sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Uma pernambucana no Oscar



Não é megalomania: Karen Harley é a primeira diretora pernambucana a ter um filme indicado ao Oscar. Ao lado da inglesa Lucy Walker e do carioca João Jardim (Pro dia nascer feliz), ela assina Lixo extraordinário, documentário sobre as intervenções do artista plástico Vik Muniz no aterro sanitário de Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro. Para quem não assistiu ao filme, ele fez um trabalho parecido na abertura da novela Passione. A direção compartilhada não diminui a importância da Karen no processo de criação do longa. Lucy deixou o projeto após dez dias de filmagem para se dedicar a Countdown, seu projeto pessoal. Após certo ponto, João também teve que sair, o que levou Karen a assumir o leme da produção.

"Isso gerou muitos caminhos e muito material", diz Karen, por telefone, do Rio de Janeiro. "Lucy esteve bem no começo das filmagens, depois mandamos o corte final para a Inglaterra, onde ela retrabalhou os primeiros 30 minutos".

Lixo extraordinário é uma co-produção entre a O2 Filmes (de Fernando Meirelles) e Almega Projects, do inglês Miel de Botton Aynsley, de quem partiu a ideia do filme. Por questões contratuais, Lucy assina a direção e Karen e Jardim a codireção. "Mas o filme é dos três. Na verdade, Lucy foi quem menos trabalhou no projeto", revela a diretora.

Mais conhecida como montadora para cinema e TV, este é o primeiro longa dirigido por Karen. Filha de estrangeiros (pai norte-americano e mãe alemã), ela nasceu no Recife, terra pela qual o pai se apaixonou, mas vive no Sudeste desde 1985. "Saí pra ver o Rock in Rio e nunca mais voltei", conta.

Quando começou a trabalhar com edição não havia o método não-linear, apenas o método do corte seco. "Fui aprendendo na prática, com grandes montadores, como João Paulo de Carvalho e Mair Tavares, que foram meus mestres". Com Mair, Karen montou seu primeiro filme em película, Veja essa canção, do Cacá Diegues. Depois vieram O quatrilho, de Fábio Barreto (derrotado no Oscar para A excêntrica família de Antonia).

A relação com a terra natal foi retomada profissionalmente quando Karen assumiu a montagem dos longas de Claudio Assis e Marcelo Gomes. Seu último trabalho foi em A febre do rato, de Assis, e semana passada ela começou novo processo em Era uma vez Verônica, de Gomes. Outro trabalho recente foi com o finlandês Mika Kaurismäki, o documentário para a TV Mama Africa, sobre a cantora Miriam Makeba.

Expectativa - Lixo extraordinário foi indicado ao Oscar após vencer o prêmio do público em Sundance, Berlim e Paulínia (SP). Karen acredita que isto, somado à importância artística e social do filme, convenceram aos membros da Academia a incluir Waste Land (nome internacional do filme, em referência a poema de T.S. Eliot) entre os favoritos. Falado em inglês e português, com trilha sonora de Moby, o filme centra na interação de Vik Muniz, que vive nos Estados Unidos, com os catadores de lixo de Jardim Gramacho.

"A gente quer muito que Tião (Santos), o presidente da associação dos catadores, esteja na cerimônia do dia 27. Caso o filme vença, é ele quem merece receber a estatueta. Mais ainda porque o Jardim Gramacho vai fechar em 2012 e tem uma questão social pra ser resolvida aí", diz Karen. Com admiração, ela diz que Tião cita Nietschze e também O príncipe, de Maquiavel, no filme, comparando os textos à situação do Rio de Janeiro. "A alma do filme está nos catadores, que são pessoas bonitas, dignas, carismáticas, inteligentes e bem humoradas".

Karen não assistiu aos filmes que concorrem com Lixo extraordinário, mas ouviu falar bem de Exit trough a gift shop, do grafiteiro britânico Banksy. Com uma abordagem bem diferente, ele questiona os mecanismos que regem a arte contemporânea. Não deixa de ser a lógica pela qual Hollywood tem se reinventado ao longo dos anos.

(Diario de Pernambuco, 28/01/2011)

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Coluna de lançamentos da semana + notas de bastidores

Lançamentos em DVD



Libertário- Quase um manual de rebeldia operária, o filme retrata a opressão com que trabalhadores de uma fábrica de roupas eram tratados pelos patrões. A chegada de um subversivo professor (Marcello Mastroiani) dá estofo intelectual à greve para diminuir a jornada de 14 para 13 horas diárias e assistência médica. O olhar humanista e libertário de Monicelli, que ressurge de forma plena em O exército de Brancaleone, é o grande condutor deste exemplar tardio do neorealismo italiano.
Os companheiros (I Compagni, Italia, 1963). De Mario Monicelli. 126 minutos. Lume Filmes.



