quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Fino do samba segura o ritmo


Demônios da Garoa e Paulinho da Viola encerram a programação no Fortim do Queijo, em Olinda

Já conta um quarto de século desde que os Demônios da Garoa cantaram pela última vez no Recife. Pelo menos é o que registra a memória do violonista Simbad, que naquele tempo nem fazia parte do antológico conjunto paulistano. "Digo isso porque recebi um cartão postal de Boa Viagem, enviado por Toninho", disse Simbad, por telefone, em referência a um dos fundadores do conjunto paulistano que em fevereiro completa 66 anos de atividade ininterrupta.

Eis que, da terra da garoa e sóbrios tons de cinza, para a multicolorida Olinda pronta para o carnaval, o reencontro do samba paulista nos domínios do frevo se dará hoje à noite, no Fortim do Queijo (beira-mar de Olinda). O show começa logo após Orquestra Pernambucana de Choro, marcado para às 19h30. Logo após, outro grande representante do samba à moda antiga: Paulinho da Viola.

"Há de ser um retorno memorável", prevê Simbad, integrante da segunda geração do Demônios da Garoa. Ele entrou no grupo em 1989, a convite do próprio Toninho, falecido há quase quatro anos. "Eu tinha a banda Modern Sound Mix, que fazia a abertura e preparava o palco para os mestres com quem aprendi", conta o músico.

No repertório estão clássicos obrigatórios de Adoniran Barbosa: Saudosa maloca, Samba do Arnesto, e a indefectível Trem das 11. "São clássicos que fazem a alma do conjunto", diz Simbad. Tudo dentro da marca registrada que forjou a identidade dos Demônios: o bom humor e arranjos vocais bem estruturados que, aliados à longevidade incomum, fizeram do grupo uma verdadeira instituição musical. "Nossa intenção é preservar a história do samba paulista. Vamos levar essa bandeira até o fim dos dias", diz Simbad.

A reportagem tentou, mas não conseguiu falar com Paulinho da Viola, pois ele estava entre um avião e outro a caminho de Pernambuco. No entanto é possível imaginar uma inevitável afinidade com o samba de raiz dos Demônios da Garoa e a Orquestra Pernambucana de Choro, um novo projeto que congrega 20 instrumentistas de diferentes grupos, como o Grupo Pernambucano de Choro, Choro Brasil e Quinteto de Prata.

Se o público for maior do que a noite de segunda, quando Marcelo D2 fez show para mais de 10 mil pessoas, Paulinho da Viola vai encontrar muita gente à espera de sua presença ilustre, elegante e tranquila. O repertório deve ser o mesmo da atual turnê, que vem trabalhando o álbum Acústico MTV. São músicas pinçada a dedo, uma pequena amostra de sua discografia iniciada em 1965, entre elas, Coração leviano, Nervos de aço e Sinal fechado, que ganhou novo arranjo. Para um amor no Recife também deve estar na lista, por motivos óbvios.

Paulinho da Viola cantou pela primeira vez no carnaval pernambucano em 2004, e desde então tem sido assaz frequentador da cidade. A novidade, se é que ela é necessária em se tratando do músico carioca, está em três novas composições - Bela manhã, Vai dizer ao vento e Talismã, as primeiras desde o último álbum de estúdio (Bebadosamba, 1996).

publicado no Diario de Pernambuco

Um comentário:

Renato Teles disse...

André, eu não sou um grande adepto do carnaval, mas suas postagens estão me influenciando. Acho que também vou "beber do samba" hoje.