sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Ternura para levar a vida



Os descendentes, melodrama havaiano de Alexander Payne (Sideways - entre umas e outras), traz George Clooney entregue ao papel de um pai de família fragilizado pelo coma da esposa, vítima de um acidente de lancha. Além disso, ele precisa lidar com as duas filhas, missão com a qual não demonstra talento algum. Indicado ao Oscar em cinco categorias e vencedor do Globo de Ouro de melhor filme e ator em drama, o filme tem em Clooney de chinelo e camisa florida seu grande trunfo, por enfrentar o desafio de fazer um personagem de certa forma distante do conquistador rico e bon vivant pelo qual é conhecido.

De certa forma, pois Mr. Matt King faz parte de família rica e tradicional, que possui boa parte da paradisíaca ilha norte-americana e agora quer vender a vasta propriedade, para que o dinheiro seja dividido entre os vários irmãos e primos. Com a esposa hospitalizada e alguns fatos ocultos que vêm à tona, ele passa a questionar se realmente vale a pena repassar as terras de seus ancestrais - daí o nome do filme.

Apesar dos exageiros impostos pelo roteiro, Clooney está muito bem como o cara sensível, desamparado e disposto a descobrir a verdade. A tragédia termina por aproximá-lo das filhas, que se aventuram com o pai - e um namorado sem noção - situações bem humoradas e singelas, típicas da cultura indie. Por mais triste que seja a situação de seu protagonista, o diretor faz de Os decendentes um filme leve, ritmado pelo vai e vem das ondas do mar. A trilha, embalada pelo ukelele havaiano e violão, é suave e intimista, tradução um tanto redundante para o personagem central.

A relação entre King e a filha mais velha (Amara Miller) é particularmente especial, pois se desenvolve para caminhos inesperados, nos quais residem a força maior do filme: a de que não há mau tempo para quem o enfrenta com ternura e verdade.

(Diario de Pernambuco, 27/01/2012)

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