Níger, 1951)

18h30h - Cinema da Fundação
Programa 4: Primeiro ciclo de improvisações etnoficcionais II: labirintos da identidade
Moi, un noir (Costa do Marfim, 1958-9)

Sábado, 15
14h - Cinema da Fundação
Programa 5: Primeiro ciclo de improvisações etnoficcionais III : interetnias
La pyramide humaine (Costa do Marfim & França, 1959)

18h30h - Cinema da Fundação
Programa 6: Primeiro momento francês (1960-66)
Chronique d'un été (França, 1960)

Domingo, 16

15h - Sala João Cardoso Ayres
Programa 7: Ensaios de etnomusicologia com Gilbert Rouget (Benin e Mali, 1959-70)
Sortie de novices a Sakpata (Gilbert Rouget & Jean Rouch, Daomé - atual Benin -, 1959)
Batteries Dogon - éléments pour une étude de rythmes (Gilbert Rouget & Jean Rouch, Mali, 1966)
Porto Novo: Ballet de cour des femmes du roi (Gilbert Rouget & Jean Rouch, Benin, 1970)

16h30 - Sala João Cardoso Ayres
Palestra: O que é o Cine-Transe?
Mateus Araújo Silva

18h30 - Cinema da Fundação
Programa 14: Improvisações para-publicitárias e etno-ficcionais no Níger (1973-74)
VW voyou (Níger, 1973)
Cocorico ! monsieur poulet (Níger, 1974)

Segunda, 17

14h30 - Cinema da Fundação
Programa 3: Primeiro ciclo de improvisações etnoficcionais I: migrações
Jaguar (Níger & Gana, 1954-1967)

16h30 - Cinema da Fundação
Programa 2: Incursões noutros países da África negra: Gana e Burkina Faso (1953-57)
Mammy Water (Gana, 1953-1956)
Les maitres fous (Gana, 1955)
Baby Gana (Gana, 1957)
Moro Naba (Burkina Faso, 1957)

18h30 - Cinema da Fundação
Programa 8 : A caça ao leão, dos Gaos (Níger) (1957-1968)
La chasse au lion à l'arc (Níger, 1957-65)
Un lion nommé americain (Níger, 1968)

Terça, 18

14h30 - Sala João Cardoso Aires
Programa 9 : O ciclo dosritos de Yenendi, entre os Songhay do Níger (1951 e 1967-68)
Yenendi, les hommes qui font la pluie (Níger, 1951)
Yenendi de Boukoki (Níger, 1967-73)
Yenendi de Ganghel - le village foudroyé (Níger, 1968)

16h - Sala João Cardoso Ayres
Mesa: Jean Rouch, Antropólogo visual
Renato Athias e Vincent Carelli
Mediador: Paulo Cunha

18h30h - Sala João Cardoso Ayres
Programa 10: O grande ciclo dos ritos do Sigui, entre os Dogon do Mali (1967-1974)
Sigui synthèse (Mali, 1967-1981)

Quarta, 19

14h - Cinema da Fundação
Programa 11: A invenção do cine-transe junto aos Songhay no Níger (1971-74)
Tourou et Bitti - les tambours d'avant (Níger, 1971)
Tanda Singui (Níger, 1972)
Horendi (Níger, 1972)
Pam Kuso Kar (" briser les poteries de Pam ") (Níger, 1974)

16h15 - Sala João Cardoso Ayres
Palestra: De um transe a outro: Jean Rouch e Glauber Rocha
Mateus Araújo Silva

18h30 - Cinema da Fundação
Programa 2

Quinta, 20

14h30 - Sala João Cardoso Ayres
Programa 15: em torno de Jean Rouch: Rouch e os Dogon (1984-2002)
Sur les traces du renard pâle - recherches en pays dogon 1931-1983 (Luc de Heusch, Mali, 1984)
Jean Rouch et Germaine Dieterlen, L'Avenir du souvenir (Philippe Costantini, Mali, video, 2004)

