sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A dura vida de Serge Gainsbourg



Estreia hoje, no Cinema da Fundação, Gainsbourg - O homem que amava as mulheres (França, 2010). O longa dramatiza a vida de um dos maiores ícones dos anos 1960-70, Serge Gainsbourg (1928-1991), cujas criações artísticas foram indissociáveis das conquistas amorosas. Nesse sentido, suas parcerias com Brigitte Bardot e Jane Birkin foram das mais produtivas. O filme de Joann Sfar explora essa mitologia de forma cronológica, da infância assombrada pelo nazismo à decadência, após o abandono de Birkin, com quem teve a filha, Charlotte Gainsbourg (uma das protagonistas do ótimo Melancolia de Lars Von Trier, em cartaz na mesma sala)

Apesar do pouco criativo subtítulo nacional, que se apoia no famoso filme de Truffaut (o original, Vie héroïque, é bem mais ilustrativo), a produção acerta ao trazer a subjetividade do personagem para a estrutura, o que resultou em obra pouco comum às cinebiografias. Conta a favor a incrível semelhança dos atores com os personagens, principalmente de Eric Elmosnino com Gainsbourg. E o fato de Gainsbourg ser um filme essencialmente musical, que conta a gênese de clássicos da chanson francesa, como Je t'aime moi non plus.

De forma orgânica, recursos do cinema de fantasia (algumas, de animação) colocam Gainsbourg em diálogo com um alterego caricato, que exagera em sua incongruência nasal, orelhas de abano e dedos pontiagudos, remetendo ao Nosferatu do expressionismo alemão. É o contraponto ao artista sedutor, que desperta atração incontrolável nas mulheres.

Ponto alto é a sequência em que o artista é carregado de um conflito conjugal para fora de casa, céu estrelado de Méliès sob Paris, até um clube onde toca piano jazz até o último gole. A música é de arrepiar. E a despeito de seu potencial destrutivo, a vida heroica de Gainsbourg tem elementos de sobra para inspirar qualquer mortal.

(Diario de Pernambuco, 26/08/2011)

Um comentário:

Eva Duarte disse...

Assisti muito bem acompanhada.
; )
Lindo texto, André!
Beijo,
eva