sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
O homem por trás do FBI
Já é tradição: cada começo de ano é tempo de um novo Clint Eastwood. O biográfico J. Edgar estranha positivamente o fato de que o cowboy macho dos filmes de Sergio Leone, anos depois vertido no justiceiro implacável Dirty Harry venha a diriigir um love story homoafetivo. Pode se entender pelo simples fato de o protagonista ser J. Edgar Hoover (Leonardo Di Caprio), um dos mais ferrenhos anti-comunistas da história norte-americana, criador do FBI, instituição a qual dirigiu por 48 anos initerruptos, tendo sobrevivido ao mandato de oito presidentes.
Há muito de subversivo na visão de Eastwood para um personagem, por si, controvertido o suficiente para trazer em si qualidades de um heroi corrupto, por manipular informações e impor métodos questionáveis para permanecer no poder. Enquanto Hoover dita sua biografia a um funcionário do bureau, Eastwood volta a seu passado e evidencia sua forte devoção à mãe (Judi Dench), projetada na secretária, Helen (Naomi Watts) e na relação dúbia com seu assessor (Armie Hammer). Reprimido pela mãe, eles vivem um amor suspenso por décadas.
Eastwood arrisca a credibilidade ao insistir em Hoover como um gay enrustido. Só não cai no ridículo pois coloca a pulsão reprimida do personagem como propulsora da sua habilidade em conduzir o FBI e se manter no poder. Sua psicologia é o maior interesse do diretor, que examina as motivações ideológicas e afetivas que moldaram o caráter vaidoso, disciplinado e vigilante do personagem que modernizou as técnicas de investigação e o levou a indexar com mais eficiência todos os cidadãos. Com sua resposta à ameaça comunista, Hoover moldou o modus operandi da nação controladora, moralista e paranóica que hoje caça os direitos, prende e tortura supostos terroristas. Dirty Harry estaria exultante, ou revirando na tumba?
(Diario de Pernambuco, 27/01/2012)
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