terça-feira, 21 de junho de 2011

Meia-noite em Paris é um sucesso



Meia-noite em Paris chegou ao circuito comercial na última sexta-feira, um mês após abrir o Festival de Cannes. Rapidez incomum, considerando que o público brasileiro já teve que esperar mais de um ano para assistir outros filmes do diretor. A agilidade da distribuidora, que por coincidência se chama Paris Filmes, se mostrou acertada. A Paris de Woody Allen não é apenas adorável. É um sucesso de bilheteria.

Em seu fim de semana de estreia, 130 mil brasileiros assistiram Meia-noite em Paris. O filme está em cartaz em 93 salas, o que totaliza uma média de 1.350 pessoas por cópia. Somente no Recife, 3.705 bilhetes foram vendidos. Várias sessões estavam lotadas. “Nas praças em que eu trabalho, nunca vi um Woody Allen entrar tão forte assim”, diz Pedro Pinheiro, programador do grupo UCI / Ribeiro. “No Rio de Janeiro, nossos cinemas somaram público ode 14.393 pessoas”. Há 40 anos no ramo, Jaime Tavares, diretor de programação da Paris Filmes, confirma este como o filme de Allen mais bem aceito no país.

Com o devido respeito aos que ficaram de fora, é um prazer registrar que, ao menos por um fim de semana, dezenas de salas de shopping estiveram 100% ocupadas por gente atraída por um filme quase artesanal, distante da lógica blockbuster. O elenco liderado por bons atores (Owen Wilson, Rachel McAdams) e a ponta de luxo da primeira-dama Carla Bruni pode explicar somente parte deste sucesso. O grande feito de Meia-noite em Paris é tornar simples e acessível o que Woody Allen tem de melhor - texto afiado, humor inteligente e a narrativa despojada. E chegar a esse nível não é pra qualquer um.

Através de Allen, parte do público terá o primeiro contato com Ernest Hemingway, T.S. Elliott, Man Ray, Scott Fitzgerald, Gertrude Stein, Luis Buñuel e Cole Porter. São eles a quem o roteirista e aspirante a escritor (Wilson) encontra na madrugada, na informalidade de festas e mesas de bar. A visão idealizada do passado não é fantasia escapista, mas uma “terapia” que leva a Gil perceber o fracasso de seu noivado. Que ele não nasceu na época errada. Talvez, no país errado (os EUA). O passado como divã para o presente.

Desprezado pela noiva (McAdams) e ofuscado pelo pedantismo de seu rival (Michael Sheen), Gil encontra na turma dos anos 1920 a oportunidade de se reencontrar. O filme (e nós) estamos do seu lado. Uma bela defesa da necessidade do sonho, de se encantar pelo mundo e da arte como (re)invenção.

(Diario de Pernambuco, 21/06/2011)

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