segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
Os criadores à frente das câmeras
Ao longo dos anos, Pernambuco tem sido pródigo em revelar realizadores inovadores. Notáveis, suas produções repercutiram em cinemas e festivais. Mas pouco se sabe sobre quem são, qual sua história e que ideias os guiam aos filmes. Dirigido por Camilo Cavalcante, a série Olhar é um trabalho inédito, que remete à importância não só de revelar as pessoas por trás dos filmes, mas de construir uma memória do cinema.
A primeira temporada, com dez episódios, vai ao ar todas as segundas-feiras, às 21h30 (horário de verão), no Canal Brasil. O primeiro programa traz o veterano Fernando Spencer, precursor e incentivador da geração do Super 8. Na sequência vem Jomard Muniz de Britto, Kátia Mesel, Simião Martiniano, Daniel Bandeira, Kleber Mendonça Filho, Marcelo Lordello, Marcelo Pedroso, Lírio Ferreira e Cláudio Assis.
“Considero de fundamental importância esta parceria entre TV e produtores independentes”, diz Camilo. “É uma forma de diversificar, pluralizar os conteúdos e abrir espaço para novas idéias e conceitos de programas. Na Europa, essa parceria funciona muito bem. No Brasil, ainda é uma iniciativa tímida. Mas sem dúvida o Canal Brasil tem avançado muito neste sentido, coproduzindo e licenciando vários programas e longas-metragens”.
Longevo repórter e crítico de cinema do Diario de Pernambuco, Spencer lembra de quando, na juventude, ganhou dos pais um projetor e chamou os amigos para fundar um cineclube. Eis a semente do Cinema Coliseu, referência nas sessões de arte dos anos 1960. Como jornalista, ele lembra com gosto a entrevista imaginária que fez com Charles Chaplin, que ocupou página inteira deste Viver. Como realizador, ganhou desesseis prêmios nacionais e um em Portugal. “Não tinha nada. Devo tudo aos amigos”, diz o diretor, que teve na banca de entrevistadores seu companheiro de geração, Celso Marconi.
Com patrocínio da Fundarpe, a série Olhar adota uma linguagem pouco comum à linguagem da TV. Como que uma vingança às avessas contra a vulgarização do cinema nacional pelos cacoetes televisivos, Camilo veste a luva de pelica e traz para a telinha recursos cinematográficos. e cuidados técnicos como movimento de câmera, cenário, luz e som que fazem toda a diferença. A qualidade do projeto se percebe já na animação de abertura, de Leanndro Amorim sobre música de DJ Dolores.
O formato jornalístico vai abaixo com a exclusão das perguntas na mesa de edição. Entre as falas dos cineastas, há apenas o silêncio. “É um programa que prima pela simplicidade com o foco totalmente voltado para o entrevistado e sua obra. Todo esse material torna-se um registro valioso do tempo, da política, do contexto sócio-cultural, da história do Brasil e do mundo, que reflete diretamente na produção de cada realizador”.
No fim de cada entrevista, Camilo pergunta que conselho dar para quem começa a fazer cinema? Kleber responde: “Em termos de estrutura, quem tem 17 ou 18 anos nasceu na época mais incrível para se fazer cinema. Mas não basta fazer filmes. Tem, que ler, viver, levar um pé na bunda, encher a cara. É preciso o toque pessoal, a experiência. Saber ver é saber fazer cinema”. Mais ácido, Jomard diz: “Não vou ficar passando a mão na cabeca de gente jovem, que nao lê, não debate e fica agindo como fossem gênios”.
Os dez primeiros programas são apenas a primeira temporada da série Olhar. “Estamos captando recursos para a produção da segunda temporada para entrevistar cineastas como Marcelo Gomes, Paulo Caldas, Adelina Pontual, Amin Stepple, Celso Marconi, Renata Pinheiro, Gabriel Mascaro, entre outros”. Após lá , Camilo organiza as entrevistas na íntegra, para lançar em livro e DVD.
(Diario de Pernambuco, 16/01/2012)
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