sexta-feira, 8 de junho de 2007
Tela Grande (em cartaz): "Esses Moços", de José Araripe Jr.
“Esses Moços”, em cartaz no Cinema da Fundação, enfoca poeticamente a vida dos moradores de rua - para usar um termo tão bem intencionado e politicamente correto quanto é este primeiro longa do baiano José Araripe Jr. Um filme que, se não atingiu a plenitude de seus intentos, ao menos evitou o tom panfletário ongueiro, viés tão perigoso e alienado quanto a mentalidade classe média apavorada com a violência nos sinais de trânsito.
Nem uma coisa, nem outra. Araripe aposta no humanismo ao promover o encontro entre duas irmãs fugidas da zona rural baiana (Darlene e Daiane, interpretadas por Chaeind Santos e Flaviana Silva), e Diomedes (Inaldo Santana), um homem idoso e sem memória. Concebido com nuances do vagabundo de Charles Chaplin (mudo, magro, de terno, chapéu e óculos escuros), Diomedes logo é chamado de “vô” por Daiane, a irmã mais nova e carente de família.
As duas meninas compõem em si um rico núcleo para tratar dos problemas de cidades grandes e empobrecidas, cuja infância se perde entre sinais de trânsito, turismo sexual e grupos de extermínio. Darlene, com aproximadamente 12 anos, já se traumatizou o suficiente para ter seu coração endurecido e descrente. Ela explora sua irmã mais nova, a inocente Daiane, que apanha e se vê obrigada a pedir esmola nos cruzamentos de Salvador. Da tensão dramática entre as duas, fatos e conseqüências as levam pela cidade.
O ritmo dos acontecimentos e diálogos é lento, como se os personagens vivessem num mundo paralelo, próprio das crianças e idosos. Mais ainda, dos moradores da rua, alheios ao caos urbano que os cerca. Uma invisibilidade, aliás, de mão dupla. Que permite liberdade para ambos os lados, até se quebrar, em situações-limite. Um bom conceito que, fosse mais nítido, obteria melhores resultados.
Filmes relacionados: “Capitães de Areia”, “Pixote” e “Como Nascem os Anjos”.
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