Pesadelo - Com a indicação ao Oscar, a produção que trouxe a estética blockbuster para o mundo dos sonhos ganha novo fôlego. Após bons filmes como Amnésia e a nova franquia Batman, Nolan escorrega ao investir mais em efeitos e redundâncias do que em tutano para contar os apuros de uma equipe de mercenários liderada por Dom Cobb (Leonardo DiCaprio), especialista em entrar na mente das pessoas para implantar e retirar informações. Assombrado pela ex-mulher, Cobb se vê preso num mundo pretensamente onírico. E que não tem nada de surreal.
A origem (The inception, EUA, 2010). De Christopher Nolan. 148 minutos.Universal.




Musical
- De volta em DVD duplo, este musical de grande sucesso marca o primeiro reinado de John Travolta, lançado ao estrelato pouco antes em Os embalos de sábado à noite. Se este foi um retrato da geração das pistas de dança, Grease é uma paródia dos filmes juvenis dos anos 1950. A trama mostra o romance entre Sandy (Olivia Newton-John) e Danny (Travolta), que se apaixonam nas férias sem saber que passariam a estudar no mesmo colégio. A trilha entrou para a lista das melhores já feitas para o cinema.
Grease - nos tempos da brilhantina (EUA, 1978). De Randal Kleiser. 110 minutos. Paramount.

Bastidores

Tiradentes - Pernambuco reina na Mostra de Tiradentes. Além da homenagem a Irandhir Santos, em mesa com diretores com quem o ator de Tropa de Elite 2 já trabalhou, os curtas de programação, como o inédito Mens sana in corpore sano (de Juliano Dornelles) tem empolgado público e crítica.

Nelson - O Cineclube Doze e Meia prossegue com homenagem ao mestre Nelson Pereira dos Santos. O filme de hoje é Como era gostoso o meu Francês (1970). No Centro Cultural Correios (Recife Antigo), 12h30.

Festival I - Não bastasse o excelente trabalho de relançar filmes autorais clássicos e contemporâneos no mercado de DVD, a produtora e distribuidora Lume Filmes, do Maranhão, agora prepara seu próprio festival de cinema. O 1º Festival Lume de Cinema será entre 14 e 23 de julho em São Luiz. Inscrições abertas para filmes nacionais e estrangeiros até 15 de maio pelo www.lumefilmes.com.br/festival2011.

Festival II - O Fluxus 2011 recebe inscrição para duas modalidades de trabalhos: filmes que serão exibidos na internet e projetos de filme-instalação. Inscrições gratuitas e poderão ser feitas inscrições até 28 de fevereiro no site do festival - www.fluxusfestival.com.

Luto - Morreu na última segunda, aos 61 anos, o produtor de cinema Bernd Eichinger. Nascido na Alemanha, ele é responsável por filmes díspares como A Queda! - As últimas horas de Hitler, Quarteto fantástico, O perfume, O nome da rosa, Eu, Christiane F., História sem fim, Resident evil e O grupo Baader Meinhof.

(Diario de Pernambuco, 27/01/2011)

Estreia // O TE(a)TRO de Francis Ford Coppola



Se em certo filme David Lynch declara que no cinema "no hay banda", podemos garantir atualmente que há ao menos um maestro em atividade: Francis Ford Coppola. Em seu novo filme, Tetro (estreia amanhã no Cinema da Fundação), ele assume a regência de uma obra pessoal e instigante, uma tragédia familiar movida a jogos de espelhos que reprocessam, em termos de luz e sombra, a própria biografia do diretor de O poderoso chefão e Apocalipse now.

A imagem é marcada pelo preto e branco cristalino, pontuado sequencias com cores saturadas, parecido com o de gravações caseiras dos anos 1970. Já havia um preto e branco assim em O selvagem da motocicleta (Rumble fish, 1983), inclusive no elogio à índole outsider do personagem principal.

Longe da sofisticação dos grandes estúdios, Coppola seguiu pelos anos 1980 e 1990, com pequenos filmes, nem sempre dignos de apreciação. Tetro faz parte de uma nova fase, marcada pela independência. Aos 70 anos e com a sobrevivência garantida pelos negócios gastronômicos e hoteleiros, Copolla pode filmar com total liberdade, desde que no limite permitido para pequenos orçamentos.


Uma pequena Itália em Buenos Aires

A escolha da Argentina como palco para a família Tetrocini lavar a roupa suja convém por mais de um motivo. Nos últimos anos, é lá que Copolla tem passado parte de seu tempo - ele já declarou que Buenos Aires é tão interessante quanto Nova York, cidade onde cresceu. A capital portenha tem cenários cinematográficos, facilidades e a oportunidade de filmar a baixo custo.

No roteiro de Tetro, o primeiro escrito por Coppola desde A conversação (1974), isso se resolve de forma simples. Imigrante italiano em Buenos Aires, o patriarca Carlo Tetrocini (Klaus Maria Brandauer) fixa residência em Nova York, após sucesso como compositor. Seu filho Angelo (Vincent Gallo), sufocado pela personalidade espaçosa do pai, some do mapa. Anos depois, seu irmão mais novo, Benny (Alden Ehrenreich), o encontra em Buenos Aires como um escritor visceral, conhecido pelo codinome Tetro.

O filme começa nesse ponto e dali se desdobra pelo bairro de La Boca, que recebeu imigrantes italianos fugidos da pobreza no começo do século 20. Há forte presença do teatro, música e dança. Na Patagônia, onde a trama tem seu desfecho, temos duas das cenas mais interessantes, que podem ser chaves de compreensão para o filme.

Numa delas, Tetro ronda um teatro (será daí a origem do nome Te-a-tro?) com um machado na mão enquanto a peça escrita por ele é encenada em festival. A outra, logo depois, é seu encontro com Alone (Carmem Maura), considerada a maior crítica da América do Sul. Ela pretende premiar sua peça como a melhor do festival. A rejeição - ele não admite fazer de sua dor um espetáculo - aponta para a postura do próprio diretor com relação ao sucesso comercial versus realização artística e pessoal. Na flor dos 70 anos, um belo manifesto de rebeldia e amor ao cinema.

(Diario de Pernambuco, 27/01/2011)

Sai lista dos indicados ao Oscar



A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas anunciou ontem a lista dos indicados à 83ª edição do Oscar, principal prêmio do cinema mundial. O discurso do rei concorre em doze categorias, mas nem por isso pode ser considerado o favorito. Basta lembrar que na cerimônia do ano passado Avatar ficou de fora das principais categorias e que este ano a disputa está pesada, com novos filmes dos irmãos Coen (Bravura indômita, dez indicações) e Danny Boyle (127 horas, seis indicações), oscarizados por Onde os fracos não têm vez e Quem quer ser um milinário?.

Há o fator A rede social (oito indicações), forte concorrente que tem o tempo a seu favor (mais contemporâneo impossível). Bem que merecem a estatueta a direção segura de David Fincher, a montagem que traduz o estado de espírito da geração 2.0 e a trilha de Trent Reznor (Nine Inch Nails).

Quem será o melhor ator? Eisenberg, que traduz o poderoso dono do Facebook em um pós-adolescente inseguro e vingativo? Ou Colin Firth, na pele do mitológico Rei George? James Franco, que amarga o drama real de Aron Ralston, montanhista que sobrevive em local inóspito? Ou Jeff Bridges, que refaz papel reservado a John Wayne em Bravura indômita? Se Bridges acaba de ser agraciado por Coração louco (2009), basta considerar que Biutiful, de Alejandro Iñárritu, que concorre entre os filmes em língua estrangeira, traz o astro espanhol Javier Bardem, melhor coadjuvante em 2008 por Onde os fracos não têm vez.

Assim como foi com Up - altas aventuras ano passado, Toy Story 3 concorre como melhor filme e melhor animação. Na mesma categoria, O mágico, de Sylvain Chomet, sob roteiro de Jacques Tati, trata do mesmo tema, a dificuldade de envelhecer com dignidade em tempos de ditadura do novo. Mas O mágico é 100% analógico/artesanal, enquanto Toy Story é 100% digital/industrial. Fácil crer na vitória deste último, mas importante ver a outra pequena e melancólica obra de arte reconhecida por Hollywood.

Boa surpresa para os brasileiros, que se achavam fora do páreo após Lula - o filho do Brasil ter sido recusado pela academia, será representado por Lixo extraordinário. Notícia especial para os pernambucanos, pois uma das diretoras (Karen Harley), nasceu e cresceu no Recife antes de mudar para o Rio, em 1990, onde fez carreira como montadora.

Lixo extraordinário, ou melhor, Waste land, trata das intervenções do artista plástico Vik Muniz em aterro sanitário carioca e disputa o Oscar com dois fortes candidatos: Inside job, onde Matt Damon narra o que há por trás da crise mundial de 2008, e Exit trough the gift shop, subversiva visão do britânico Banksy sobre o mercado da arte contemporânea. Com apresentação dos atores James Franco e Anne Hathaway, a entrega do Oscar será no dia 27 de fevereiro no Teatro Kodak, em Los Angeles.

Veja lista aqui a completa dos indicados.

(Diario de Pernambuco, 26/01/2011)

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Curtas pernambucanos estreiam em Tiradentes


Mens sana in corpore sano, de Dornelles, estreia hoje em Tiradentes
Foto: Chico Lacerda

Dois curtas pernambucanos estreiam nesta semana: Praça Walt Disney, de Renata Pinheiro e Sérgio Oliveira, e Mens sana in corpore sano, de Juliano Dornelles. Os dois serão lançados na 14ª Mostra de Tiradentes (MG), que abre o calendário nacional de eventos cinematográficos e que, sob a curadoria do crítico Cléber Eduardo, vem se tornando conhecido como um festival que privilegia a reflexão e o risco necessário para abrir novos caminhos.

Nada mais justo o festival ter iniciado na última sexta com o novo filme do mítico diretor do cinema novo Paulo César Saraceni. E nada mais justo também que se encerre no dia 29, com Ex-Isto, releitura de Catatau, de Paulo Leminski, dirigida por Cao Guimarães e estrelada por um João Miguel bêbado e perdido no Centro do Recife. Chama a atenção a homenagem ao ator Irandhir Santos, cuja carreira, coroada com a participação em Tropa de Elite 2, vem sendo cada vez mais reconhecida.

