sexta-feira, 14 de maio de 2010

Sobre o Robin Hood de Ridley Scott



A considerar a fria recepção da imprensa, lançar Robin Hood (EUA, 2010) no Festival de Cannes pode não ter sido estratégia das melhores. Estar no lugar errado, no entanto, não invalida o interesse em torno do filme que retoma a parceria entre o diretor Ridley Scott e o ator Russell Crowe. Apesar do ritmo acelerado e próprio do cinema de entretenimento, o longa utiliza de forma saudável a narrativa dos épicos à moda antiga.

A caminho de adentrar a sala dos rostos-símbolo do gênero, ao lado de Chalton Heston, Kirk Doublas e Lawrence Olivier, Crowe resgata a imagem do príncipe dos ladrões, maculada por Kevin Costner, Framboesa de Ouro de pior ator em 1991. Diferente do que podemos esperar, não encontramos o herói inglês em Sherwood, a liderar o alegre e benevolente grupo de saqueadores, mas como cruzado na frente de guerra contra a França, ao lado do Rei Ricardo Coração de Leão (Danny Houston). Soturno e defensor da coroa, Robin Longstride ainda não habita o espírito livre que viria a se tornar lenda.

Num piscar de olhos, assistimos à morte de Ricardo e à ascenção de John (Oscar Isaac), que abre mão da sabedoria e temperança do conselheiro William Marshall (John Hurt), trocando-a pela mão de ferro, que explora os pobres, de Godfrey (Mark Strong, com ares de vilão de telenovela). No condado de Nottingham, sob identidade de um cavaleiro morto, Robin se aproxima de Lady Marion (Cate Blanchett), que sofre assédio do xerife (Matthew Macfadyen) e o descado da igreja mantida por Frei Tuck (Mark Addy).

Como em todo épico que se preza, há uma figura veterana e cultuada, no caso, o sueco Max Von Sydow, ator de Bergman em O sétimo selo e Morangos silvestres. Ele interpreta Sir Walter Locksley, pai de Marion, um homem que perdeu a visão mas guarda segredos que ajudam Robin a descobrir seu passado e a lutar contra os inimigos.

Robin Hood se comunica com o mesmo público de Gladiador, primeiro fruto da dupla Scott/Crowe, só que nos poupa do romance açucarado, pois investe numa relação mais crível e em um contexto de guerra e miséria vividas pelos personagens.

Entre castelos medievais e florestas escuras, o filme está longe do ritmo vagaroso e da grandiosidade de cenas e atuações dos épicos antigos - isso é algo que dificilmente deve voltar no cinema comercial de Hollywood. Mas acerta ao optar pelo naturalismo da imagem, que evita vícios recorrentes como a manipulação digital e o sangue espirrando na cara do espectador.

(Diario de Pernambuco, 14/05/2010)

Nenhum comentário: