quinta-feira, 23 de junho de 2011
"Carros 2" dá volta ao mundo e traz espionagem para as pistas
Foi dada a largada para mais uma produção Disney / Pixar. De olho no feriadão, Carros 2 entra hoje em cartaz em 655 salas no Brasil - 14 delas no Recife. A antecipação do calendário de férias, onde o desenho estaria mais à vontade, se mostra prudente. A nova produção de John Lasseter não teria fôlego para competir com Transformers (estreia dia 1º), Harry Potter (15) e Capitão América (29). O primeiro Carros estreou em 1º de julho de 2006 e, nos Estados Unidos (onde venceu o Globo de Ouro), foi a segunda maior bilheterias do ano. No Brasil, foi a quinta.
Se comparado ao primeiro, Carros 2 é sem dúvida um produto tecnicamente superior. Cinco anos se passaram entre os dois longas e, no mundo da computação gráfica da Disney/Pixar, isso significa estar em outro planeta. Em 3D, os cenários estão mais realistas, principalmente nas sequências de corrida e perseguição. Um mundo mais-que-perfeito, habitado por carros vivos, que agem como humanos.
O roteiro da continuação, escrito por John Lesseter (diretor) e Brad Lewis (co-diretor), se mostra mais elaborado. Fere, no entanto, o espírito da história anterior, um elogio à amizade e valores tradicionais. Com muita ação, o desenho agora aposta em fórmulas dos filmes de espionagem internacional. O foco continua na amizade entre Relâmpago McQueen e o carro-guincho Mate. Ela é abalada durante campeonato mundial em prol de uma nova fórmula de biocombustível, capaz de abolir a necessidade de petróleo. Mas a caipirice de Mate atrapalha McQueen. Nos bastidores, uma trama maior mobiliza agentes secretos contra organização a favor do petróleo.
O problema é que, se Carros 1 investe na importância de desacelerar e prestar atenção nos habitantes da cidadezinha de Radiator Springs, tudo está mais rápido e frenético em sua continuação. A história se desenvolve entre pistas de corrida no Japão, Itália e Inglaterra, onde o McQueen se esforça para vencer um exibido modelo de F-1.
Sem querer, Mate se torna protagonista de uma trama maior, que envolve uma máfia internacional de combustíveis. Tudo ocorre tão rapidamente que a pertinência do debate sobre o biocombustível como alternativa para o petróleo termina sendo apenas uma boa desculpa para os maiores de 18 anos assistirem a um desenho animado sem culpa. O tema “adulto” tampouco complica a vida das crianças, que devem se divertir com o sobe-e-desce das pistas.
O som original é sempre uma boa opção, e duas salas do Recife (Kinoplex Casa Forte e Recife) oferecem cópias legendadas com vozes de Owen Wilson, Michael Caine (como Finn, o carro-espião), John Turturro (Francesco) e pontas de Franco Nero, Sophia Loren e Vanessa Redgrave. Já a versão nacional traz como destaque as vozes de Emerson Fittipaldi, Luciano do Valle e Claudia Leitte, como carro-mulher brasileiro, Carla Veloso. O curta Férias no Havaí, que antecede o longa, mostra personagens de Toy Story ajudando o casal de bonecos Barbie e Ken. Poderia ser uma atração a mais, mas não chega a tanto.
Uma brasileira na Pixar - Carlos Saldanha é celebrado como o brasileiro mais famoso do mundo dos desenhos animados. Mas o criador de Rio e diretor de Era do gelo partes 2 e 3 não está só. São vários brasileiros contratados por estúdios norte-americanos. Uma das mais experientes é a paulistana Nancy Kato. Há mais de uma década ela se juntou à equipe da Pixar Animation Studios, na Califórnia.
Um dos efeitos básicos de um desenho animado é também um dos mais difíceis de ser criado: o movimento, que provoca a ilusão de que os personagens estão vivos. O talento de Nancy está a serviço do departamento de animação, onde ela participou de desenhos famosos como Toy story 2, Monstros S.A., Os Incríveis, Ratatouille, WALL-E e Up - Altas aventuras. Pelo trabalho em Carros, foi premiada em 2007 pela Visual Effects Society. Ela também participa de Brave, novo projeto do estúdio, com estreia prevista para julho de 2012.