"É muito difícil não sentir ansiedade com a primeira exibição de um filme", diz Dornelles,sobre a ficção Mens sana in corpore sano. "Essa sensação aumenta quando se trata de um projeto que promete uma interação forte com a plateia", arremata o diretor, que não adianta mais informações para não estragar a surpresa final.

A ser exibido hoje em mostra não-competitiva, mas sujeita a voto popular, o curta-metragem realizado com recursos do concurso de roteiros Ary Severo/Firmo Neto é o mais recente fruto da parceria entre a Símio Filmes e a Cinemascópio Produções de Kleber Mendonça Filho. O filme mostra as desventuras de um cidadão que leva o fisiculturismo às últimas consequências. Uma das locações é a academia de Carmelo de Castro, na Boa Vista, que faz uma participação como ator.

"Tiradentes é um festival enorme, tem uma curadoria bem interessante, que já se tornou referência para vários outros festivais e ainda consegue manter um clima de discussão e formação de público. É um privilégio estar lá", avalia Dornelles, que já esteve no festival como produtor de Amigos de risco e Recife frio.

"O festival consegue abraçar filmes que têm características menos convencionais e ainda assim ser um panorama bem completo do que se faz de relevante no cinema brasileiro".

Outros pernambucanos em Tiradentes são os curtas 1:21 (Adriana Câmara); Aeroporto (Marcelo Pedroso); As aventuras de Paulo Bruscky (Gabriel Mascaro); Azul (Eric Laurence); Décimo segundo (Leo Lacca); My way (Camilo Cavalcante); Peixe pequeno (Vincent Carelli e Altair Paixão); e os longas Vigias (Marcelo Lordello), Paranã puca - Onde o mar se arrebenta (Jura Capela) e Avenida Brasília Formosa (Gabriel Mascaro).

Praça Walt Disney

Na próxima quarta, o público de Tiradentes poderá conferir Praça Walt Disney, novo trabalho do casal Renata Pinheiro e Sérgio Oliveira. Renata já assinou direção de arte de filmes de Sérgio, que por sua vez produziu Superbarroco, de Renata. Ambos já estiveram em Tiradentes com outros filmes. Desta vez, concorrem com o primeiro em que dividem a direção.


Foto: Mannu Galindo

O curta reivindica o direito de, a partir do cinema, reorganizar os signos de Boa Viagem, bairro em que os diretores vivem. O recorte temporal é o de um dia na vida, do primeiro trabalhador à última dama da noite, com som e imagem sincronizados que remetem a O homem com uma câmera, de Dziga Vertov. A coreografia de carros que circulam em torno da praça que dá nome ao filme (visível da janela do prédio onde moram Sérgio e Renata) faz lembrar Playtime, de Jacques Tati.

Adotada pela construtora Moura Dubeaux, uma das mais famosas grifes imobiliárias da cidade, a Praça Walt Disney é um pequeno perímetro cercado de altos edifícios, próximos à beira-mar. "Geralmente éum espaço deserto", conta Oliveira, "ou usado para o passeio dos cachorros dos moradores". Por trás do tratamento afetivo, há o inevitável viés político de quem observa um bairro que se transforma rapidamente. Ou melhor, se devora. "Partimos de um regionalismo, não para harmonizar, mas para problematizar essa situação", diz Oliveira.

Em outro momento, fotos antigas do bairro são sobrepostas à imagem atual. Verticalizada por prédios, reeditam um antigo trabalho de Renata chamado Arqueologia da amnésia. Uma animação simula ondas do mar no asfalto, com direito a barbatanas de tubarão. Os tubarões, aliás, modificaram hábitos a ponto de piscinas de plástico se multiplicarem na paisagem da praia. Do vai e vem de baldes para enchê-las surge a música e a inevitável analogia com Aprendiz de feiticeiro, episódio do clássico Fantasia (1940).

A performance no calçadão da beira mar ao som de Stayn' Alive (Os embalos de sábado à noite) é trilha sonora conveniente de um bairro para ser desfrutado. John Travolta, Mickey Mouse, Tati, Vertov. Sonho, Cinema. Boa Viagem merece.

(Diario de Pernambuco, 24/01/2011)

sábado, 22 de janeiro de 2011

Zé Colmeia - o filme ou sobre a necessidade de defender a memória afetiva



Em mês de férias escolares, Zé Colmeia - o filme (Yogi Bear, EUA, 2010) funciona como uma boa peça de entretenimento. E, ponto a favor, não pretende ser mais do que isso. Até o tempo de duração, menos de 90 minutos, contribui para um espírito de leveza (para o espectador) e lucro (mais sessões por dia).

