segunda-feira, 31 de maio de 2010

O cinema que olha a cidade


Dia de clássico - foto: Marcelo Pedroso

Uma nova geração de diretores pernambucanos entra em cena. Os documentários Dia de clássico, de Paulo Sano e Rafael Travassos, e Retinianas, de Luis Henrique Leal, serão exibidos hoje, às 19h30, em sessão especial no Cinema da Fundação. Ambos os filmes olham crítica e afetivamente para o Recife e seus habitantes, tendência crescente na atual produção.

Realizado com recursos próprios e finalizado com verba do Funcultura, Dia de clássico investiga com rigor estético a relação da cidade com o futebol, no caso, uma partida dominical entre Sport e Náutico, na Ilha do Retiro, em 2008. O registro intercala quatro abordagens distintas, direcionadas pelos fotógrafos Cláudio Fernandes, Felipe Peres Calheiros, Luís Henrique Leal e Marcelo Pedroso. "A ideia foi montar equipes autônomas, para passar o dia gravando o que quisessem", diz Paulo Sano. "Na época, nossa referência maior era de documentários como os de Dziga Vertov, Walter Ruttmann e Alberto Cavalcanti".

Captados nos arredores do estádio e em diferentes bairros do Recife, imagens e sons são unificados na montagem, que reconstrói o movimento da cidade em torno do evento esportivo. A contemplação sensorial, de inclinação poética, predomina, sem no entanto inibir a dimensão social da movimentação dos torcedores nos coletivos, do flagrante emocional de quem acompanha o jogo fora do estádio e da tensão do baculejo policial.


Retinianas - foto: Luiz Henrique Leal

Em forma de ensaio, Retinianas parte da vontade do diretor em entender e desenvolver impressões sobre o Recife verticalizado e em permanente transformação. O resultado é um manifesto pessoal de estranhamento, narrado em primeira pessoa. "Existe um fascínio com o tipo de arquitetura que está se tornando hegemônico na cidade, um projeto que seduz as pessoas, mas não se preocupa com seus efeitos", diz o jornalista Luis Henrique Leal, cujo próximo filme será sobre o enfermeiro e cineasta José Manuel, ator e assistente de direção do "camelô do cinema" Simião Martiniano.

Os filmes apresentados hoje são apenas a ponta do iceberg. Seus realizadores fazem parte de produtoras que despontam com projetos recém-aprovados em editais de fomento. Sano e Travassos são do coletivo Asterisco, formado por alunos do curso de comunicação da UFPE, que em breve lançará o documentério Acercadacana, de Felipe Peres, sobre uma senhora que está sendo expulsa da casa onde mora há mais de quatro décadas, em um canavial adquirido por grande empresa. E Leal, da Parabelo Filmes, está em fase de pré-produção do curta Periscópio, contemplado pelo concurso Ary Severo / Firmo Neto.

(Diario de Pernambuco, 31/05/2010)

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