sábado, 22 de janeiro de 2011

Zé Colmeia - o filme ou sobre a necessidade de defender a memória afetiva



Em mês de férias escolares, Zé Colmeia - o filme (Yogi Bear, EUA, 2010) funciona como uma boa peça de entretenimento. E, ponto a favor, não pretende ser mais do que isso. Até o tempo de duração, menos de 90 minutos, contribui para um espírito de leveza (para o espectador) e lucro (mais sessões por dia).

O filme de Eric Brevig (Viagem ao centro da Terra) se apropria com mérito da dinâmica do desenho animado criado em 1958. Sedentário, cuca fresca e guloso assumido, Zé Colmeia e seu escudeiro Catatau se tornaram um dos maiores sucessos da Hanna Barbera. Meio século depois, eles ganharam upgrade digital, com os mesmos vícios e virtudes, os principais: caçar cestas de piquenique para estocar na caverna e manter a amizade fiel que sentem um pelo outro.

Expert em efeitos visuais (trabalhou em Vingador do futuro, Homens de preto, O dia depois de amanhã e mais 25 filmes), Brevig coloca ursos animados no mundo real, interagindo com atores. Personagens caricatos e a estrutura cômica sãoos mesmos, contemporaneizados com a política que vincula ambições de poder com hipocrisia ecológica.

O vilão declarado é o prefeito da cidade (Andrew Daly), que pretende ganhar popularidade com o loteamento do Jellystone, que há dez anos não consegue pagar as contas. Com a venda, cada cidadão ganha mil dólares e o prefeito pode chegar a governador. A reação do guarda Smith (Tom Cavanagh) é promover uma festa e atrair os amigos do parque, que acaba de completar 100 anos. Mas o prefeito aproveita o comportamento desastrado de Zé Colmeia para sabotar o evento.

Em defesa de Jellystone surge uma nova personagem, a loira Rachel (Anna Faris), que chega ao local para fazer um documentário e logo se identifica com a causa e seus heróis.

Se por um lado o público brasileiro perde com a versão dublada (em que as vozes de Dan Aykroyd e Justin Timberlake são trocadas por um afetado carioquês), ao menos foi preservado o timbre do dublador original, Older Cazarré. Que seja registrado o vacilo na dublagem do Catatau, que não diz mais o característico ´Seu gualda`. Para a velha geração, faz falta.

Da mesma forma que a ideia de ter o Parque Jellystone fechado soa ameaçadora a todos os que ele um dia habitaram. É importante que ele continue a existir, mesmo que não se pense mais nisso.

(Diario de Pernambuco, 22/01/2011)

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