O projeto mais recente a ganhar sua dedicação é Carros 2. Com exclusividade para o Diario, Nancy revela detalhes de seu ofício na Pixar e particularidades de seu mentor, John Lasseter.
Entrevista // Nancy Kato: “John Lasseter é maravilhoso, um rei da animação”
Como começou sua carreira de animadora?
Me formei em arquitetura e fui para Nova York fazer mestrado em computação gráfica. Estudei dois anos e de lá arrumei emprego em Los Angeles. Quando mandei meu portfólio para Pixar, trabalhava na Rhythm’n’Hues Studios, de Los Angeles, onde fazia efeitos para filmes como Expresso polar e comerciais como o urso polar da Coca-cola. Em 1999 fui chamada como freelancer para trabalhar em Toy Story 2. Em Monstros S.A. já estava contratada.
Com quais personagens você trabalhou em Carros 2?
Trabalhei mais com McQueen e Mate, mas também com outros personagens. O departamento de animação é bem grande, são mais de cem animadores responsáveis por toda a parte de movimentar os desenhos.
E quantos animadores foram mobilizados?
À medida que foi chegando o deadline, mais pessoas foram incorporadas. Como o John Lasseter assumiu a direção durante esse processo, o projeto passou por mudanças. No total, foram 70 animadores.
E como é trabalhar com John Lasseter?
Ele é maravilhoso, um rei da animação e por isso mesmo todo mundo tem um pouco de medo. Todos os dias revisamos o material numa pequena sala de cinema, com ele no meio e os animadores em volta. De forma tranquila e confiante, ele faz comentários sobre cada cena. Ele é muito claro com as ideias, sabe exatamente o que quer, mas também aceita boas ideias.
Carros 2 trouxe novos desafios?
É uma animação mais simples de fazer porque os personagens não tem braços ou pernas. Isso, em termos de controle, é mais simplificado. E ao mesmo tempo desafiador, porque é difícil fazer personagens atuar com poucos parâmetros. A limitação faz você procurar soluções simples e que transmitam a ideia. É mais rápido de animar, mas precisa trazer personalidade para personagens mais duros, sem tanta flexibilidade.
No desenho, os automóveis têm vida, falam e agem como seres humanos. Como eles ganham personalidade?
Assistimos vídeos dos atores enquanto gravam as vozes dos personagens. No caso de Owen Wilson, que faz a voz de McQueen, assistimos seus filmes e levamos sua expressão facial para os persoangens.
Então quando a cena é desenhada o diálogo já está gravado?
Sim. Começamos a partir do som. Antes disso, o departamento de layout, faz a coreografia, pensa os movimentos de câmera, a duração das cenas e os diálogos. A partir daí desenhamos os personagens. Claro que se algum movmento de câmera não interagir com o desenho, dá para adequar de acordo com a dinâmica do personagem.
O primeiro Carros foi lançado em 2006. O que pode ser antecipado sobre a continuação?
O primeiro é mais norte-americano, voltado para o interior do país, é mais familiar. Os personagens principais continuam, agora com alguns novos. E a história tem mais ação, espionagem, aventura, é uma viagem pelo mundo. Mas os principais pontos continuam, como a amizade entre McQueen e Mate.
Você passou pelas duas fases da Pixar, antes e depois de ter sido comprada pela Disney. O que mudou?
Não mudou muita coisa, a não ser que agora temos o Silver Pass, um passe livre para visitar o parque. Eles respeitam muito a Pixar, nos deixam à vontade, sem impor um jeito Disney às produções. Pelo contrário, eles querem levar a cultura da Pixar para a Disney.
Há muitas mulheres trabalhando com animação na Pixar?
As mulheres correspondem a 10% do departamento. Na parte de desenvolvimento de roteiros, a parcela é menor ainda. Acho que é cultural, desde crianças, os meninos são muito ligados às histórias em quadrinhos. Aqui, as mulheres atuam mais como produtoras.
O que você achou do Rio de Carlos Saldanha?
Conheço ele, é um bom amigo. Adorei o filme, achei um bom retrato do Rio. A animação dos pássaros é o mais difícil e ficou bem bacana.
(Diario de Pernambuco, 23/06/2011)
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