quinta-feira, 23 de junho de 2011

Qual o futuro das salas de cinema?



Nos últimos meses, os cinemas tem oferecido um cardápio bem mais diverso do que os tradicionais filmes de ficção e documentários. Entre as opções estão óperas, balé, teatro, shows e eventos esportivos. Neste fim de semana, por exemplo, o público de 35 cidades brasileiras poderá assistir a uma apresentação em 3D do grupo Foo Fighters. Antecede o documentário Back and forth, de James Moll, que perpassa a história da banda desde sua fundação em 1995 (após o fim do Nirvana) à gravação do novo álbum, Wasting light. O “combo” doc/show será exibido em 75 salas - UCI Kinoplex Recife no circuito.

A ascensão dos novos conteúdos nas salas de cinema tem se tornado possível com a digitalização gradual do parque exibidor, aliado ao poder de mobilização das redes sociais. Ao perceber o potencial desse mercado, os empresários Fábio Lima e Marco Aurélio Marcondes criaram a MovieMobz, a primeira distribuidora a oferecer filmes sob demanda. “Já estávamos trabalhando com cinema independente e começamos a diversificar com óperas e musicais”, conta Fábio, que trabalha com cinema digital desde 2003, quando fundou a Rain Networks.

O primeiro grande projeto foi a exibição de Iron Maiden - Flight 666 em 103 salas de dez países, com ocupação média de 98%. O recorde foi batido ano passado, com a volta do doc-show U23D, que já havia sido exibido em 2007. “Naquela época o Brasil só tinha 20 salas em 3D, hoje são mais de 300”, diz Lima. A diversificação do conteúdo levou a distribuidora a retirar o “movie” do nome. Hoje, antes de ser empresa, a Mobz se apresenta como conceito. “Há uma audiência específica para cada produto e cabe a nós adequar os lançamentos ao tamanho do público. Isso é mais inteligente do que não lançar só porque não se trata de um blockbuster”.

Na prática, o sistema é simples. Através do site Mobz.com.br, o público escolhe o que quer assistir - as opções atuais vão da temporada do Metropolitan Opera (ao vivo, via satélite) a filmes do catálogo Hollywood Classics. Quando uma cota mínima é atingida, os ingressos são vendidos, on-line ou na bilheteria dos cinemas parceiros, que adequam as sessões em horários periféricos. “Pelo menos por enquanto, os cinemas dão prioridade ao blockbuster. Esperamos que isso se equilibre no futuro”, diz Lima.

No Recife, a Mobz faz parceria com grupo UCI / Ribeiro. Entre os eventos ao vivo, o Ballet Bolshoi tem rendido o melhor público: 61% para O quebra nozes e 68% para o Don Quixote. Com 30 anos de experiência no mercado, o programador Pedro Pinheiro acredita que a tendência é o crescimento do público e opções de conteúdo alternativo. “É uma programação importante para formar novas plateias”.

A nova arena virtual - O cinema, que nasceu como atração de circo, aos poucos volta às origens. As sessões eram abrigadas sob tendas, onde se projetavam teatro, dança e outras maravilhas da natureza e do progresso. A entrada custava um níquel - daí os primeiros cinemas serem chamados Nickelodeons. Hoje, o preço subiu (no Recife, óperas chegam a R$ 50) e a tecnologia permite transmissões ao vivo em alta resolução.

Mas, com os conteúdos via internet e equipamentos cada vez maiores, melhores e mais baratos, por que as pessoas ainda vão ao cinema? “Há no ser humano o hábito de se encontrar”, acredita Fábio Lima, da Mobz. “O filme pode ser assistido a qualquer momento, mas nos conteúdos especiais, principalmente ao vivo, a sala replica uma experiência de arena que dificilmente seria possível em casa”.

Lima vê uma nova dinâmica para os cinemas do futuro, que oferecerão uma combinação de conteúdos massivos (blockbuster) e segmentados (produtos independentes ou regionais). “Como os filmes rapidamente estão disponíveis para download, talvez eles fiquem menos tempo em cartaz, ou seja, cada vez mais, megaestreias terão períodos curtos de exibição”.

O parque exibidor já se adequa à demanda. De acordo com Lima, de 2.700 salas brasileiras, 300 são digitais e 50 estão equipadas para eventos ao vivo. Nos próximos meses, ele planeja investir na ópera e, em setembro, na reestreia de clássicos. Teatro ao vivo, a Copa 2014 e jogos em rede estão entre ambições futuras. Com data marcada estão exibições comemorativas dos 50 anos de Bonequinha de luxo e os 40 anos de O poderoso chefão.

Faça a programação

Eventos
Foo Fighters - Wasting light 3D (hoje e amanhã)
MET Opera - Lucia di Lammermoor (02/07)
MET Opera - Chance: o Conde Ory (09/07)
MET Opera - Ifigênia em Tauris (16/07)
MET Opera - Don Carlo
U2 3D
Orquestra Filarmônica de Berlim 3D
ESPN 3D - Final UEFA Champions League

Filmes
Bonequinha de luxo, de Blake Edwards (16/09)
De volta para o futuro, de Robert Zemeckis (21/10)
O poderoso chefão, de Francis Ford Coppola (23/03/2012)
Os pássaros, de Alfred Hitchcock
Tragam-me a cabeça de Alfredo Garcia, de Sam Peckimpah
Edward Mãos de Tesoura, de Tim Burton
Três homens em conflito, de Sergio Leone

(Diario de Pernambuco, 24/06/2011)

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