terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
Salto qualitativo de um jovem artista*
Selton Mello, um dos atores mais conhecidos do Brasil, agora investe na carreira de diretor. O primeiro salto de qualidade deste mineiro de 36 anos veio quando migrou das novelas globais para as telas do cinema, onde viveu personagens marcantes e díspares, como o disparatado Chicó em O auto da Compadecida, o angustiado André, em Lavoura arcaica, o perverso Lourenço (O cheio do ralo), e o playboy traficante João Estrela (Meu nome não é Johnny).
O segundo chegou agora, com Feliz Natal, longa-metragem que entrou em cartaz na última sexta-feira (ver roteiro). Como era de se esperar, a produção é generosa com o elenco, estrelado por Leonardo Medeiros, Darlene Glória, Lúcio Mauro e Paulo Guarnieri. Na equipe, nomes tarimbados como Vânia Catani (produção), Lula Carvalho (fotografia), Daniela Pinheiro (arte) e Plínio Profeta (trilha sonora). Tudo para contar a história de Caio, personagem que, após anos de exílio, retorna ao lar e encara a família em decadência e fantasmas de um passado inconsequente.
Para expressar sua arte, Selton Mello, que também co-assina produção, roteiro e montagem, investiu no improviso em cena, luz natural, planos quase abstratos e por vezes tão aproximados que mostram a textura da pele. Tanta visceralidade pode ser entendida a partir do significado pessoal da noite de Natal para o diretor: 25 de dezembro é data de nascimento de seu pai, e seu próprio aniversário é no penúltimo dia do ano. Apesar disso, ele garante não haver nada de autobiográfico no filme. "Caio não sou eu, e sim a tradução do sentimento dessa época do ano que, para mim, é obrigatória. Feliz Natal é sobre coisas não ditas, as entrelinhas são muito importantes".
Em entrevista ao Diario, o mais novo e promissor cineasta brasileiro conta detalhes sobre o filme de estreia, questiona o sistema usado para a escalação de atores nos filmes nacionais e revela quais os planos para os próximos meses, o que inclui um inesperado retorno à televisão.
Entrevista // Selton Melo: "Quero experimentar formas de me expressar"
Lavoura arcaica parece ter exercido grande influência sobre seu filme. Você mesmo afirmou que ele é uma resposta ao filme de Luiz Fernando Carvalho. Além disso, você cita Cassavettes e o cinema argentino como fortes referências. Elas devem continuar nos próximos filmes, ou foram adotadas apenas para este?
Luiz Fernando é uma referência enorme por causa de sua imensa coragem, ele foi a primeira pessoa que viu um corte bruto do meu filme e me ajudou a encontrar o caminho a seguir. Todas estas referências foram importantes, mas serviram apenas a esse filme. Mas esse não é o meu estilo de direção, é a linguagem dessa história especificamente. Quero experimentar outras formas de me expressar atrás das câmeras. Quero adaptar O alienista, de Machado de Assis, um filme de época, que terá uma outra pegada, diferente de Feliz Natal. E antes desse, rodar um filme que flerta com a comédia. Tentar como diretor fazer o que já faço como ator: ir de Lisbela e o prisioneiro a O cheiro do ralo, de Árido movie a O auto da Compadecida.
Você demonstra evidente respeito com os veteranos Darlene Glória e Lúcio Mauro, grandes talentos nem sempre lembrados pelo cinema brasileiro. Ao mesmo tempo, você apresenta novos e promissores atores. Você passou por essa reflexão antes de optar pelo elenco?
Com certeza. Hoje em dia se dá muita importância a lançamentos. Lançar gente é importante, claro, como o menino Fabrício Reis, por exemplo. Mas não é só assim que a banda deve tocar. Procurei buscar profissionais altamente talentosos, com gana de trabalho, que ficam à margem. Esse é o caso do Paulo Guarnieri. Fez várias novelas, cresci vendo seu trabalho. Assim que fiz o convite, ele veio e fez lindamente o irmão do protagonista. Aquele olhar do Paulo era insubstituível. O mesmo acontece com o extraordinário Lucio Mauro. E Darlene Glória? Musa absoluta do cinema brasileiro. Eu me pergunto por que essas chances não são dadas com mais frequência. Acaba gerando escalações viciadas.
A nudez da atriz Graziela Moretto gerou forte reação do namorado dela, o ator Pedro Cardoso, que redigiu um manifesto e classificou a cena como "pornográfica". Qual sua visão sobre esse episódio?
Sinceramente, acho que isso é passado. Eu não fui citado nominalmente, nem meu filme, mas como a imprensa insistiu em me ouvir coloquei uma nota no site do filme, www.feliznatalofilme.com.br. Quem ainda se interessar por isso pode ir lá conferir.
Na sessão especial de Feliz Natal em dezembro, no Cinema da Fundação, você afirmou estar mais neste filme do que em todos os personagens que já interpretou. Como ficará sua carreira de ator, agora que sua preferência é a direção?
A direção veio para ficar em minha vida, é algo incrível e apaixonante. Descobri esse lado e estou encantado com essa nova possibilidade. Estou bem mais ciente de todo o processo e isso me enriquece muito também como ator. E em meu próximo filme vou atuar também, já me sinto seguro para dar mais esse passo. Mas sinceramente tenho muita vontade de voltar a fazer uma novela, me comunicar através da minha arte com milhões de espectadores. Mudanças estão por vir na minha trajetória.
* publicado no Diario de Pernambuco de 10/02/2009
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3 comentários:
Adoro teu blog, querido!!!
Mesmo quando só dá pra ver as figurinhas, saio daqui mais sabida!
; )
Beijinhos bem muitos!!!
eva
eita! arrasasse! e o grito tentou demais, né?
o né saiu sem querer. tentamos fazer uma entrevista com ele fora da coletiva mas foi nó, viu??? ninguém conseguiu fazer.
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