O filme de Eric Brevig (Viagem ao centro da Terra) se apropria com mérito da dinâmica do desenho animado criado em 1958. Sedentário, cuca fresca e guloso assumido, Zé Colmeia e seu escudeiro Catatau se tornaram um dos maiores sucessos da Hanna Barbera. Meio século depois, eles ganharam upgrade digital, com os mesmos vícios e virtudes, os principais: caçar cestas de piquenique para estocar na caverna e manter a amizade fiel que sentem um pelo outro.

Expert em efeitos visuais (trabalhou em Vingador do futuro, Homens de preto, O dia depois de amanhã e mais 25 filmes), Brevig coloca ursos animados no mundo real, interagindo com atores. Personagens caricatos e a estrutura cômica sãoos mesmos, contemporaneizados com a política que vincula ambições de poder com hipocrisia ecológica.

O vilão declarado é o prefeito da cidade (Andrew Daly), que pretende ganhar popularidade com o loteamento do Jellystone, que há dez anos não consegue pagar as contas. Com a venda, cada cidadão ganha mil dólares e o prefeito pode chegar a governador. A reação do guarda Smith (Tom Cavanagh) é promover uma festa e atrair os amigos do parque, que acaba de completar 100 anos. Mas o prefeito aproveita o comportamento desastrado de Zé Colmeia para sabotar o evento.

Em defesa de Jellystone surge uma nova personagem, a loira Rachel (Anna Faris), que chega ao local para fazer um documentário e logo se identifica com a causa e seus heróis.

Se por um lado o público brasileiro perde com a versão dublada (em que as vozes de Dan Aykroyd e Justin Timberlake são trocadas por um afetado carioquês), ao menos foi preservado o timbre do dublador original, Older Cazarré. Que seja registrado o vacilo na dublagem do Catatau, que não diz mais o característico ´Seu gualda`. Para a velha geração, faz falta.

Da mesma forma que a ideia de ter o Parque Jellystone fechado soa ameaçadora a todos os que ele um dia habitaram. É importante que ele continue a existir, mesmo que não se pense mais nisso.

(Diario de Pernambuco, 22/01/2011)

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Estreia // "O Turista": No piloto automático



O turista (The tourist, EUA 2010) surge da mesma matriz responsável pela safra de filmes que misturam romance e espionagem, que ano passado culminou em Salt e Encontro explosivo. Entre os dois, pende para o primeiro, não apenas por Angelina Jolie protagonizar papel parecido, mas pela seriedade com que a trama trata situações inverossímeis. Além disso, o filme do alemão Florian Henckel von Donnersmarck (A vida dos outros, 2006) se diferencia dos demais pela contenção. Com boas imagens de Veneza, direção de arte e figurinos bem cuidados, investe mais na psicologia que na ação vertiginiosa.

O problema é que o filme não convence enquanto obra, talvez pela confiança excessiva na equação Johnny Deep + Angelina Jolie + romance em Veneza = sucesso. Não é o caso, nem mesmo de bilheteria, essa poderosa balizadora que, assim como a justiça, tem olhos vendados. Nem a união de três roteiristas conseguiu evitar o piloto automático, a falta de talento para fugir de lugares comuns e o consequente naufrágio da trama.

A história começa com uma ação em curso, Elise (Jolie) é observada pela polícia. Em poucos minutos, sabe-se que um incógnito Alexander Pierce se apropriou da fortuna de um gângster (Steven Berkoff). Que Elise é sua esposa, orientada a escolher um homem com estatura parecida e assim despistar o inspetor Acheson (Paul Bettany), chefe da investigação.

Isso nos leva ao professor Frank Tupelo (Deep), o mané-pobre-coitado que entra na história aparentemente por acaso. Ponto a favor, Deep está frágil e reticente, longe dos papeis freak ou galanteadores que o tornaram famoso. . E Jolie faz o tipo doce e sedutora - uma sequência faz clara homenagem a Sophia Loren. Mas falta química ao casal, e o filme não decola.

(Diario de Pernambuco, 21/01/2011)

Estreia // "Zé Colmeia - o filme": De olho no piquenique



Astro de desenhos animados desde 1958, Zé Colmeia por muito tempo foi a menina dos olhos da produtora Hanna-Barbera, tendo seu próprio programa de TV e liderando uma versão sideral da Corrida maluca. Nada mais justo que, como outros personagens dos quadrinhos e cartoons, ele volte na era digital.

De olho no piquenique alheio, ele e Catatau precisam se preocupar pois o Parque Jellystone será colocado à venda. No Recife, Zé Colmeia - O filme entra com cópias dubladas, uma pena pois as vozes originais em inglês são de Dan Aykroyd e Justin Timberlake.

(Diario de Pernambuco, 21/01/2011)

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Coluna de lançamentos da semana



Erudito - Mais uma pérola de Bressane, esse filósofo das imagens. Com Selton Mello e Alessandra Negrinni, o filme adapta dois contos de Machado de Assis: A causa secreta e Um esqueleto. Casal se (re)conhece no cemitério e logo se une. A mulher está frágil pois acaba de sair da prisão e de se tornar órfã. Ele propõe casamento imediato, o que os leva à casa onde a ação se desenrola. Erudito (cada plano é uma obra em si), Bressane nos coloca dentro de pinturas de luz e forma barrocas.

