Germano Rabello, 31 anos, já está preparando o gorro, a luva e a blusa de lã. Ele é o leitor selecionado para fazer parte do júri popular do 39º Festival de Gramado, que este ano se realiza entre 5 e 13 de agosto. Promovido anualmente, o concurso é uma parceria do Diario de Pernambuco com o evento de cinema sediado na Serra Gaúcha, um dos mais antigos e tradicionais do país. De acordo com as regras do concurso cultural, Rabello é o autor da melhor resenha crítica sobre qualquer filme em cartaz no Recife. Por isso, viajará para Gramado com todas as despesas pagas.
Como parte do júri, formado por leitores de jornais parceiros de todo o país, ele deverá assistir a todos os filmes da mostra competitiva, participar das discussões, até chegar ao veredito de qual será o melhor filme nas categorias curta, longas nacional e estrangeiro. “É a primeira vez que vou participar de um júri. Ainda não olhei com calma a programação, mas sei que tem nomes daqui, como Paulo Caldas e Leonardo Sette”.
Formado em jornalismo, Rabello desdobrou sua carreira em várias direções. Além de escrever, ele é desenhista, dirige videos e cria as músicas para a sua banda, Sabiá Sensível. Quando soube do concurso, foi ao cinema assistir Corumbiara, tendo em mente em escrever sobre o título. “Já queria assistir porque é um filme sobre a questão indígena, mas o concurso me motivou a não perder essa sessão”, conta.
O interesse por música e cinema o levou, ainda estudante, a dirigir o curta documentário Vamo fazer um clipe?, defendido como trabalho de conclusão de curso ao lado de Aroldo Araújo e Joly Campello. “Marcelo Pedroso, da Símio Filmes, fez a fotografia e montou Vamo fazer um clipe?”. Desde então fez outros curtas, como Rock’n’roll na veia (2006) e Ano passado em Itamaracá (2010).
Rabello escreveu sobre Corumbiara, documentário de Vincent Carelli, que foi o grande vencedor do Festival de Gramado em 2009, onde conquistou cinco prêmios. Leia o texto a seguir.
Espelho de mistérios - Germano Rabello
Corumbiara é um filme que quase não existiu. O assunto central é o massacre de uma população indígena, a busca por alguns de seus poucos sobreviventes, e a vontade de botar a limpo essa história. A negação da existência desse massacre e dessa população levou muitas vezes o cineasta Vincent Carelli a deixar de lado o projeto. Com mais de vinte anos de espaçamento entre a primeira filmagem e o lançamento do filme, a ideia de contar o que aconteceu foi abandonada e retomada. Para a nossa sorte, ela foi contada.
Em 1985, foram encontradas evidências de que uma aldeia de índios havia sido atacada em Rondônia. Foram encontrados objetos tipicamente indígenas em meio ao terreno desmatado, terraplanado. Os índios não estavam mais lá: ou tinham fugido ou estavam mortos. Mas essas evidências foram menosprezadas pela Justiça, Funai e outros órgãos federais, já que havia interesse de latifundiários naquela área.
O filme espelha os acontecimentos da vida real, como a tentativa de conhecer um mistério. O universo dos índios isolados, das etnias Canoê e Akunsu e de como foi o massacre, se haveria como culpar os mandantes e executores. Quanto à justiça, o realizador já parece descrente. A história segue na tela.
A beleza das imagens feitas de improviso, rolando soltas em longos planos, os ruídos de folhas secas sendo pisadas enquanto o câmera anda, tudo isso contribui para dar ao espectador a estranheza, o ineditismo do contato com essa realidade. O que os índios falam é parcialmente decifrado. Este é um filme de mistérios e mostra de maneira brilhante que ainda há lugar no mundo para eles.
(Diario de Pernambuco, 02/08/2011)
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