16h30 - Sala João Cardoso Ayres
Programa 13: Ritos funerários dos Dogon, no Mali (1973-74)
L'enterrement du Hogon (Mali, 1973)
Le Dama d'Ambara - enchanter la mort (Mali, 1974)

18h30 - Cinema da Fundação
Programa 12: Níger - França, ida e volta, ou a etno-ficção ao avesso (1968-72)
Petit à Petit (version courte) (Níger et França, 1968-9)

Sexta, 21

14h30 - Sala João Cardoso Ayres
Programa 6

16h - Sala João Cardoso Ayres
Mesa: Rouch e a fabulação no documentário
Laécio Ricardo e Marcelo Pedroso
Mediadora: Nina Velasco

18h30h - Sala João Cardoso Ayres
Programa 3

Sábado, 22

14h30 - Sala João Cardoso Ayres
Programa 4 bis

16h - Sala João Cardoso Ayres
Mesa: Rouch - Eu e o outro
Gabriel Mascaro, Fernando Weller e Cláudio Bezerra
Mediador: Camilo Soares

18h30 - Sala João Cardoso Ayres
Programa 5: Primeiro ciclo de improvisações etnoficcionais III: interetnias
La pyramide humaine (Costa do Marfim & França, 1959)

Domingo, 23

15h - Sala João Cardoso Ayres
Programa 16: Rouch e sua vocação para a ficção
Mosso mosso - Jean Rouch comme si (Jean-André Fieschi, França / Níger, 1998)

17h - Sala João Cardoso Ayres
Programa 8

Sobre o Robin Hood de Ridley Scott



A considerar a fria recepção da imprensa, lançar Robin Hood (EUA, 2010) no Festival de Cannes pode não ter sido estratégia das melhores. Estar no lugar errado, no entanto, não invalida o interesse em torno do filme que retoma a parceria entre o diretor Ridley Scott e o ator Russell Crowe. Apesar do ritmo acelerado e próprio do cinema de entretenimento, o longa utiliza de forma saudável a narrativa dos épicos à moda antiga.

A caminho de adentrar a sala dos rostos-símbolo do gênero, ao lado de Chalton Heston, Kirk Doublas e Lawrence Olivier, Crowe resgata a imagem do príncipe dos ladrões, maculada por Kevin Costner, Framboesa de Ouro de pior ator em 1991. Diferente do que podemos esperar, não encontramos o herói inglês em Sherwood, a liderar o alegre e benevolente grupo de saqueadores, mas como cruzado na frente de guerra contra a França, ao lado do Rei Ricardo Coração de Leão (Danny Houston). Soturno e defensor da coroa, Robin Longstride ainda não habita o espírito livre que viria a se tornar lenda.

Num piscar de olhos, assistimos à morte de Ricardo e à ascenção de John (Oscar Isaac), que abre mão da sabedoria e temperança do conselheiro William Marshall (John Hurt), trocando-a pela mão de ferro, que explora os pobres, de Godfrey (Mark Strong, com ares de vilão de telenovela). No condado de Nottingham, sob identidade de um cavaleiro morto, Robin se aproxima de Lady Marion (Cate Blanchett), que sofre assédio do xerife (Matthew Macfadyen) e o descado da igreja mantida por Frei Tuck (Mark Addy).

Como em todo épico que se preza, há uma figura veterana e cultuada, no caso, o sueco Max Von Sydow, ator de Bergman em O sétimo selo e Morangos silvestres. Ele interpreta Sir Walter Locksley, pai de Marion, um homem que perdeu a visão mas guarda segredos que ajudam Robin a descobrir seu passado e a lutar contra os inimigos.

Robin Hood se comunica com o mesmo público de Gladiador, primeiro fruto da dupla Scott/Crowe, só que nos poupa do romance açucarado, pois investe numa relação mais crível e em um contexto de guerra e miséria vividas pelos personagens.

Entre castelos medievais e florestas escuras, o filme está longe do ritmo vagaroso e da grandiosidade de cenas e atuações dos épicos antigos - isso é algo que dificilmente deve voltar no cinema comercial de Hollywood. Mas acerta ao optar pelo naturalismo da imagem, que evita vícios recorrentes como a manipulação digital e o sangue espirrando na cara do espectador.