A erva do rato (Brasil, 2008). De Julio Bressane. 80 minutos. TB Produções.



Ninfa - Neil Jordan, que se destacou no início dos anos 1990 com Traídos pelo desejo e Entrevista com o vampiro para logo se afastar do mainstream com Nó na garganta (Butcher boy), explora o cruzamento da mitologia irlandesa com a realidade sócio-afetiva de um melancólico pescador (Colin Farell) que se refugia no barco desde que foi deixou a bebida e o casamento. Certa manhã, ele joga rede ao mar e captura bela e misteriosa ninfa (Alicja Bachleda), por quem se apaixona e o faz se reaproximar da filha cadeirante.

Ondine (Irlanda/EUA). De Neil Jordan. 111 minutos. Swen Filmes.



Aventura - Desde O quinto elemento, Besson vem desenvolvendo um misto de escola europeia de ficção científica e a linguagem norte-americana dos cinema de aventura e ação. Seu novo filme é bastante fantasioso, com seus segredos antigos, múmias que voltam à vida e um bebê pterodáctilo que aterroriza a Paris de 1910. Conhecida personagem dos quadrinhos, a Indiana Jones de saias Adèle (Louise Bourgoin) continua independente, sensual e bem mais inteligente do que os espécimes masculinos que a ameaçam ou lisonjeiam.

As múmias do faraó (França, 2010). De Luc Besson. Imagem Filmes.

Bastidores

3D über alles - O cinema alemão entra com estilo na era do cinema 3D. A estreia mundial de Pina (Wim Wenders) e A caverna dos sonhos perdidos (Werner Herzog) será em fevereiro, no Festival de Berlim.

Verônica - Marcelo Gomes está no Rio de Janeiro, onde edita o longa Era uma vez Verônica, ao lado da montadora Karen Harley.

Seleção - Pedro Sotero e Daniel Bandeira, da Símio Filmes, abrem seleção de elenco para o curta-metragem Sob a pele. Para participar, não é preciso formação ou experiência: basta ter entre 25 e 35 anos e mandar um e-mail com portfólio, foto e contato para sobapelefilme@gmail.com.

Festival - As inscrições para o 15º Cine PE - Festival do Audiovisual vão até 31 de janeiro. Podem participar filmes finalizados a partir de maio do ano passado. O evento está marcado para os dias 2 a 8 de maio, no Centro de Convenções mas a data pode ser antecipada em dois ou três dias, para não disputar a atenção da mídia nacional com o Festival de Cannes, que começa dia 11.

Ariano para a TV - Ariano Suassuna é tema de um programa de TV produzido pelo Sesc, com direção de Walter Carvalho (de Budapeste). As gravações terminaram ontem, com locações como São José do Belmonte, Igarassu e Pau Amarelo (Paulista).

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A rede social vence Globo de Ouro



Com elogios a Mark Zuckerberg e perigosas piadas do apresentador Ricky Gervais, a 68ª edição do Globo de Ouro favoreceu o filme A rede social e o seriado de TV Glee. O prêmio da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (HFPA) foi entregue na noite do domingo, em cerimônia com quatro horas de duração, em Beverly Hills. Outras atrações da TV de grande repercussão, como Big Bang theory e Boardwalk empire, também foram premiados.

Se o Globo de Ouro for prenúncio do Oscar, marcado para o próximo 27 de fevereiro, A rede social de David Fincher é o favorito, com O discurso do Rei, O vencedor, Minhas mães e meu pai e Toy Story 3 na fila da repescagem. No páreo, há que considerar O besouro verde de Michel Gondry Bravura Indômita (True Grit), remake dos irmãos Coen sequer citado pelo Globe. O filme estreou em 14 de dezembro nos EUA e irá abrir o próximo festival de Berlim.

"Zuckerberg, a garota do começo do filme está errada. Você é um grande visionário, empreendedor e altruísta", disse Aaron Sorkin, vencedor do prêmio de melhor roteiro por A rede social. Jesse Eisenberg, que vive Zuckerberg no filme, com expressão parecida à usada no filme, assistiu a Colin Firth (de O discurso de rei) ser escolhido o melhor ator. Mark Whalberg (O vencedor) aplaudiu o colega.

Premiado pelo conjunto da obra, Robert de Niro enumerou filmes "menores" como Jacknife, Frankenstein e Brazil, que ficaram de fora do vídeo editado com os "hits" Taxi driver, Os bons companheiros e Touro indomável. Ironizou ao anunciar que gravou DVDs com todos eles para vender na saída do teatro e disse que Tempo de despertar é um de seus favoritos, com elogios a Robin Williams. De Niro, aliado à premiação de Al Pacino e Steve Buscemi (estes dois por trabalhos para a TV) e à participação de Scarlett Johanson e Jane Fonda, no anúncio dos troféus, evitaram que uma cerimônia demasiado longa se tornasse um sonífero completo.

