sexta-feira, 17 de junho de 2011
Elogio ao cinema
Estreia hoje, no Cinema da Fundação, Chantal Akerman, de cá (Brasil, 2010), de Gustavo Beck e Leonardo Luiz Ferreira. A princípio, o documentário diz respeito a poucos. São 61 minutos de entrevista com diretora belga de filmografia poderosa, mas pouco conhecida no Brasil. No entanto, o longa interessa a todos os que gostam de cinema e da arte como forma de compreender a vida.
Conduzida em inglês, a conversa com Chantal repassa seus anos de formação, preferências estéticas, influências e hábitos pessoais. O método de abordagem adotado pelos diretores é pouco convencional. Durante a conversa com Chantal, duas câmeras foram utilizadas. Uma enquadra a diretora de frente, ponto de vista clássico do cinema documental. Outra foi posicionada na antesala, de onde, oculta, registra tudo do lado “de cá”. O filme utiliza imagens desta, em plano único, fixo, sem montagem ou qualquer outra interferência no fluxo da entrevista.
Assim, deslocado do espaço de interação “oficial”, o filme se constroi. Em palavras, gestos e expressões de Chantal (entrevistador e a equipe ficam fora de quadro). No suntuoso salão do Centro Cultural Banco do Brasil (RJ), enquadrado de forma a desenhar uma “tela dentro da tela”. Na fotografia, que valoriza paredes, portas e corredores, tão importantes quanto a personagem. No plano único e de longa duração, que força o espectador a tomar consciência do transcorrer do tempo. Recursos que remetem a filmes da diretora, como Jeanne Dielman, de 1975.
Passado o estranhamento inicial, o filme flui. Diretor de A casa de Sandro (2009), Beck justifica o passo atrás (ou ao lado) como fundamental para oferecer espaço a personagem, “e permitir que o tempo do filme viesse dela”. Conseguiu. É um belo tributo à Chantal Akerman. E à arte de fazer cinema.
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