sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Uma pernambucana no Oscar
Não é megalomania: Karen Harley é a primeira diretora pernambucana a ter um filme indicado ao Oscar. Ao lado da inglesa Lucy Walker e do carioca João Jardim (Pro dia nascer feliz), ela assina Lixo extraordinário, documentário sobre as intervenções do artista plástico Vik Muniz no aterro sanitário de Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro. Para quem não assistiu ao filme, ele fez um trabalho parecido na abertura da novela Passione. A direção compartilhada não diminui a importância da Karen no processo de criação do longa. Lucy deixou o projeto após dez dias de filmagem para se dedicar a Countdown, seu projeto pessoal. Após certo ponto, João também teve que sair, o que levou Karen a assumir o leme da produção.
"Isso gerou muitos caminhos e muito material", diz Karen, por telefone, do Rio de Janeiro. "Lucy esteve bem no começo das filmagens, depois mandamos o corte final para a Inglaterra, onde ela retrabalhou os primeiros 30 minutos".
Lixo extraordinário é uma co-produção entre a O2 Filmes (de Fernando Meirelles) e Almega Projects, do inglês Miel de Botton Aynsley, de quem partiu a ideia do filme. Por questões contratuais, Lucy assina a direção e Karen e Jardim a codireção. "Mas o filme é dos três. Na verdade, Lucy foi quem menos trabalhou no projeto", revela a diretora.
Mais conhecida como montadora para cinema e TV, este é o primeiro longa dirigido por Karen. Filha de estrangeiros (pai norte-americano e mãe alemã), ela nasceu no Recife, terra pela qual o pai se apaixonou, mas vive no Sudeste desde 1985. "Saí pra ver o Rock in Rio e nunca mais voltei", conta.
Quando começou a trabalhar com edição não havia o método não-linear, apenas o método do corte seco. "Fui aprendendo na prática, com grandes montadores, como João Paulo de Carvalho e Mair Tavares, que foram meus mestres". Com Mair, Karen montou seu primeiro filme em película, Veja essa canção, do Cacá Diegues. Depois vieram O quatrilho, de Fábio Barreto (derrotado no Oscar para A excêntrica família de Antonia).
A relação com a terra natal foi retomada profissionalmente quando Karen assumiu a montagem dos longas de Claudio Assis e Marcelo Gomes. Seu último trabalho foi em A febre do rato, de Assis, e semana passada ela começou novo processo em Era uma vez Verônica, de Gomes. Outro trabalho recente foi com o finlandês Mika Kaurismäki, o documentário para a TV Mama Africa, sobre a cantora Miriam Makeba.
Expectativa - Lixo extraordinário foi indicado ao Oscar após vencer o prêmio do público em Sundance, Berlim e Paulínia (SP). Karen acredita que isto, somado à importância artística e social do filme, convenceram aos membros da Academia a incluir Waste Land (nome internacional do filme, em referência a poema de T.S. Eliot) entre os favoritos. Falado em inglês e português, com trilha sonora de Moby, o filme centra na interação de Vik Muniz, que vive nos Estados Unidos, com os catadores de lixo de Jardim Gramacho.
"A gente quer muito que Tião (Santos), o presidente da associação dos catadores, esteja na cerimônia do dia 27. Caso o filme vença, é ele quem merece receber a estatueta. Mais ainda porque o Jardim Gramacho vai fechar em 2012 e tem uma questão social pra ser resolvida aí", diz Karen. Com admiração, ela diz que Tião cita Nietschze e também O príncipe, de Maquiavel, no filme, comparando os textos à situação do Rio de Janeiro. "A alma do filme está nos catadores, que são pessoas bonitas, dignas, carismáticas, inteligentes e bem humoradas".
Karen não assistiu aos filmes que concorrem com Lixo extraordinário, mas ouviu falar bem de Exit trough a gift shop, do grafiteiro britânico Banksy. Com uma abordagem bem diferente, ele questiona os mecanismos que regem a arte contemporânea. Não deixa de ser a lógica pela qual Hollywood tem se reinventado ao longo dos anos.
(Diario de Pernambuco, 28/01/2011)
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2 comentários:
central do brasil que perdeu pra a vida é bela no oscar
É verdade, Lucs, O quatrilho perdeu para A excêntrica família de Antonia. Informação corrigida, obrigado!
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