Natalie Portman (Cisne negro), Colin Firth (O discurso do Rei) e Christian Bale (O vencedor) também devem estar na lista dos mais cotados para o Oscar, que, queira Oxalá, venha mais enxuto e menos óbvio que o irmão mais novo.

No Brasil, O turista estreia na próxima sexta; O vencedor e Cisne Negro estreiam dia 4/02; e O discurso do Rei e Bravura indômita, em 11/02.

(Diario de Pernambuco, 18/01/2011)

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Exposição marca mudança de Shiko para a Itália



De malas prontas para uma temporada de três anos na Europa, o artista paraibano Shiko reuniu trabalhos antigos e recentes para uma nova exposição. Dada a relação de parceria e admiração que mantém com a cena cultural do Recife, nada mais justo que o ´bota-fora` ser na cidade que já recebeu três individuais suas. A abertura será hoje, às 20h, no Bar Central (Boa Vista), suas obras permanecem à mostra até 20 de fevereiro.

Shiko e sua esposa vão morar na pequena cidade de Camerino, região central da Itália. A expectativa do artista em publicar seu trabalho na Europa é pertinente. ´Alguns colegas de lá dizem que o mercado editorial é bem mais amplo, não fica restrito a um só país`, diz. Fora isso, a ligação estética de seu trabalho com as artes gráficas do país de Milo Manara é mais do que evidente.

Antes mesmo de descobrir Manara, ele já admirava Tanino Liberatore e Andrea Pazienza, que foram publicados no Brasil dos anos 80 nas páginas da revista Animal. ´É também uma oportunidade de ficar isolado por um tempo para estudar e produzir. Fui autodidata a vida inteira`. Entre os trabalhos que vai terminar no Velho Continente está a adaptação gráfica do romance O quinze, de Rachel de Queiroz, para a editora Ática e a HQ autoral A boca quente. ´O trabalho que faço para o mercado nacional continua, já que a distância da Itália para o eixo Rio-São Paulo é a mesma que da Paraíba: uma conexão com a internet`.

Natural de Patos, Francisco José de Souto se estabeleceu em João Pessoa no fim dos anos 1990. Se tornou Shiko quando morou em Brasília. Lendo um mangá, ele aprendeu que a palavra define a área de alcance de uma espada samurai. Como já havia outro Chico no mercado de lá, adotou o codinome japonês.



Alguns trabalhos da exposição foram feitos sob encomenda, como as sete pin ups da cerveja Devassa. Algumas já foram utilizadas em campanhas, mas a maioria permanece inédita. Outra novidade é uma nova tela da série Olívia Palito, em versão femme fatale feita para a revista nórdica Fashion and Arts. Entre telas a óleo, aquarelas e desenhos originais, reproduções das suas obras mais conhecidas serão vendidas a R$ 50, autografadas.

Mais obras de Shiko no blog da produtora Cláudia Aires e no Flickr do artista.

Serviço
Exposição de Shiko
Quando: Hoje, às 20h
Onde: Bar Central (Rua Mamede Simões, 144 - Boa Vista)
Informações: 8175-7208

(Diario de Pernambuco, 17/01/2011)

UFPE promove curso sobre expressionismo alemão


Metropolis, de Friz Lang, será um dos filmes estudados

O cinema e a história da Alemanha dos anos 1920 será tema do curso de extensão O expressionismo alemão e a República de Weimar. As atividades começam na próxima quarta-feira (19) e seguem até a sexta (21), das 9h às 12h e das 14h às 17h, no auditódio do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A organização é do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da democacia da UFPE. O programa inclui palestras, debates, exibição de filmes e o lançamento dos livros Presença das juventudes pernambucanas e Estado e classe operária no Brasil.

De acordo com o professor e cientista político Michel Zaidan, as aulas tratarão deste período específico do pós-guerra alemão para estabelecer diálogo entre as teorias do cinema e da história. ´São linguagens diferentes que apontam para uma crise de paradigmas`, diz Zaidan. ´Na arte, a representação clássica da vida foi subsituída pela alegoria, através do alto contraste entre claro e escuro e pessoas com feições e caráter distorcidos. Isso reflete a crise econômica e política da República de Weimar, que vivia a inflação, o desemprego, a xenofobia e a ascenção do partido Nacional-Socialista`.

Para ilustrar as aulas, no período da tarde serão exibidos os filmes Nosferatu (F.W. Murnau, 1922), Metropolis (Fritz Lang, 1927), O gabinete do Dr.Caligari (Robert Wiene, 1919), Doutor Mabuse (Lang, 1933) e O museu das criaturas de cera (Paul Leni, 1924). Os professores Zaidan, Paulo Cunha, Alexandre Figueirôa e o pesquisador Michel Rocha comentam as obras. O curso é gratuito e é preciso estar vinculado a instituições de ensino; basta se inscrever até segunda-feira, pela manhã, pelo telefone 2126-7351 e email neepd@ufpe.br.

