sábado, 15 de janeiro de 2011

Um Gulliver no reino de Jack Black



Impossível imaginar esta adaptação de As viagens de Gulliver sem Jack Black no papel principal. Há graça no filme, principalmente para os que gostam do ator. Fora desse domínio, é um remake que patina e escorrega, ainda que divirta de forma honesta.

Black praticamente ´veste` o filme de Rob Letterman (Monstros vs. Alienígenas), feito sob medida para sua personalidade. De camiseta, bermuda, All Star e iPhone em punho, o aventureiro inglês do romance de Jonathan Swift foi convertido em um norte-americano trintão e 100% inserido na indústria cultural. Não espanta encontrar seres parecidos nos multiplexes onde o filme estreia hoje, em versões 3D sem muita justificativa.

A releitura pós-moderna apresenta um Gulliver sem autoestima, há cinco anos apaixonado pela editora de turismo do jornal onde trabalha discretamente, como ´o cara da expedição`. Para impressionar a garota, ele topa fazer uma reportagem, mas durante a viagem um acidente no Triângulo das Bermudas o faz naufragar em Lilliput, reino de pequenos humanos. Lá ele é recebido primeiro como monstro, depois como herói. A nova condição leva a antagonistas o general Edward (Chris O'Dowd), pretendente ao trono via casamento com a princesa Mary (a linda Emily Blunt) e o povo inimigo dos Blefuscianos. Seu aliado é Horatio (Jason Segel), jovem tímido e apaixonado pela princesa.

O tom de fábula pop vem do comportamento formal e de estranhamento dos lilliputianos enquanto Gulliver adapta ´maravilhas` contemporâneas como latas de Coca-cola, o Guitar Hero e o home theater literalmente vertido em teatro com versões de Star Wars, Avatar e Titanic distorcidas a seu favor.

Apesar dos perigos, nada realmente ameaça o herói, que age como se estivesse num parque de diversões, não por acaso, comportamento semelhante com boa parte do público responsável pela bilheteria.

(Diario de Pernambuco, 14/01/2011)

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