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Impossível imaginar esta adaptação de As viagens de Gulliver sem Jack Black no papel principal. Há graça no filme, principalmente para os que gostam do ator. Fora desse domínio, é um remake que patina e escorrega, ainda que divirta de forma honesta.
Black praticamente ´veste` o filme de Rob Letterman (Monstros vs. Alienígenas), feito sob medida para sua personalidade. De camiseta, bermuda, All Star e iPhone em punho, o aventureiro inglês do romance de Jonathan Swift foi convertido em um norte-americano trintão e 100% inserido na indústria cultural. Não espanta encontrar seres parecidos nos multiplexes onde o filme estreia hoje, em versões 3D sem muita justificativa.
A releitura pós-moderna apresenta um Gulliver sem autoestima, há cinco anos apaixonado pela editora de turismo do jornal onde trabalha discretamente, como ´o cara da expedição`. Para impressionar a garota, ele topa fazer uma reportagem, mas durante a viagem um acidente no Triângulo das Bermudas o faz naufragar em Lilliput, reino de pequenos humanos. Lá ele é recebido primeiro como monstro, depois como herói. A nova condição leva a antagonistas o general Edward (Chris O'Dowd), pretendente ao trono via casamento com a princesa Mary (a linda Emily Blunt) e o povo inimigo dos Blefuscianos. Seu aliado é Horatio (Jason Segel), jovem tímido e apaixonado pela princesa.
O tom de fábula pop vem do comportamento formal e de estranhamento dos lilliputianos enquanto Gulliver adapta ´maravilhas` contemporâneas como latas de Coca-cola, o Guitar Hero e o home theater literalmente vertido em teatro com versões de Star Wars, Avatar e Titanic distorcidas a seu favor.
Apesar dos perigos, nada realmente ameaça o herói, que age como se estivesse num parque de diversões, não por acaso, comportamento semelhante com boa parte do público responsável pela bilheteria.
(Diario de Pernambuco, 14/01/2011)
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