(Diario de Pernambuco, 14/05/2010)

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Lançamentos, bastidores, Eu indico e ranking da semana

Lançamentos // DVD



Humor zumbi - A cultura zombie deve ganhar mais adeptos com essa comédia que combina liguagem de filmes de ação com lógica videogame e trilha sonora rock'n'roll. Num EUA devastado por mortos-vivos, o jovem Columbus (Jesse Eisenberg) cria regras próprias para sobreviver, até que encontra o durão Tallahassee (Woody Harrelson). Logo a dupla se alia às garotas Wichita e Little Rock (Emma Stone e Abigail Breslin), com quem praticam tiro ao alvo com zumbis e protagonizam revival de Ghostbusters com Bill Murray em participação de luxo. Diversão garantida.

Zumbilândia (Zombieland, EUA, 2009). De Ruben Fleischer. 88 minutos. Sony.



Fumaça - Glória Pires e Paulo Miklos vivem o par romântico Baby e Max, vizinhos que se apaixonam e passam a encarar a difícil arte da convivência. Em nome da relação, ela deixa de fumar. Mas a contrapartida não é das melhores: ele continua encontrando a ex-namorada. Com elementos humor negro, o filme aborda as consequências do ciúme e até que ponto estamos dispostos a fechar os olhos em nome de uma história de amor. Também repete a fórmula narrativa "lado A / lado B" e repleta de referências pop utilizada em Durval Discos, longa de estreia da diretora.

É proibido fumar (Brasil, 2009). De Anna Muylaert. 86 minutos. PlayArte.



Italiano - Adaptação de musical da Broadway baseado no filme 8 e 1/2 de Fellini, o filme abusa de cenários, figurinos e coreografias frenéticas para contar a história de Guido Contini (Daniel Day-Lewis), cineasta em crise conjugal e criativa que busca inspiração em sua amante (Penélope Cruz), sua musa (Nicole Kidman), sua amiga (Judi Dench), uma jornalista (Kate Hudson), uma prostituta (Fergie) e sua mãe (Sophia Loren) para realizar sua nova produção. Coincidência ou não, o que há de melhor neste longa vazio e pretensioso está em Marion Cotillard, no papel da esposa traída.

Nine (EUA, 2009). De Rob Marshall. 118 minutos. Sony.



Destino - Nesta comédia romântica que se pretende inteligente, e por vezes consegue, Gerard Butler é Mike Alexander, apresentador de programa televisivo que expõe sua filosofia machista a um público ávido por conselhos sexuais e amorosos. Determinado a provar suas teorias, ele passa a "ajudar" a atrapalhada e insegura produtora do programa, Abby Richter (Katherine Heigl) a conquistar um namorado. Após certa confusão e instalado o clima "guerra dos sexos", eles chegarão à "crua" verdade de que, mesmo se odiando, Mike e Abby foram feitos um para o outro.

A verdade nua e crua (The ugly truth, 2009). De Robert Luketic. 96 minutos. Sony.

Bastidores

Um artilheiro no meu coração, de Diego Trajano, Lucas Fitipaldi (repórter do DP) e Mellyna Reis foi selecionado para a mostras competitivas do Cinefoot - Festival de Cinema de Futebol, no Rio de Janeiro.

Estudantes do curso de cinema da UFPE realizam o making of de País do desejo, novo filme de Paulo Caldas. Esta pode ser a primeira de uma série de parcerias entre alunos da UFPE e produtoras de cinema.

Alumia, de Andréa Ferraz e Carol Vergolino, e Corumbiara, de Vincent Carelli, foram premiados os melhores filmes no festival internacional Contra el Silencio Todas las Voces, realizado no México.

Hoje, 19h10, a sessão de Criação no UCI Ribeiro Recife será seguida de debate com a colega Silvana Marpoara.

Viajo porque preciso, volto porque te amo, de Marcelo Gomes e Karim Aïnouz foi eleito o melhor filme do 12º Festival do Cinema Brasileiro de Paris. O ator Irandhir Santos também foi premiado pela atuação neste e no longa Olhos Azuis, de José Joffily.