Diario de Pernambuco, 17/01/2010)

sábado, 15 de janeiro de 2011

Coluna de Lançamentos



Político - Há quem entenda a polêmica prisão de Polanski como consequência do teor acusativo deste thriller político premiado com o Urso de Prata de melhor direção no último Festival de Berlim. Ewan McGregor é o fantasma, roteirista sem nome contratado para dar um trato na biografia do ex-premiê britânico vivido por Pierce Brosnan. Polanski manipula seu fantasma, que corre pela própria vida enquanto descobre as relações perversas entre líderes dos EUA / Inglaterra.

O escritor fantasma (Ghost writer, EUA, 2010). De Roman Polanski. 128 minutos. Paris.



Digital - Restaurado para a tecnologia Blu-Ray de imagem HD e som 7.1, o filme-concerto da Disney ganha novo patamar. Obra pioneira no uso de cores e sons, o filme original formato letterbox (4:3) vem acrescido de outro longa, Fantasia 2000 em que a proposta original é estendida para novas peripécias visuais, compostas no compasso de clássicos da música erudita. O ponto alto é Aprendiz de feiticeiro com Mickey Mouse, uma das versões mais famosas do camundongo.

Fantasia (EUA, 1940/2000). 198 minutos. Disney.



Crítico - Esta seleta de críticas de Inácio Araújo é uma aula e tanto. Reunião de textos publicados na imprensa a partir de 1983, há nela um panorama da cultura fílmica desde então e o reencontro com clássicos. O material leva a refletir sobre fazer, assistir e pensar cinema. O texto preciso e suscinto faz renovar a fé na crítica, explicada por ele como a arte de amar e colocar filmes em crise. “Caso contrário, você fica sendo pombo-correio da indústria de cinema, dizendo o que eles querem que seja dito”, disse, em entrevista no prefácio.

Cinema de Boca em Boca – escritos sobre cinema. Organização: Juliano Tosi. 712 páginas. Imprensa Oficial.



Retrospectiva - Os primeiros 15 anos do maior festival de documentários da América Latina em um único volume. Ano a ano, o organizador Labaki comenta a evolução do evento (na primeira edição foram 2 mil espectadores; na última, 25 mil) ao mesmo tempo em que podemos acompanhar o desenrolar da obra de cineastas como Eduardo Coutinho, Cao Guimarães e Marcelo Gomes, que esteve lá na primeira edição, em 1996, com o curta Maracatu, Maracatus.

É tudo cinema - 15 anos de É Tudo Verdade, de Amir Labaki. 304 páginas. Imprensa Oficial.

(Diario de Pernambuco)

Um Gulliver no reino de Jack Black



Impossível imaginar esta adaptação de As viagens de Gulliver sem Jack Black no papel principal. Há graça no filme, principalmente para os que gostam do ator. Fora desse domínio, é um remake que patina e escorrega, ainda que divirta de forma honesta.

Black praticamente ´veste` o filme de Rob Letterman (Monstros vs. Alienígenas), feito sob medida para sua personalidade. De camiseta, bermuda, All Star e iPhone em punho, o aventureiro inglês do romance de Jonathan Swift foi convertido em um norte-americano trintão e 100% inserido na indústria cultural. Não espanta encontrar seres parecidos nos multiplexes onde o filme estreia hoje, em versões 3D sem muita justificativa.

A releitura pós-moderna apresenta um Gulliver sem autoestima, há cinco anos apaixonado pela editora de turismo do jornal onde trabalha discretamente, como ´o cara da expedição`. Para impressionar a garota, ele topa fazer uma reportagem, mas durante a viagem um acidente no Triângulo das Bermudas o faz naufragar em Lilliput, reino de pequenos humanos. Lá ele é recebido primeiro como monstro, depois como herói. A nova condição leva a antagonistas o general Edward (Chris O'Dowd), pretendente ao trono via casamento com a princesa Mary (a linda Emily Blunt) e o povo inimigo dos Blefuscianos. Seu aliado é Horatio (Jason Segel), jovem tímido e apaixonado pela princesa.

O tom de fábula pop vem do comportamento formal e de estranhamento dos lilliputianos enquanto Gulliver adapta ´maravilhas` contemporâneas como latas de Coca-cola, o Guitar Hero e o home theater literalmente vertido em teatro com versões de Star Wars, Avatar e Titanic distorcidas a seu favor.

Apesar dos perigos, nada realmente ameaça o herói, que age como se estivesse num parque de diversões, não por acaso, comportamento semelhante com boa parte do público responsável pela bilheteria.

(Diario de Pernambuco, 14/01/2011)

Cartaz oficial da 61ª Berlinale

De volta ao batente!



Após o descanso necessário, estou de volta às atividades do jornalismo diário. Aquele feito caldo de cana.

Em meio a filmes comerciais e independentes, festivais e notícias da cena cultural do Recife, reproduzo neste blog (quase) tudo o que escrevo para o Diario de Pernambuco, outras casas editoriais e parceiros com quem colaboro. Quando o tempo permite, também uma prosa sem pressa.

FELIZ 2011 para todos!