sexta-feira, 1 de junho de 2007

Tela Grande (estréia): Zodíaco, de David Fincher



Downey JR. e Jake Gyllenhaal: grandes atuações

Jack o Estripador, o primeiro serial killer a virar celebridade, era inglês. Apesar disso, a fama obtida pelo maníaco naquela época não é nada se comparada com a obsessão norte-americana em torno do tema. Gente maluca que sai matando existe em qualquer lugar, mas é nos EUA que eles alcançam status de efêmeros popstar. Um deles, surgido em San Franscico no fim dos anos 60, se auto-batizou Zodíaco, se comunicava por complexos criptogramas enviados para a imprensa, e acaba de ter sua história recontada com competência no novo filme de David Fincher ("Clube da Luta"), que estréia hoje nos cinemas do Brasil.

Subgênero recorrente na indústria hollywoodiana, os filmes sobre serial killer quase sempre usam a mesma fórmula para produzir tensão no público, e podem ser tão ou mais numerosos do que os casos reais. No suspense "Zodíaco" (Zodiac, 2007), Fincher volta ao tema, já trabalhado em "Seven - Os Sete Pecados Capitais", só que menos apelativo, sem tantos clichês. O diretor fez um filme investigativo, sóbrio e de marcha lenta, ambientado em sua maior parte dentro de uma redação de jornal.

Zodíaco nunca foi capturado, apesar de todas as evidências apontarem Arthur Leigh Allen como o matador. Nesse processo, o jornalista Paul Avery (Robert Downey Jr., em grande interpretação) e o policial Dave Toschi (Mark Ruffalo) vêem suas carreiras escorrer ralo abaixo. Aos poucos, Zodíaco sai de cena, mas o cartunista político Robert Graysmith (Jake Gyllenhaal), o cartunista político fissurado em decifrar códigos obscuros, decidiu continuar a busca de evidências. Autor de sete livros sobre serial killers, ele dedicou dois deles para o Zodíaco. Ele acredita que, usando como precedente o exemplo de um casal de históriadores que decifrou - antes do FBI, CIA ou Nasa - as mensagens do Zodíaco publicadas nos jornais, algum espectador consiga solucionar os códigos em aberto e, quem sabe assim, encerrar o caso.

O encadeamento cerebral e a longa duração (mais de 2h30), características constantes nos trabalhos de Fincher, caem como uma luva como representação do cansaço e frustração decorrentes de um caso nunca resolvido. Sem clímax ou redenção, este quebra-cabeça infinito guarda seu talento na estética estabelecida, atuações instigantes, e uso de uma métrica linear de narração. Fincher aprendeu com mérito a lição de Alan J. Pakula ("Todos os homens do presidente"), Sidney Lumet ("Um Dia de Cão") e do mestre maior, Alfred Hitchcock. A trilha sonora, uma seleção de vigorosos temas de rock'n'roll do período, é outro ponto positivo deste filme nada comum.

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