sábado, 26 de novembro de 2011

Da palavra à imagem



O escritor paulista Marçal Aquino está no Recife. O motivo é dos melhores, uma conversa sobre cinema e literatura. Quem promove é a 2ª Mostra Sesc de Literatura Contemporânea. O evento será hoje, às 19h, no salão de eventos do Sesc Santa Rita, com entrada franca. Autor de 13 livros e dezenas de roteiros para cinema e TV, Marçal esteve na cidade pela última vez em 2009, a convite da Bienal do Livro. Agora volta para tratar de questões relativas à adaptação da palavra à imagem. Entre os escritores brasileiros, é o mais tarimbado no assunto. E um dos poucos que adaptam o próprio trabalho para o cinema.

Seu currículo inclui os roteiros de todos os filmes de Beto Brant (Os matadores, Ação entre amigos, O invasor, Crime delicado e o recente Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios), além de Nina e O cheiro do ralo, de Heitor Dhalia. Para a TV, é responsável (com Fernando Bonassi) pelo seriado global Força-tarefa. A parceria deu certo. Já preparam outra série policial, que estreia ano que vem.

Formado em jornalismo - daí a familiaridade com o mundo cão e situações limite, Marçal não vê conflito entre as atividades. Diz que sua prioridade sempre foi a literatura. “É a minha casa. Me preparei para isso a vida inteira, é efetivamente o que gosto de fazer. Os roteiros são meu ganha-pão. Não fosse isso, estaria trabalhando em alguma redação”.

Marçal diz que, a não ser como espectador, nunca quis nada com o cinema. Entrou por acaso. “Em matéria de atividade economicamente inviável, já basta a literatura”, brinca. “Enquanto Beto filmava Os matadores, encontraram dificuldade na adaptação e eu disse o que faria se fosse o roteirista. Não tinha experiência nenhuma, só um curso na faculdade”.

A sintonia com Beto Brant, de quem não se diz roteirista, mas “parceiro de aventuras cinematográficas”, vem de um pouco antes. “Ele quis adaptar um livro meu. Não deu certo, mas nos aproximamos e estabelecemos uma relação de amizade. Ele é muito afetado pela literatura, todos os filmes dele têm base literária. Meu trabalho é criar condições para que ele realize o seu trabalho”.

Como cinéfilo, usa o pouco tempo livre para assistir à produção sul-coreana. “No momento, na minha opinião, ninguém faz cinema como eles”. Não são violentos demais? “Não tanto quanto Sam Peckimpah (Meu ódio será tua herança) ou Gaspar Noé (Irreversível). O que me atrai neles é a próximidade à história em quadrinhos”.

E é justamente pelos quadrinhos, sua primeira paixão, que se explica a força imagética da prosa de Marçal. “Dizem que minha ‘literatura visual’ tem a ver com o trabalho como roteirista, mas meu primeiro impulso artístico vem dos quadrinhos, que é o cinema estático. Já cheguei a desenhar, mas hoje sou só leitor. Meu trabalho é a palavra”.

Atualmente, além de trabalhar para a Globo, o escritor se dedica ao próximo livro, Como se o mundo fosse um bom lugar. Sobre ele, nem uma palavra. “Decidi não falar sobre o que está sendo feito. Não é superstição. Vou descobrindo o livro na medida em que escrevo. Quanto mais certezas eu tiver, pior”.

(Diario de Pernambuco, 26/11/2011)

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