O Núcleo de Audiovisual Barros Melo (Aeso) recebe amanhã, às 9h30, o cineasta Camilo Cavalcante para mostra e debate. Entrada franca.

O Festival Cinema de Triunfo abre inscrições para a mostra competitiva neste sábado. O evento ocorre de 21 a 31 de julho, no Cine Guarany.

A tradicional Sessão de Arte do Cine São Luiz volta amanhã, às 20h, com o longa Meu Tio (Mon Oncle, 1958), de Jacques Tati. Reprise no domingo, às 10h. Animação Até o Sol raiá abre as sessões. Outros clássicos estão na pauta.

Eu indico



Recomendo o filme Je t'aime moi num plus, de Serge Gainsburg, estrelado por Jane Birkin. Esse filme me deixou chapado. Pelas questões que levanta sobre amor e sexo. Um filme que considero atualíssimo. Procurei em locadoras e não achei. Se alguém conseguir baixar na net, me avise, por favor. Tem que ser visto por toda humanidade! E ainda tem a música que fez mais sucesso aqui no Brasil.

Beto Normal, estilista

Ranking dos mais locados

1. Avatar
2. Lua Nova
3. 2012
4. O solista
5. Bastardos inglórios
6. Código de conduta
7. Lula - o filho do Brasil
8. Sempre ao seu lado
9. Julie & Julia
10. Alvin e os esquilos 2


Fonte: www.blockbuster.com.br

terça-feira, 11 de maio de 2010

Novas diretrizes para a programação do Cine São Luiz



O Cine São Luiz inaugura hoje espaço permanente para filmes de curta duração. O filme que abre a nova fase é o premiado Muro, de Tião. Ele será exibido três vezes por dia, sempre antes do longa As melhores coisas do mundo, de Laís Bodanzky. Outros curtas, selecionados em convocatória, virão na sequência. Além disso, uma mostra com curtas de Kleber Mendonça Filho, Recife frio incluído, está confirmada para 7 de junho, uma segunda-feira, que a partir de então será reservada para programas especiais.

De acordo com o programador da sala, Lula Cardoso Ayres Filho, com a novidade, o São Luiz se torna o único cinema do país a respeitar a lei do curta. "A partir de agora, antes da cada longa teremos um curta, não necessariamente pernambucano", diz Lula. Boa notícia para os realizadores, que não somente terão seus filmes disponibilizados para o público, como terão direito a 5% da bilheteria. Por limitações técnicas, somente curtas em 35mm foram escalados. Em breve, com ainstalação de equipamento RAIN atualmente em licitação, acabará os problemas de bitola.

Filmado em 16 mm e ampliado para 35 mm scope , Muro é o único curta-metragem feito em Pernambuco a receber o prêmio Regard Neuf (novo olhar) na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes. Atualmente envolvido com a filmagem de Animal político, Tião define Muro como sua forma de narrar histórias que podem não se tocar, mas falam sobre as outras e sobre a distância entre as pessoas. "Ter um filme em cartaz é diferente de participar de festivais. A visibilidade é bem maior", resume Tião.

Nova programação - Há três semanas, com o afastamento de Geraldo Pinho da função, Lula Cardoso Ayres assumiu o cargo de programador através de sua empresa, a Sétima Arte, inicialmente contratada como consultora técnica na restauração do São Luiz. Com a entrada de Lula - devidamente alinhado com as diretrizes do conselho consultivo e da coordenadoria de cinema da Fundarpe - o São Luiz deve evitar filmes do cinemão norte-americano, como Ilha do medo, Preciosa e Nine (exibidos com três ou quatro semanas depois da estreia comercial) e retomar a antiga programação que formou gerações de recifenses.

O primeiro movimento nesse sentido é a volta da matinê infantil no domingo, às 10h e 14h. O segundo será o retorno da, como define Lula, "verdadeira Sessão de Arte", às sextas (22h) e sábados (10h). A negociação com as distribuidoras está em pleno vapor.

(Diario de Pernambuco, 11/05/2010)